Sessenta e dois

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Alfonso observava enquanto Anahí pegava uma taça de vinho e vinha até ele na varanda de trás. Mac e Jamie tinham ido dar uma volta perto do rio. Ideia de vovó, não deles. Mas os dois aceitaram, para deixá-la feliz, como fazia a maioria das pessoas, e disseram que voltariam mais tarde para planejar o café da manhã do dia seguinte.

— Então. — Alfonso bateu a taça na de Anahí. — Onde vamos passar a lua de mel? Quer dizer, você teoricamente foi demitida, então podemos passar o mês inteiro fora, se quiser.

Ela deu uma risadinha.

— Simples assim? Pegamos o primeiro avião para qualquer lugar?

— É. — ele se inclinou para beijá-la. — Simples assim.

— Mas eu não tenho passaporte.

Ele deu de ombros.

— Então dá para esperar ele ficar pronto, e saímos de Seattle, ou podemos viajar aqui pelos Estados Unidos mesmo.

Havaí. — Nervosa, ela olhou para o outro lado e tomou um gole de vinho.

— Posso perguntar por que o Havaí?

Ela se inclinou para trás, apoiando-se nas mãos. O luar brilhava em sua pele bronzeada, e ela fechou os olhos e suspirou.

— Meus pais sempre prometeram que me levariam para conhecer. Primeiro, depois de terminar a escola, mas aí aconteceu alguma coisa e virou depois da faculdade, e... Bem, dá para imaginar. Sempre foi uma promessa vazia. E eu sempre quis ir.

Deus do céu, como ele a amava! Compraria o Havaí inteiro para ela, se fosse possível.

— Então, combinado: Havaí. — Ele a beijou na bochecha.

— Crianças? — Vovó abriu a porta dos fundos e saiu — Aqui estão vocês! Estava procurando os dois. — Ela pegou uma cadeira e se sentou. — Então, sei que meus métodos nem sempre são corretos.

— Bem, esse é o eufemismo do século — retrucou Alfonso.

Babaca. — Ela estreitou os olhos. — De qualquer forma, eu gostaria de pedir desculpas.

— É mesmo? — ele se inclinou para a frente, apoiando as mãos nas coxas, e sorriu. — Por quê?

— Por tudo.

— Que seria... — insistiu ele. — O quê, exatamente?

Vovó desviou os olhos e respondeu, em um tom irritado.

— A dança do acasalamento, mas, em minha defesa, tive que ter certeza de que vocês sentiriam a tensão.

— Ah, nós sentimos! — Anahí deu uma risada e, notando o olhar irritado do marido, recuperou a compostura.

—E?—olhou para a avó.

— O presente da farmácia. — A velha senhora fungou.

— Certo. — Alfonso soltou um palavrão. — Muito obrigado, aliás.

— Ah, seu bobo! Você precisava passar por algumas dessas, ou muitas. Conte, eles usaram o sistema de som para pedir a camisinha no balcão? Estava torcendo para que isso acontecesse!

Ele a ignorou e balançou a cabeça.

— E o que mais, vovó? Pelo que você está realmente pedindo desculpas?

— Enganar vocês para que assinassem uma licença de casamento. Mas vocês sabem a quantidade de leis que tive de quebrar para isso? O dinheiro que passou de mão em mão, os favores que pedi! — Ela se levantou e começou a andar de um lado para outro
— Ora, tive até que fazer doação para a droga da Câmara de Comércio!

— Estou comovido — comentou o neto, seco.

— E tudo isso para fazer um favor a vocês dois.

Depois de alguns segundos, Alfonso finalmente respondeu.

— Você está certa.

— Estou? — Vovó levantou a cabeça de supetão. — Quer dizer, sim, sim, estou. E não se esqueça disso! Agora, onde é que está aquela sua irmã querida, Annie?

— Ah, não. — Alfonso agarrou a mão da avó e a empurrou de volta para a casa. — Seus dias de cupido acabaram.

— Mas...

— Vá para cama. Agora. E sozinha, ou vou pegar aquele apito.

— Você não se atreveria a perturbar meu santuário!

— Me atreveria sim, e é o que vou fazer. Você merece isso e muito mais.

Com a cabeça erguida, ela entrou na casa batendo os pés, os saltos fazendo barulho no piso de madeira até o fim do corredor.

— Você queria que tivesse sido diferente? — perguntou Anahí, atrás dele.

Alfonso se virou e a puxou para um abraço.

— Não. Nunca. Sem dúvida. E você?

Espero desde o nono ano para ser sua namorada, posso muito bem ser sua esposa. — e o beijou.

Fim.

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