Sessenta e um

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— Está pronta? — sussurrou Alfonso, no ouvido de Anahí. Ela balançou a cabeça.

Como alguém poderia estar pronto para aquilo? Eles iam fazer a droga da dança do acasalamento na frente de todo o mundo, embora a dança não remetesse diretamente àquilo — estava mais para um tango, mas ainda assim. Não conseguia entender por que vovó estava forçando os dois a se apresentarem, mas lá estavam, no meio da pista de dança, esperando a música começar. Então vovó pigarreou ao microfone.

— Ah, não — sussurrou ela. — Isso não pode ser bom. Ela vai cantar durante a dança?

— Não acho que dê para ficar pior — murmurou ele.

— Essa coisa está ligada? — Vovó deu batidinhas no microfone, provocando um barulho agudo, então deu uma risada bem alta. — Ah, adoro tecnologia!

— É, vovó, nós sabemos — disse Anahí.

— Estou tão feliz em ver meus dois netos casados! A dança que vai começar foi minuciosamente planejada. Cada movimento tem um significado.

— Eu estava brincando — disse Alfonso. — Acabou de ficar pior. Ela vai explicar o ritual do acasalamento.

— O primeiro giro — começou vovó — significa o amor verdadeiro. O segundo, uma vida feliz para sempre nos braços um do outro. Os ancestrais acreditam que essa dança remeta aos ciganos. Eles acreditavam que uma dança poderia unir duas pessoas para sempre, apesar do lugar onde foram criadas, da raça, de feridas passadas...

Enquanto vovó continuava a falar, os olhos de Anahí se arregalaram, assim como os de Alfonso.

— Então, meu presente de casamento para Annie e Poncho é essa dança. Que eles aprenderam há algumas semanas. Surpresa! E aproveitem!

A música começou.

Anahí não conseguiu se mexer.

Vovó tinha planejado tudo, a dança e todo o restante. Tinha certeza disso. Ela engoliu o nó na garganta quando o marido caminhou ao seu redor e a puxou para os braços dele. Ele a girou uma, duas vezes, sempre a encarando com tanta intensidade que teria sido impossível não se apaixonar de novo e de novo. Cada vez que ele a girava, a via uma nova parte daquele sorriso que a encantava, que dizia "eu amo você" e "eu quero você".

Ele a puxou para mais perto enquanto ela envolvia a cintura dele com uma das pernas e se curvava para trás. Ele deu um beijo no pescoço dela e a girou outra vez. O resto da dança era cara a cara.

Alfonso se inclinou para a frente, e seus lábios roçaram a bochecha dela.

— Eu sentiria a sua falta, mesmo que nunca a tivesse conhecido. Sentiria a sua falta, porque saberia que uma parte de mim nunca estaria aqui.

Ela prendeu a respiração.

— Mesmo se eu nunca tivesse conhecido você.... Eu ainda a desejaria.

Ele passou os dedos pelos ombros dela e puxou sua cintura ainda mais para perto.

— Mesmo agora, sinto sua falta. — Os lábios dele roçaram sua orelha. — Porque, cada vez que toco sua pele, parece que você não está perto o bastante. Meu corpo dói, pedindo que a gente se aproxime mais. Mas, mesmo quando não tem nada além da pele a nos separar, meu desespero não diminui. Nunca vai diminuir. Porque o que eu desejo é a sua própria essência.

A dança terminou com os dois se encarando.

Anahí fechou os olhos enquanto puxava o rosto de Alfonso mais para perto, passando os braços em volta de seu pescoço. Os dois estavam lá, parados. Os lábios deles se encontraram com suavidade, então ele suspirou.

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