Quarenta e dois

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Anahí ficou encarando a porta fechada, atônita.

O que tinha acabado de acontecer?

Alfonso havia mesmo acabado de lhe dar conselhos sobre como ser uma boa amiga? Depois de a iludir e levar Amy para um quarto, para que eles se pegassem? Aquele cara não fazia o menor sentido! E ainda tinha tido a audácia de dizer que o que ela supostamente estava fazendo era algo baixo? Ela nem ia fazer as entrevistas! Tinha decidido sacrificar o emprego — um emprego do qual ela por acaso precisava para sobreviver — porque não queria trair os amigos.

O imbecil não tinha nem mesmo lhe dado a chance de se explicar! Mais uma vez, a atitude arrogante de sabe-tudo de Alfonso tinha vindo à tona, deixando-a confusa e de coração partido. Anahí o vira beijando com vontade sua inimiga número um, e ele é que lhe dava um sermão, como se fosse ela quem tivesse partido o seu coração!

Como sempre tivera dinheiro, Alfonso nunca entenderia a hesitação entre fazer e não fazer a reportagem. Ele não percebia como coisas básicas — ter dinheiro para pagar o aluguel, comer, não decepcionar os pais mais uma vez! — podiam ser tentadoras.

Com um gemido, ela se jogou na cama e xingou Alfonso Herrera de todos os nomes possíveis. Aquilo estava virando um hábito. Talvez, se o xingasse o suficiente, seu coração parasse de doer.

Tão perto, mas tão longe.

Alfonso quase não dirigiu a palavra a Anahí durante o sábado. Na verdade, só se falaram quando ele pediu para usar o fio dental, naquela manhã. Ela o balançou na frente dele, esperando que Alfonso fizesse alguma piada. Em vez disso, ele o pegou, passou nos dentes e saiu do quarto.

E, para piorar as coisas, Anahí tinha acabado de ser demitida.

O prazo chegara ao fim. Era possível que sua carreira de repórter estivesse arruinada. Ela olhou o relógio de pulso. Já eram cinco da tarde, e Maite e Andres ainda não tinham voltado da cidade. Os dois haviam saído para resolver algum problema de última hora.
Ela tentou ligar para o celular da amiga outra vez, mas ninguém atendeu.

Todos estavam ficando inquietos. Anahí começou a andar de um lado para outro em frente ao terraço.

Meia hora depois, vovó atravessou a porta.

— Eles não vão conseguir chegar a tempo para o ensaio — avisou. — Os pneus furaram.

— Pneus? Furou mais de um? — perguntou Alfonso, levantando-se do banco de madeira.

— Infelizmente, sim. Parece que alguém os cortou.

Petunia sacudiu a cabeça.

Portland está cheia de gângsteres. Deve ter sido um desses marginais.

— É. — Alfonso deu um sorriso sarcástico. — Porque conhecemos muitos gângsteres que querem acabar conosco.

Petunia enrijeceu.

— Vamos ter que continuar sem eles. — Vovó esfregou as mãos. — Annie, você é a dama de honra. Vai substituir Maite. Poncho, como padrinho, você fica no lugar de Andres.

Anahí sentiu o estômago revirar. Deus era mesmo cruel. O único cara por quem ela se apaixonara desde a escola ocupava o lugar do noivo, só que não de verdade. Outra vez tão perto. Sentiu um aperto no coração ao encará-lo, porque sabia que aquilo nunca aconteceria de verdade.

Era alguma piada horrível do Universo.

Ela seguraria a mão de Alfonso. Ele fingiria colocar um anel na dela. E, depois, ele iria embora.

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