Doze

185 16 3
                                    

Marichello estalou os dedos na frente do rosto de Anahí.

— Ei, você ouviu alguma coisa do que eu disse?

A loira sentiu as bochechas ficarem coradas enquanto tomava um longo gole do vinho.

— Claro, você estava falando sobre o trabalho — Não era nenhuma novidade. O trabalho de Marichello, que era química em um laboratório médico, sempre rendia histórias sem graça

— E?

Anahí pôs a taça na mesa, pegou o garfo e espalhou um pouco da salada pelo prato.

— E? Continue!

A irmã suspirou.

— Sério? Acabei de listar os elementos da tabela periódica, e você ainda quer mais?

Anahí soltou uma risada curta e se inclinou para a frente.

— Não me surpreende o fato de eu ter parado de ouvir.

— Onde você está com a cabeça? Hoje é a noite das garotas! Lembra? Comida? Bebida? Diversão?
Ah, você sabe! Onde a cabeça de qualquer outra garota estaria. Alfonso Herrera, tocando seu peito musculoso, passando a língua por seu lábio inferior e...

— Alguém disse "noite das garotas"? — Uma voz conhecida se fez ouvir no restaurante. Anahí se virou e deu de cara com vovó. Bem, vovó e uma jaqueta dourada ofuscante, com pele de leopardo no colarinho. A calça jeans skinny era realçada por sapatos de salto com estampa de oncinha.

— Como você...?

— Ah. — Vovó a calou com um gesto e se sentou à mesa. — Hoje em dia existem aplicativos para tudo. Sabia?

— Sim, mas...

— De qualquer forma... — Vovó acenou para um garçom e pediu três shots de tequila. Era melhor ela beber aquilo sozinha: de jeito nenhum Anahí tomaria shots com a avó de Poncho! — Tem um aplicativo muito útil que se chama "Encontre Meus Amigos"!

Anahí pegou o celular.

— Nem sabia que tinha isso no telefone. Nem que você era...

Vovó deu de ombros como se estivesse querendo disfarçar um segredo.

— É assim que vigio as vagabundas do Poncho.

Marichello engasgou com a bebida, molhando toda a mesa, e então começou a tossir. Vovó bocejou e examinou as unhas, sem se deixar abalar pela reação dela. Anahí olhou de cara feia para a irmã e se virou outra vez para vovó.

— Tenho certeza de que o aplicativo foi criado para que ninguém se preocupasse com os amigos e os familiares, não para que as pessoas fossem perseguidas.

— Ah, bem. Cada um usa como quiser. — Vovó pôs o telefone na mesa e clicou na tela com um dedo. Depois clicou outra vez, e outra.

Mac tentou dizer alguma coisa à irmã apenas mexendo os lábios, mas Anahí não conseguiu entender. O garçom serviu os shots no instante em que vovó se endireitou, batendo palmas.

— Eu sabia!

Marichello parecia estar entorpecida enquanto via a velha senhora bater palmas e erguer o celular no ar.

— Ele vai chegar logo.

— Desculpe, mas quem é você, mesmo? — perguntou a irmã de Anahí.

— Sou a vovó. — Aquilo foi dito com tanta normalidade, que Anahí teve de admirá-la. Quer dizer, será que havia outro jeito de descrever aquela mulher? Dizer "sou a vovó" devia cobrir todos os pecados. — Saúde! — Vovó pegou seu shot, ergueu-o no ar e então olhou para as duas irmãs.

Simple PastOnde histórias criam vida. Descubra agora