Trinta e dois

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— Poncho? — A voz de Andres soava abafada. — Ouviu alguma coisa do que eu disse?

Não, foi mal, estava olhando aquelas pernas. Um par de pernas, para ser exato, que pertencia a uma linda loira de belos olhos azuis e um sorriso eletrizante, desses que poderiam matar um homem.

— Claro, despedida de solteiro. Estou dentro.

— Nada de strippers. — Isso veio de Maite.

Alfonso assentiu em concordância, ainda mantendo os olhos nas pernas de Anahí, que, a alguns metros dos dois, conversava com a mãe dele. Andres estalou os dedos na frente do rosto do irmão.

— Recomponha-se, homem. Se não tomar cuidado, vai começar a babar.

Tarde demais.

— Foi mal, estou distraído. — Ele pigarreou e se virou para olhar para eles. O irmão parecia irritado. Maite, preocupada. Ah, que ótimo. Ia ouvir aquela conversa outra vez. Para poupar tempo, adiantou-se: — Mai, estou bem. Foi uma noite difícil, com péssimas escolhas. Estou melhor, e estou bebendo água, não álcool. Sério, você não é a minha mãe. — Aquilo soou mais duro do que ele tinha planejado, tanto que Andres deu um passo à frente. Mas Maite deteve o noivo com um gesto.

Então seus olhos seguiram o olhar dele, que encarava Anahí mais uma vez. Resmungando, ela entregou a bebida ao noivo e, agarrando a orelha de Alfonso, puxou-o para fora da casa.

— Ai! Que isso, Mai!

— Você dormiu com ela!

— Quê? Quem?

— Annie!

— Sim! — Os olhos dela se arregalaram, ficando com o dobro do tamanho normal. — Não, quer dizer, foi há muito tempo.

Mas que merda! Ele estava suando.

Maite soltou sua orelha e cruzou os braços.

— Faz quanto tempo?

— Um ano, mais ou menos. — Ele olhou para o chão. — Foi um erro.

— Você! — Maite pôs o dedo no peito de Alfonso com força, quando ele tentou fazer com que ela falasse mais baixo. — Você foi o cara com quem ela passou a noite antes da história do vídeo no YouTube!

— Sim, fui eu. Sou culpado.

— E em mais de um aspecto.

Com um olhar de reprovação, Maite sacudiu a cabeça.

— Eu devia ter imaginado. Todos os sinais indicavam um Herrera.

— Sinais?

— Sim: a bebedeira, a libertinagem, a irresponsabilidade, a TV...

Ele ergueu as mãos como se para pedir que ela parasse.

— Está bem, já entendi. Mas eu não fiz mais nada desde aquele dia, e você sabe disso.

Maldita fosse, por tê-lo pegado no flagra! Quando Alfonso ficara bêbado na sua festa de noivado, Maite disse que ele precisava tomar jeito, ou acabaria morrendo na cama de uma prostituta. E ela estava falando sério. Ele tentava fazer a coisa certa. Mas parecia que, sempre que tentava, o resultado era desastroso. Era tão mais fácil tomar o outro caminho, agir de acordo com as expectativas alheias, o que significava ser irresponsável e despreocupado. Quando tentou ser sério e responsável, as pessoas perguntaram se ele estava bêbado. Essa situação era vergonhosa e despertava nele a vontade de se encolher, de se afastar e voltar aos velhos hábitos.

— Você está com aquela cara — disse Maite, interrompendo seus pensamentos deprimentes.

— Cara? Que cara? — ele tentou mudar a expressão, mas falhou miseravelmente quando Anahí passou pela janela.

— Aquela cara! — Maite cutucou outra vez seu peito. — Está se apaixonando por ela!

— Não estou, não!

— Está, sim!

Ele esfregou o rosto com uma das mãos e soltou um palavrão.

— Será que você pode agir como adulta?

— Disse o cara que dormiu com duas gêmeas bêbadas ontem à noite.

— Não dormi — admitiu ele, tossindo. — Não consegui... quer dizer... não queria, e não dormi.

— Não conseguiu ou não queria?

Alfonso sentiu o rosto corar.

— Os dois. — Droga, talvez ele estivesse mesmo precisando de Viagra! Que pensamento deprimente! Quantos anos tinha, 23?

— Se você a fizer sofrer... — Maite apertou mais o dedo em seu peito — ... corto fora seu...

— Está na hora do jantar! — anunciou vovó, abrindo a porta para a varanda.

Maite se virou e respondeu:

— Estamos indo, vovó! — Então olhou irritada para ele e completou: — Use sua imaginação.

— Dedo? Você corta fora meu dedo? — perguntou ele, baixinho.

Você é um babaca. — Ela passou o braço pelo dele enquanto contornavam a casa para chegar ao gazebo lá fora, onde o jantar seria servido.

Alfonso suspirou.

— Já me disseram isso, várias e várias vezes.

Maite parou de andar e suspirou.

— Você não está cansado disso? — Os olhos dela encontraram os dele, suplicantes, e, pela primeira vez na vida, Alfonso não conseguiu usar a máscara de indiferença habitual, que os homens inseguros usam quando tentam ignorar o mundo e viver a própria vida. Com um profundo calafrio, ele deu de ombros. Era tudo o que conseguia fazer. Encontrar palavras parecia difícil demais.

Maite olhou para o gazebo, onde Anahí entrava de braços dados com Jamie.

— Odeio perder, então saiba que só estou dizendo isto porque amo você. Mas...

Alfonso esperou.

— O amor sempre vale a pena.

Tendo dito isso, Maite ficou na ponta dos pés e beijou a bochecha de Alfonso. Em seguida, foi para perto de Andres, que a esperava.

Foi aqui que pediram maratona?
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