— Poncho? — A voz de Andres soava abafada. — Ouviu alguma coisa do que eu disse?
Não, foi mal, estava olhando aquelas pernas. Um par de pernas, para ser exato, que pertencia a uma linda loira de belos olhos azuis e um sorriso eletrizante, desses que poderiam matar um homem.
— Claro, despedida de solteiro. Estou dentro.
— Nada de strippers. — Isso veio de Maite.
Alfonso assentiu em concordância, ainda mantendo os olhos nas pernas de Anahí, que, a alguns metros dos dois, conversava com a mãe dele. Andres estalou os dedos na frente do rosto do irmão.
— Recomponha-se, homem. Se não tomar cuidado, vai começar a babar.
Tarde demais.
— Foi mal, estou distraído. — Ele pigarreou e se virou para olhar para eles. O irmão parecia irritado. Maite, preocupada. Ah, que ótimo. Ia ouvir aquela conversa outra vez. Para poupar tempo, adiantou-se: — Mai, estou bem. Foi uma noite difícil, com péssimas escolhas. Estou melhor, e estou bebendo água, não álcool. Sério, você não é a minha mãe. — Aquilo soou mais duro do que ele tinha planejado, tanto que Andres deu um passo à frente. Mas Maite deteve o noivo com um gesto.
Então seus olhos seguiram o olhar dele, que encarava Anahí mais uma vez. Resmungando, ela entregou a bebida ao noivo e, agarrando a orelha de Alfonso, puxou-o para fora da casa.
— Ai! Que isso, Mai!
— Você dormiu com ela!
— Quê? Quem?
— Annie!
— Sim! — Os olhos dela se arregalaram, ficando com o dobro do tamanho normal. — Não, quer dizer, foi há muito tempo.
Mas que merda! Ele estava suando.
Maite soltou sua orelha e cruzou os braços.
— Faz quanto tempo?
— Um ano, mais ou menos. — Ele olhou para o chão. — Foi um erro.
— Você! — Maite pôs o dedo no peito de Alfonso com força, quando ele tentou fazer com que ela falasse mais baixo. — Você foi o cara com quem ela passou a noite antes da história do vídeo no YouTube!
— Sim, fui eu. Sou culpado.
— E em mais de um aspecto.
Com um olhar de reprovação, Maite sacudiu a cabeça.
— Eu devia ter imaginado. Todos os sinais indicavam um Herrera.
— Sinais?
— Sim: a bebedeira, a libertinagem, a irresponsabilidade, a TV...
Ele ergueu as mãos como se para pedir que ela parasse.
— Está bem, já entendi. Mas eu não fiz mais nada desde aquele dia, e você sabe disso.
Maldita fosse, por tê-lo pegado no flagra! Quando Alfonso ficara bêbado na sua festa de noivado, Maite disse que ele precisava tomar jeito, ou acabaria morrendo na cama de uma prostituta. E ela estava falando sério. Ele tentava fazer a coisa certa. Mas parecia que, sempre que tentava, o resultado era desastroso. Era tão mais fácil tomar o outro caminho, agir de acordo com as expectativas alheias, o que significava ser irresponsável e despreocupado. Quando tentou ser sério e responsável, as pessoas perguntaram se ele estava bêbado. Essa situação era vergonhosa e despertava nele a vontade de se encolher, de se afastar e voltar aos velhos hábitos.
— Você está com aquela cara — disse Maite, interrompendo seus pensamentos deprimentes.
— Cara? Que cara? — ele tentou mudar a expressão, mas falhou miseravelmente quando Anahí passou pela janela.
— Aquela cara! — Maite cutucou outra vez seu peito. — Está se apaixonando por ela!
— Não estou, não!
— Está, sim!
Ele esfregou o rosto com uma das mãos e soltou um palavrão.
— Será que você pode agir como adulta?
— Disse o cara que dormiu com duas gêmeas bêbadas ontem à noite.
— Não dormi — admitiu ele, tossindo. — Não consegui... quer dizer... não queria, e não dormi.
— Não conseguiu ou não queria?
Alfonso sentiu o rosto corar.
— Os dois. — Droga, talvez ele estivesse mesmo precisando de Viagra! Que pensamento deprimente! Quantos anos tinha, 23?
— Se você a fizer sofrer... — Maite apertou mais o dedo em seu peito — ... corto fora seu...
— Está na hora do jantar! — anunciou vovó, abrindo a porta para a varanda.
Maite se virou e respondeu:
— Estamos indo, vovó! — Então olhou irritada para ele e completou: — Use sua imaginação.
— Dedo? Você corta fora meu dedo? — perguntou ele, baixinho.
— Você é um babaca. — Ela passou o braço pelo dele enquanto contornavam a casa para chegar ao gazebo lá fora, onde o jantar seria servido.
Alfonso suspirou.
— Já me disseram isso, várias e várias vezes.
Maite parou de andar e suspirou.
— Você não está cansado disso? — Os olhos dela encontraram os dele, suplicantes, e, pela primeira vez na vida, Alfonso não conseguiu usar a máscara de indiferença habitual, que os homens inseguros usam quando tentam ignorar o mundo e viver a própria vida. Com um profundo calafrio, ele deu de ombros. Era tudo o que conseguia fazer. Encontrar palavras parecia difícil demais.
Maite olhou para o gazebo, onde Anahí entrava de braços dados com Jamie.
— Odeio perder, então saiba que só estou dizendo isto porque amo você. Mas...
Alfonso esperou.
— O amor sempre vale a pena.
Tendo dito isso, Maite ficou na ponta dos pés e beijou a bochecha de Alfonso. Em seguida, foi para perto de Andres, que a esperava.
Foi aqui que pediram maratona?
1/3
VOCÊ ESTÁ LENDO
Simple Past
Fanfiction"Como vai? Quer dizer, faz tanto tempo!" Na verdade, fazia onze meses, uma semana e cinco dias. Mas quem é que estava contando? Não ela. Alfonso Herrera é rico demais, bonito demais e arrogante demais: qualidades que, anos antes, fizeram Anahí Port...