Vinte e três

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— Dá para ir mais rápido? — perguntou Anahí, um pouco irritada por estarem demorando tanto para voltar à cidade. Tinha exatamente quarenta minutos para se arrumar e chegar ao trabalho.

— Claro. Só que serei multado — respondeu Alfonso.

— Acho que você pode pagar.

— Qual é o seu problema? — Ele trocou de faixa. — Estava tudo bem ontem à noite e, de repente, você começou a agir como uma p...

— Se tem amor à vida, não termine essa frase.

— ... como uma peste. — ele abriu um sorriso e ultrapassou um carro.

Ela ignorou o sorriso ridiculamente brilhante e olhou pela janela.

— Está tudo bem, tudo ótimo. Só tenho muito trabalho a fazer, se quiser tirar todo esse tempo de folga para o casamento.

Eles ficaram em silêncio.

Depois de alguns minutos, ele perguntou.

— Foi alguma coisa que eu fiz?

Alguma coisa que ele tenha feito? Será que ele era assim tão burro? Estava brincando com os sentimentos dela, fazendo com que ela se apaixonasse por ele mesmo que ele não tivesse qualquer interesse além da amizade!

— Não — mentiu. — Só estou cansada.

— Desculpe. — Ele entrou com o carro pelo bairro Queen Anne Hill. — Sabe, se foi culpa minha. Não quis chatear você por causa dos seus pais nem fazer com que todos quase fôssemos presos, nem...

— Poncho — interrompeu Anahí. — Foi o melhor aniversário de todos. Eu juro. Só preciso voltar à vida real, sabe?

Meu Deus, como aquilo tinha soado deprimente! Voltar à vida real, na qual ela não era uma princesa, ele com toda a certeza não era seu príncipe e ela trabalhava em um lugar onde todos riam dela por trás das pranchetas. Ele pareceu satisfeito com a resposta, já que não disse mais nem sequer uma palavra. Alfonso apenas estacionou o carro e deixou que ela fosse sem ao menos se despedir.

Era melhor assim. Tinha de ser.

Quando chegou ao trabalho, Anahí já estava dez minutos atrasada e não tinha tomado café da manhã. Algumas pessoas começaram a sussurrar quando ela passou, o que não era assim tão incomum. Ela caminhava até a mesa de trabalho sob os olhares dos colegas. Por favor! Ela não tinha voltado com as mesmas roupas do dia anterior, depois de uma noite de sexo, nem nada! E não porque a ideia lhe tivesse desagradado, na véspera. Argh! Como podia ser tão idiota?

Aquele cara era sua kriptonita: um beijo, e ela ficava sem forças! Ele deveria vir com uma placa de "Perigo!", ou um aviso do Governo, de alerta às mulheres inocentes.

— Oi. — Um homem que ela nunca tinha visto entrou em seu caminho. — Feliz aniversário, Annie. Espero que tenha sido maravilhoso.

— Ah, sim, obrigada. — Sentindo-se desconfortável, ela olhou ao redor e notou que todas as atenções estavam voltadas para ela. Mantendo a cabeça baixa, foi direto para sua mesa.

Estava coberta de rosas. Centenas de rosas amarelas.

Pegou o cartão com as mãos trêmulas. Dentro dele havia um bilhete:

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