Trinta e seis

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Anahí acordou com o som de gritos. Depois da conversa estranha com Alfonso, durante a qual teve ao menos oitenta por cento de certeza de que ele estava bêbado, ela havia fingido estar com dor de cabeça e fora para a cama, dispensando a sobremesa e a noite de jogos em família.

Com um gemido, pegou o celular e olhou a hora.

Uma da manhã? Eles ainda estavam acordados?

Sem pensar, apoiou os pés no chão ao lado da cama, pisando em algo macio. A coisa gemeu, e então soltou um palavrão ao mesmo tempo que puxava os pés dela, fazendo-a cair com um baque sobre si.

— Poncho? — murmurou.

— Não, é algum outro lunático meio bêbado, meio faminto, que fala com gaivotas. Sim, sou eu, Poncho. Quem mais estaria dormindo no chão do seu quarto?

— É verdade.

— Já pode sair de cima de mim. — Ele grunhiu.

— Por que você estava falando com gaivotas?

— Essa foi a parte relevante do que eu disse, na sua opinião? Não vai nem mencionar essa história de eu estar bêbado e com fome? Vai direto para as gaivotas?

Ela se afastou do corpo quente dele e suspirou alto.

— Só simplifiquei as coisas.

— Como assim?

— Que elemento pareceu estranho, no que você disse? A comida sempre acompanha o álcool. Mas falar com gaivotas? Isso não é muito comum.

— Ou você é um gênio ou está bêbada. Não consigo decidir. — Alfonso falava em um tom de voz grave. — Por que você resolveu andar sobre mim? Ou melhor, por que está fora da cama?

— Ouvi um barulho.

— Acho que isso se chama respirar, Annie. Algumas pessoas precisam disso para viver.

— Cale a boca, seu babaca. — Ela o empurrou e andou até a porta. — Foi mais que isso. Parecia um arranhão, ou algo assim.

— Então temos um esquilo por aí. — Ele parecia entediado.

— Você odeia esquilos.

— Deixe que venham atrás de mim! Ouviram isso, esquilos? Estou pronto para vocês! — ele ergueu as mãos e suspirou.

— Quantas cervejas você tomou?

Praguejando, ele se pôs de pé — com alguma dificuldade.

— Óbvio que não o suficiente. Ou ainda estaria desmaiado, em vez de aqui, tendo esta conversa ridícula com você.

Ele ficou sob o luar. A boca dela secou.

Aquele homem era um deus. Como ela pôde esquecer?

O abdômen definido, com músculos que desciam até a parte coberta pelas calças do pijama. Cada pedaço dele era liso e bronzeado. Bonito demais para ser real. Ela deu um passo na direção dele. Era possível que um homem real tivesse sido editado no Photoshop? Ao vivo? Pessoalmente?

Curiosa, ela tocou o tórax dele. Era tão quente e firme! Droga, como o corpo dele era firme!

— Annie? — Ele estava rouco. — Tem certeza de que não está sonâmbula?

Afastando a mão com um sobressalto, ela soltou uma risada nervosa.

— Pensei ter visto, hã, um arranhão. Bem aqui. — Ela apontou para a pele completamente lisa do peito dele.

— Um arranhão? — ele ergueu as sobrancelhas. — Sério? Bem, se está tão preocupada, posso tirar as calças, e então você dá uma examinada geral. Afinal, não seria nada bom se eu não acordasse, amanhã. Ouvi dizer que arranhões podem infeccionar.

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