Oito

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É marrom. — Anahí piscou algumas vezes diante do reflexo no espelho. — Por que o vestido é marrom? — Sério que ela havia tirado um dia de licença médica para ir às compras e se sentir gorda e deprimida em um vestido de dama de honra?

— Porque essa é a cor, querida. — Vovó Nora bebericou o champanhe e inclinou a cabeça. — Mas ficou horroroso. Acha que Maite confundiu as cores?

— Nossa, espero que sim! — Anahí estremeceu ao olhar mais uma vez para o reflexo.

O vestido era de um marrom-alaranjado estranho, como se as folhas que mudam de cor no outono tivessem se esquecido da tonalidade que deveriam assumir e então se tivessem decidido pela mais feia possível. O modelo era um tomara que caia que descia justo até os quadris e, a partir daí, ficava tão largo, que a fazia parecer uma cópia péssima da Maria Antonieta.

Se era esse o tipo de vestido que a coitada daquela mulher fora obrigada a usar, não era de admirar que tivesse sido decapitada. Anahí suspirou enquanto vovó pegava o celular.

— Maite? É a vovó. — Ela gritou tão alto ao telefone, que Anahí se sobressaltou. — Maite! Não estou ouvindo! Ah, só um segundo. — Vovó se levantou e caminhou até a vitrine. — Sim? Está melhor? — A senhora se voltou para a loira a sua frente, ainda com o telefone ao ouvido. — Ah, que lindo! Acho que esse vestido ficaria fantástico em você, Annie! Venha aqui!

Sem muita opção, Anahí se arrastou até o manequim na vitrine.

É um vestido de noiva.

— Eu sei! — Vovó tapou o bocal do celular. — Ficaria lindo em você! Experimente! Só dessa vez, vamos lá! Só vai levar um minutinho! — Vovó gesticulou e a enxotou de lá, indicando-lhe as araras em que estavam expostos todos os vestidos da loja. — Maite! Maite! Desculpe, estava falando com sua amiguinha. Aliás, ela é linda e... Ah, entendo!

Anahí se remexeu, desconfortável, enquanto procurava o vestido nas araras. Seus dedos tocaram a seda delicada. Era um vestido lindo. Mas ela não estava se casando. Será que não daria azar experimentar um vestido de casamento antes de ter um noivo?

— Experimente! — gritou vovó, de novo fazendo Anahí pular de susto. — Que ideia maravilhosa, Maite! Sim. Sim, entendo. Sim. Não. Não, deixe que a vovó aqui fará sua mágica. Sim. Não. Mas, Maite... Certo. Diga a ele que aceito o desafio.

Anahí parou. Se fizesse silêncio, talvez conseguisse ouvir o que tanto Maite e vovó conversavam.

— Xô! Vá experimentar! — Vovó fez um gesto, expulsando-a, e se virou de costas para ela. — Diga a Andres que estou dentro.

Com delicadeza, Anahí puxou o vestido de seda da arara e entrou no provador. Ora! O que tinha a perder, afinal? Rebolou para fora do vestido marrom de dama de honra e desceu com cuidado o zíper do de noiva. Era todo aberto nas costas, o que significava que não poderia ser usado com sutiã. O modelo era frente única, bastante decotado. Depois que fechou o zíper na lateral, ela se olhou no espelho.

Droga! Não queria chorar. Não por causa de um vestido bonito. Engolindo as lágrimas ridículas, Anahí abriu a cortina e subiu na plataforma que havia em frente ao espelho. A sensação do tecido em contato com as pernas nuas era incrível. Ela se virou para um lado e para outro, então ouviu aplausos.

— Tenho uma pergunta — começou uma irritante voz masculina atrás de Anahí. Ela ergueu a cabeça de supetão e viu o reflexo de Alfonso no espelho. — Não dá azar experimentar um vestido de noiva antes de ter um pretendente?

Maldito.

— Não. — Ela o encarou, irritada. — Não dá. Além disso, vovó achou que fosse uma boa ideia.

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