Cinquenta e dois

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— Ela tem muito tempo livre — comentou Alfonso, quando entraram na cozinha. Anahí não precisava de vinho, ainda estava tonta com aquelas horas na cama. Precisava de comida, isso sim.

— Vovó não tem culpa de o passatempo dela ser justamente os netos. — Anahí encontrou as taças e trouxe duas para o balcão no meio da cozinha enorme e luxuosa.

Ele pegou uma garrafa de vinho tinto e serviu os dois.

— Ei — ele mordeu o lábio inferior —, que tal a gente ir para a casa da árvore? Quero lhe mostrar uma coisa.

— Nossa, que garanhão! Aposto que dizia isso a todas, no colégio.

Alfonso revirou os olhos.

— Só pegue sua taça. Vamos lá.

Ela o seguiu, meio boba de felicidade, até a noite fria. Era ridículo, mas sua forma de ver a vida tinha mudado. Talvez fosse porque finalmente estava com o homem que sempre quis. E casada, para ser mais precisa. Não apenas saindo com ele.

Haviam invertido o processo? Sem problema.

— Vamos. — Ele pegou a taça das mãos dela e a colocou no chão da casa da árvore enquanto a ajudava a subir.

Quando estavam no pequeno cômodo, Alfonso acendeu uma vela e soprou o fósforo.

— Pronta para a surpresa?

— Depende. — ela tomou um gole de vinho. — Você vai me contar uma história de terror ou está mesmo planejando uma surpresa?

— Pronta ou não? — Ele se inclinou para a frente e beijou sua boca com vontade.

— Pronta. — Ah, corpo traidor! — Feche os olhos.

Ela fez biquinho.

— Feche!

— Está bem! — Ela fechou os olhos e ouviu alguma coisa ser revirada. Parecia que ele estava segurando um embrulho ou uma sacola.

— Abra a boca.

— Não sei se quero fazer isso, não — respondeu.

— Confie em mim — sussurrou ele.

E, como ele dissera que a amava, e ela finalmente confiava nele, Anahí obedeceu. Abriu a boca.
A primeira coisa que sentiu foi o gosto do creme doce. Abriu os olhos.

— Um Twinkie! — Rindo, ela pegou o bolinho com as mãos. — Por que você guarda Twinkies aqui em cima?

Ele pareceu corar. Ele mordeu o lábio inferior e se sentou ao lado dela. 

— E agora é hora da história...

Ela encostou a cabeça no ombro dele.

— Era uma vez um garoto que conheceu uma garota. Ele a ofendeu por tê-la encarado, então a garota deu um soco na cara dele. — Ela riu, e ele continuou: — Então, um dia, a garota deu a ele um Twinkie. Parece que, no primário, comida é considerada uma oferta de paz. O garoto não teve coragem de dizer à bela garota que não gostava de Twinkies, então os guardou. Cada vez que ela lhe dava um bolinho, ele corria para casa e o escondia na casa da árvore.

Os olhos de Anahí se encheram de lágrimas.

— Como um esquilo?

— Como um esquilo idiota. — Alfonso riu. — Até que, um dia, acabaram os Twinkies. Você sabe, às vezes os garotos crescem e viram uns idiotas. Pensam que, como cresceu um pelo em seus queixos ou descobriram um músculo no braço, de repente não precisam mais das garotas com Twinkies. Pensam que deviam ter muitas garotas, não apenas uma. E aí estragam tudo... — Ele se virou para Anahí e engoliu em seco. — Estraguei as coisas com você tantas vezes... Eu era tão apaixonado por você no ensino fundamental, e de repente foi como se nós dois tivéssemos parado de tentar. Foi a primeira vez que fui embora, meu primeiro erro.

Anahí piscou para conter as lágrimas. 

— E qual foi o segundo?

— Abandonar você outra vez, na noite em que fui egoísta e a usei para me sentir melhor comigo mesmo — ele suspirou. — E o terceiro e último erro na minha história trágica...

— Qual foi? 

— Não beijar você no instante em que a vi outra vez, não pedir desculpas por ter lhe deixado... por ter lhe abandonado, mesmo que, lá no fundo, eu soubesse que era você, que sempre foi você, Annie.

Ela limpou algumas lágrimas que escorriam pelo rosto.

— Mas e Mai? Quer dizer, você e ela foram...

— Não era assim, nunca foi. — Alfonso sacudiu a cabeça. — Nunca. — Ele ficou sério e virou o queixo de Anahí na direção de seus lábios. — Isto é indescritível.

— Ah.

— Uau! Depois de tudo isso, você só responde "ah"?

Ela sorriu e apoiou a cabeça no ombro dele outra vez.

— Bem, estou um pouco cansada depois de toda aquela mímica.

— Que pena. — ele deu uma risadinha. — Tinha mais alguns truques na manga.

— Claro que tinha, bonitão!

Ouviram um barulho no chão perto da casa da árvore. Gesticulando para que ela ficasse quieta, ele olhou por cima da cerca e viu vovó atravessando o gramado até a casa do vizinho.

— O que ela está fazendo? — sussurrou Anahí.

— Parece que está indo para um... joguinho da madrugada — sugeriu Alfonso.

— Com?

— O vizinho. Um velho maluco que só usa camisas havaianas e belisca a bunda da vovó durante os jantares em família. Ele a ama. É obcecado. Planeja suas manhãs de acordo com as caminhadas da vovó.

— Uau, quanta dedicação!

— Com certeza, ela está fazendo alguma coisa certa. 

Ela deu risada. 

— Ela é uma Herrera.

— Bem lembrado. — Umedecendo os lábios, ele a puxou para outro beijo. — Eu não a beijei, sabia? Não queria. Nunca quis.

— Quem?

— Amy.

— Ah, ela. — Anahí bufou. — Minha inimiga da escola e típica menina malvada. Eu sei. Deixa pra lá. Juro que eu tinha esquecido, até que vi aquelas garras de acrílico perfurando seu peito.

— Aquilo dói. — ele riu. — Pra caramba. E não é uma dor boa. É uma dor que faz os caras se afastarem devagar, para não serem devorados.

As luzes da varanda da casa do sr. Casbon se acenderam e, com uma risadinha estridente, Vovó foi puxada lá para dentro.

— Bem. — ele estendeu a mão para ela. — Sabe o que isso significa. A "esposa" aceitou a mão dele.

— Podemos voltar para a cama?

Gemendo, ele a puxou para seus braços e a beijou.

— Sem ter que nos preocupar com vovó abrindo a porta. Mordendo o lábio inferior, ela virou a cabeça para o lado. — Acho que vi chantilly na geladeira.

— Sério? Vamos! — Rindo, ele a ajudou a descer a escada e os dois voltaram correndo para a casa. Já na cozinha, Alfonso encontrou as frutas e o chantilly e Anahí pegou o vinho. Eles subiram as escadas, dois degraus por vez, mas congelaram ao ouvir um rosnado baixo.

— Merda.



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Quem será?

Vovó está mais ativa que eu!

Beijos amores, boa quinta!

Las Quiero!


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