Ele não podia afogar os problemas na bebida, nem galinhar por aí até que os esquecesse. Era como se, para cada passo que ele dava na direção de Anahí, tivesse de dar outro para trás. Sim, ainda estava furioso com o fato de ela ter planejado vender informações da sua família em prol do trabalho, mas, quanto mais pensava no assunto, mais a respeitava por ter dito não ao chefe.
Ela precisava de um emprego. E nisso ela era diferente dele.
Ele poderia passar o resto da vida ostentando, e ainda assim teria mais dinheiro do que poderia contar. Anahí, no entanto, não tinha poupança, caso precisasse. Também não tinha uma mansão multimilionária que pudesse vender, nem dez carros importados.
Ela precisava comer e pagar as contas, coisas com as quais ele nunca tinha precisado se preocupar.
Nunca.
Ele já tinha planejado tudo: faria alguma piadinha para quebrar o gelo e depois pediria desculpas por ter se descontrolado na noite anterior. Mas então eles tiveram que substituir os noivos naquela maldita cerimônia, e tudo pareceu tão real que ele começou a tremer ao segurar as mãos dela. Quando disse aqueles votos, estava falando sério. Pela primeira vez na vida, queria que o compromisso fosse real.
Droga, queria que ela visse além da máscara dele e o aceitasse!
Naquele momento, quando ela segurou as mãos dele, quando ele a olhou diretamente nos olhos azuis, seu coração implorava para que ela visse mais do que todos antes já tinham visto. Pensou que, se existia uma pessoa capaz de ver mais que suas inseguranças, essa pessoa era Anahí.
Mas, em vez de fazer isso...
Ela o deixou exposto como um fio desencapado, para que todo o mundo visse. E, pela primeira vez na vida, Alfonso ficou sem saber o que dizer para melhorar sua situação. Ele a chamou de escrota e foi embora — outra vez. Foi embora. Era assim que lidava com as coisas? Ia embora e ficava deprimido?
Não queria mais ser esse tipo de homem, o tipo que ignorava todas as emoções, que as enfiava na parte mais distante do cérebro e se embebedava para esquecer que as tinha.
O problema em finalmente lidar com os demônios do passado era que eles tinham feito parte dele por tanto tempo que viraram quase uma espécie de conforto, ou, no caso dele, uma muleta.
Alfonso ainda tinha problemas com a morte dos pais de Maite — nunca superaria o fato de que os dois foram tirados dele e da amiga. E achava que nunca se encaixaria nos padrões rígidos do pai sobre como um Herrera deveria se comportar. Além disso, havia a própria crença de que não seria capaz de amar alguém como as pessoas mereciam ser amadas.
Passara a vida inteira com medo de compromissos, mas só agora percebia que estava em uma relação havia vinte e três anos. Estava preso a si mesmo, em um relacionamento com os próprios demônios. A coisa mais importante em sua vida sempre fora aproveitar o momento, viver para si mesmo. É comum que os pais alertem os filhos dos perigos dos relacionamentos ruins com outras pessoas – por que nunca os avisam dos perigos de se relacionarem mal consigo mesmos? Com o próprio coração?
Ele foi para os fundos da casa, até o deque com vista para o rio. Com um suspiro, sentou-se na beirada e ficou observando um restaurante flutuante que navegava lentamente.
A vida era tão mais fácil quando ele era criança!
Quando suas únicas preocupações eram se a mãe tinha lavado o uniforme de basquete a tempo ou se as outras crianças da escola queriam jogar futebol.
Ser adulto era uma merda.
E finalmente perceber que era um babaca egoísta não ajudava muito.
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Simple Past
Fanfiction"Como vai? Quer dizer, faz tanto tempo!" Na verdade, fazia onze meses, uma semana e cinco dias. Mas quem é que estava contando? Não ela. Alfonso Herrera é rico demais, bonito demais e arrogante demais: qualidades que, anos antes, fizeram Anahí Port...