Vinte um

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Furioso como nunca, Alfonso continuou a encarar o teto. Alguma coisa bateu em seu pé.

Ele se recusou a se mover.

— O que você fez? — O colchão afundou quando Maite se sentou ao seu lado. — Sério.

— Nada — resmungou Alfonso . — Esse é o problema. 

— O problema é que você não fez nada?

— Isso.

— Você está bêbado?

— Por que é que todo o mundo sempre me pergunta isso? Eu realmente agi como um alcoólatra nesses últimos três anos? Sério? — Ele se sentou e suspirou.

— Quer mesmo que eu responda?

— Não.

— É sério. — Maite o cutucou. — O que houve?

— Acho que o homem de lata descobriu que tem um coração. 

— E isso foi antes ou depois de você não fazer nada?

— Antes e depois. — Alfonso se levantou da cama e se espreguiçou. — Não que faça diferença, mas optei pelo caminho mais longo, e agora estamos brigando outra vez.

Maite deu de ombros.

— Os caminhos mais longos têm recompensas melhores.

— Diz a noiva feliz. — Alfonso se virou e deu uma piscadela. — Sem ofensas, mas acho que gosto mais dos caminhos mais curtos.

— Deve ser porque você prefere o que vem fácil. 

— Isso não é verdade.

— Ah. — Alfonso deu uma risada curta. 

— É, sim.

— É carma. — Alfonso comprimiu os lábios em uma linha fina. — Pela primeira vez, acho que finalmente quero algo que sei que não há a menor possibilidade de eu conseguir, que não tenho a mínima chance de merecer ou ganhar. E isso só piora as coisas.

Maite se levantou.

— Por que piora?

— Você se lembra de quando lhe dei aquela tartaruga de presente de Natal?

Ela riu.

— A Ligeirinha? Sim, foi o melhor presente de todos.

— E você acabou soltando o bichinho no lago porque disse que era melhor que ela fosse uma tartaruga com família?

Maite encostou a mão na testa dele.

Sério: você está drogado? — sussurrou.

— Não. — Ele empurrou a mão da amiga. — Estou tentando me comunicar.

— Tente um pouco mais, porque você está me deixando preocupada.

— Se você ama uma coisa, precisa deixá-la ir. — Ele engoliu em seco e desviou os olhos.

— Não acho que isso seja verdade. — Maite puxou Alfonso para um abraço rápido e beijou-lhe a bochecha. 

— Desde quando você foge de uma luta?

Anahí voltou para o quarto, interrompendo o momento.

— Está pronto?

— Estou — respondeu Alfonso. — Só um minutinho. 

Anahí saiu do quarto, deixando-o mais vazio do que antes de chegar. O que era ridículo. Talvez ele só estivesse exausto. Alfonso apenas deu de ombros e respondeu:

— Não estou fugindo da luta, estou decidindo não lutar. Ainda mais porque sei que não mereço nem participar desse combate, que dirá vencê- lo.

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