Capítulo 53

4.3K 473 64
                                    

Meses se passaram, e o Chorão ainda não teve coragem de contar a verdade para o Rato

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.

Meses se passaram, e o Chorão ainda não teve coragem de contar a verdade para o Rato. A vida seguiu seu curso, como se aquela carta de suicídio da Cláudia nunca tivesse existido. Todos nós enterramos aquela dor, fingindo que tudo estava bem, mas eu sabia que aquele segredo corroía o Chorão por dentro, mesmo que ele nunca admitisse.

Catarina cresceu tanto nesse tempo, se tornando uma menina cada vez mais inteligente e esperta. Ela passou a conviver mais comigo e com o Chorão, e a presença dela iluminava a casa. Era a alegria da família, a queridinha dos tios, sempre trazendo um sorriso onde quer que fosse. Eu sentia um carinho enorme por ela, quase como se fosse minha própria filha.

Isadora, por outro lado, finalmente começou a tomar jeito depois que o GV acordou. Ele ainda não nos reconhece, continua no hospital em tratamento, mas há uma parte de mim que teme o momento em que ele se lembrar dela e souber tudo o que essa garota fez enquanto ele esteve coma. Tenho medo das consequências para ambos. As marcas do passado não vão desaparecer tão fácil.

O prédio onde eu ia morar acabou se tornando um prédio comercial. Achei que seria mais útil assim. Aluguei os espaços para empreendedores, mas um deles eu dei de presente para Isadora. Ela vai abrir uma loja de roupas, um passo importante para deixar a vida antiga para trás. Ela tem focado mais no futuro, e eu quero acreditar que minha irmã está no caminho certo.

Chorão não vê a hora de ver o mesmo acontecendo com Pedro, mas eu sempre lembro a ele que ele próprio só parou de ser prostituto aos 40 anos. Talvez o Pedro, por ser seu filho, demore também. A genética tem suas ironias, não é?

Agora, estava no banheiro, sentindo a tensão no ar enquanto fazia mais um teste de gravidez. Eu e Chorão temos tentado ter um bebê, e toda vez que espero o resultado, sinto aquele frio na barriga. O teste deu negativo de novo, e uma tristeza me invadiu. Meus olhos se encheram de lágrimas, mas tentei não deixar que elas caíssem.

Isadora, sempre cheia de provocações, estava ali perto. Quando viu o resultado, não perdeu a chance de implicar.

— Acho que seu esperma passou da validade — ela disse com um sorriso maroto no rosto para Chorão, tentando aliviar o clima.

Acabei rindo, mesmo que por dentro eu estivesse um pouco quebrada.

— Cala a boca, projeto de Bruna Surfistinha — Chorão respondeu, sem perder o bom humor, mas com aquela pitada de carinho que ele sempre usava com ela.

Aquele jeito de implicar era o modo dele de dizer que se importava.

Eu respirei fundo, tentando me animar.

— A gente pode procurar tratamentos — sugeri, tentando manter a esperança viva, mesmo que a ideia de passar por todo o processo médico me deixasse um pouco assustada.

Chorão me abraçou por trás, aquele abraço forte e protetor que sempre me fazia sentir segura.

— É uma boa opção, coração. — Sua voz era calma, reconfortante. — E se você não puder engravidar, a gente pode adotar.

Eu suspirei, sabendo que essa era uma possibilidade real, mas também que nossas circunstâncias complicavam as coisas.

— Quem vai dar guarda de uma criança para um chefe de facção, Chorão?

Ele soltou uma risada baixa, aquela risada que era metade brincadeira, metade verdade.

— E quem disse que vai ser adoção legalizada, coração?

Não consegui evitar de rir junto com ele, negando com a cabeça.

[...]

Durante a tarde, enquanto eu organizava algumas coisas na sala, ouvi a voz animada de Catarina ecoar pela casa. Ela chegou correndo, com aquele sorriso contagiante, acompanhada de Inaê e Diego. O trio parecia conspirar alguma coisa, com os olhos brilhando de empolgação.

— Vamos fazer um piquenique! — Catarina anunciou, segurando minha mão e me puxando para a porta antes mesmo que eu pudesse responder.

Olhei para Chorão, que estava sentado no sofá, e ele já me devolvia um olhar cúmplice, sabendo que não negaria nada para aquela menina. O sorriso discreto no canto dos lábios dele era uma resposta mais que suficiente.

— Claro, querida! — respondi, já sentindo a energia positiva daquela ideia. — Vamos montar uma cesta.

Chorão se levantou e foi direto para a cozinha comigo. Juntos, pegamos frutas, sanduíches, sucos, e claro, algumas guloseimas que Catarina adorava. O som dos risos dela com Inaê e Diego na sala fazia meu coração se encher de alegria. Era nesses pequenos momentos que a vida parecia fazer sentido.

Quando a cesta ficou pronta, saímos todos juntos em direção à pracinha perto de casa. O sol estava suave, com uma brisa agradável que fazia as folhas das árvores balançarem de leve. Estendi uma toalha no gramado, e Catarina foi a primeira a se sentar, já distribuindo os lanches para todos.

Enquanto desfrutávamos do piquenique, senti uma paz que há tempos não sentia. Pouco a pouco, mais gente foi chegando. Isadora apareceu primeiro, com aquele ar confiante que vinha construindo, seguida pelo Rato, que carregava uma expressão mais leve do que o habitual. Vk e Pedro não demoraram para se juntar, trazendo mais risadas. Aquele grupo, que antes parecia tão disperso, agora estava unido de uma forma que lembrava mais uma família do que apenas amigos.

Enquanto todos conversavam e riam, eu observava cada rosto com carinho. A maneira como Isadora começava a encontrar seu caminho, a forma como Rato parecia se permitir momentos de tranquilidade ao lado da sua filha, e como Vk e Pedro, mesmo com todos os problemas familiares envolvendo a Helena, estavam ali, juntos. Aquele momento era raro, precioso.

— Quando o GV tiver alta, precisamos fazer outro piquenique — Isadora disse, de repente, quebrando o silêncio que pairava entre uma conversa e outra.

Todos olharam para ela, e um silêncio de reflexão tomou conta por um instante. Mas logo, como se todos tivessem chegado à mesma conclusão ao mesmo tempo, começaram a assentir e a sorrir.

— Com certeza — concordei, sentindo uma onda de esperança aquecer meu peito. — Ele vai gostar disso.

Chorão apenas sorriu e me puxou para mais perto dele, abraçando-me de lado enquanto olhávamos para todos ao nosso redor.

Naquele momento, percebi que, apesar de todas as dores e lutas, ainda conseguíamos encontrar momentos de felicidade e união. E era isso que nos mantinha fortes.

 E era isso que nos mantinha fortes

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.
ATRAÍDA PELO TRÁFICOOnde histórias criam vida. Descubra agora