Capítulo 51

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Emília estava cada dia mais preocupada com a Isadora, que parecia agir como se fosse uma prostituta, e eu com o Pedro, que não ficava muito atrás

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Emília estava cada dia mais preocupada com a Isadora, que parecia agir como se fosse uma prostituta, e eu com o Pedro, que não ficava muito atrás. Sei que são coisas da idade, mas dá um medo danado dos dois fazerem algo tão ruim que não vai ter conserto, como uma gravidez na adolescência ou pegar alguma doença.

Isadora saía quase todas as noites, voltava tarde e, às vezes, nem voltava. Pedro, por sua vez, tinha sempre uma desculpa pronta para sumir por horas. O cheiro de álcool e perfume barato impregnava suas roupas, e isso me deixava em alerta constante.

Tentar proibir não adianta, então só vou dando conselhos, deixando camisinha na carteira, na mochila, nas gavetas e nos bolsos das roupas deles. Falo sobre responsabilidade, sobre se protegerem, sobre como suas ações têm consequências que podem mudar suas vidas para sempre. Espero que seja suficiente para evitar uma tragédia.

Emília, por sua vez, reforça meus conselhos com conversas longas e paciência que eu muitas vezes não tenho. Ela parece conseguir alcançar Isadora de uma forma que eu não consigo, e eu me pergunto se Pedro, em algum momento, vai abrir o coração para mim.

Apesar do drama adolescente, Emília e eu não deixamos de cuidar um do outro. Ela é carinhosa e adora me surpreender com jantares, café na cama e viagens. Eu retribuo com presentes e piroca, do jeito que ela gosta.

O sexo é todo dia. Quem diz que sexo não mantém um relacionamento saudável e gostoso tá transando errado, porém nossa conexão é intensa, não só fisicamente, mas emocionalmente também. É nos braços dela que encontro paz depois de um dia difícil, e é no sorriso dela que encontro motivação para enfrentar qualquer coisa.

Rato finalmente parou de rondar Emília. Parece que se acertou de vez com a Cláudia. Estamos sempre juntos, e aparentemente, nosso relacionamento entre irmãos está perfeito. Mas a verdade é que passei algumas semanas investigando para descobrir o que realmente aconteceu no dia do acidente que matou Lucas. A dor dessa perda ainda me assombrava, e a desconfiança que me consumia não me deixava em paz.

Foi mais fácil do que eu imaginava descobrir que os meus exames tinham sido alterados e que eu estava com uma substância no sangue na hora do acidente. A água que o Rato me deu para beber minutos antes da corrida estava batizada.

Descobrir tudo aquilo me corroía. O sentimento de traição era insuportável. Olhar para Rato, meu próprio irmão, e saber que ele tinha manipulado minha vida de uma forma tão cruel, era quase impossível de suportar. Isso precisava ser resolvido. E eu não ia descansar até que ele pagasse pelo que fez.

Cada sorriso falso que ele me dava, cada palavra de apoio que ele oferecia, me lembrava da sua traição. Eu precisava me vingar, não só por mim, mas pela memória de Lucas. Rato não podia sair impune dessa, e eu estava disposto a fazer o que fosse necessário para que ele enfrentasse as consequências dos seus atos, por isso não conversei com ninguém da facção sobre meus planos. Depois, eu me entenderia com eles.

Estacionei o meu carro na frente da casa do Rato na mesma hora que ele ia chegando na sua moto. Ele deu um sorriso surpreso para mim enquanto eu saía do carro. Atravessei a rua com passos firmes e me aproximei dele.

— Aconteceu alguma coisa, Chorão? — Rato perguntou, a expressão curiosa e despreocupada.

Sem responder, deixei minha raiva falar por mim. Meu punho acertou seu rosto com um soco seco, sentindo o impacto reverberar pelo meu braço. Ele cambaleou para trás, e antes que pudesse reagir, um chute preciso nas pernas o derrubou no chão. Ele caiu com um baque, e antes que pudesse reagir, comecei a desferir mais socos, cada impacto diminuindo um pouco da minha raiva acumulada.

Quando ele conseguiu se recuperar da surpresa, me empurrou de cima dele e me deu um soco. A dor irradiou pelo meu maxilar, mas a adrenalina me impedia de sentir qualquer coisa além da fúria.

— Tu tá maluco, porra? — Rato perguntou, limpando o canto da sua boca que agora sangrava.

— Eu sei que você causou o acidente do Lucas e me fez ficar na cadeia por algo que nem foi a minha culpa! — gritei, minha voz carregada de ódio e dor. — Quanto você pagou para esconder toda a verdade? Ou te pagaram?

Ele arregalou os olhos, a culpa estampada em sua expressão. Ficou em silêncio enquanto se levantava, me estendeu a mão trêmula, tentando buscar algum tipo de reconciliação.

— Me arrependo disso todos os dias, porque o Lucas não tinha nada a ver com seu erro de ter comido a minha mulher.

— Foi por isso? — perguntei, minha voz baixa, quase um sussurro incrédulo. — Você me fez viver um inferno por causa de uma transa que não significou nada para nenhum dos dois?

Me levantei sozinho, ignorando seu braço estendido. A dor e a raiva pulsavam em minhas veias, cada batida do coração me lembrando da traição.

— Você acha pouco, Chorão? — Ele negou com a cabeça. — Você viu o meu amor pela Cláudia começar quando ainda estávamos na escola, fazia café quando ela dormia lá em casa e tava sempre por perto... Você sempre quis ela ou algo assim?

— Não, porra! Aconteceu depois... E eu me arrependo pra caralho. — Minhas palavras saíam quase como um grito, a frustração transbordando.

— Eu também me arrependo do que fiz, mas se coloca no meu lugar... E se fosse a Emília te deixando pra cuidar da filha de vocês enquanto ia me encontrar escondido? O que você ia sentir?

Engoli em seco, sentindo um nó se formar na minha garganta. Rato estava se controlando para não chorar, e as lágrimas começavam a surgir nos seus olhos. Eu tinha ficado cego de ódio e não estava conseguindo enxergar que eu também tinha culpa em tudo o que aconteceu.

Antes que eu pudesse responder, ouvimos um tiro vindo de dentro da casa do Rato e corremos para dentro. O som ecoou em nossos ouvidos, criando uma sensação de urgência que aumentava a cada segundo. Ao entrar na sala, ouvimos a Catarina gritar e corremos para o quarto.

Ao abrir a porta, encontramos a garota ao lado do corpo da mãe, ensanguentado, com uma arma na sua mão. A visão era devastadora. O cheiro metálico do sangue e a expressão de choque no rosto de Catarina me atingiram como um soco no estômago.

Rato se ajoelhou ao lado da mulher desfalecida, o desespero estampado em seus olhos. Peguei Catarina no colo para que ela não continuasse vendo aquela cena horrível.

— Vem cá, pequena. — Minha voz saiu trêmula, mas tentei parecer forte para ela.

Antes de sair, vi uma carta em cima da mesa. As primeiras linhas já explicavam o motivo dela ter tirado a própria vida, e eu sabia que Rato não merecia passar por isso também. Peguei-a rapidamente, sabendo que precisava protegê-lo de mais uma humilhação.

— Vamos sair daqui, Rato — falei, tentando manter a voz firme. — A gente vai resolver isso.

Ele me olhou com olhos vazios, como se todo o peso do mundo tivesse caído sobre seus ombros naquele momento. E, por um instante, toda a raiva que eu sentia se transformou em um profundo sentimento de compaixão e tristeza.

 E, por um instante, toda a raiva que eu sentia se transformou em um profundo sentimento de compaixão e tristeza

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