Haviam se passado alguns meses desde o dia que eu e Chorão ficamos noivos naquele baile funk. A vida de casal tem sido surpreendentemente gostosa. Não que ele não me ameace me matar quando faço graça falando que quero sentar pro Rato, mas é assim que gosto.
Acho que um relacionamento muito saudável e tranquilo não ia combinar com a gente. Nossos dias são uma mistura constante de carinho intenso e tensão, onde os momentos de risadas e afeto se entrelaçam com discussões acaloradas e ameaças que, por mais insanas que pareçam, acabam alimentando a chama da nossa paixão.
Apesar dos bons momentos, a vida tem sido amarga sem GV fazendo piadinhas fora de hora. A presença dele era uma constante que, mesmo irritante, trazia um certo alívio para a atmosfera pesada em que vivíamos. A Isadora é a que sente mais falta dele e acaba lidando com a saudade de maneiras um pouco erradas.
Ela se isolou e tem evitado todos, mas especialmente a mim. Sempre fomos tão próximas, e agora, vê-la distante é um golpe duro. As noites em que conversávamos sobre qualquer coisa se tornaram solitárias, com ela trancada em seu quarto, mergulhada em suas próprias dores, ou em festas até de madrugada.
Pedro continua pegando tudo e todos e ainda não tivemos notícias da mãe dele. Ele parece lidar com a ausência da mãe de uma maneira bem tranquila, como se não sentisse saudades.
Às vezes acho que o Chorão mandou matar aquela mulher e está se fazendo de sonso, mas ele negou todas as vezes que perguntei. A dúvida persiste, mas aprendi a não cavar muito fundo em certas questões. Chorão é um homem de segredos, e alguns deles são melhor deixados intocados.
Rato e Cláudia ainda estão juntos, entretanto vivem brigando e eu fico longe dela, mas ele sempre está na nossa casa. A presença constante dele é um lembrete de que, apesar das brigas, há uma ligação forte entre eles. Sinto que Chorão, Diego, Rato e VK estão mais próximos depois do que aconteceu com GV. Esse laço entre eles é forte, quase como uma irmandade, algo que eu não consigo penetrar completamente. Eles compartilham uma camaradagem que vai além da facção, construída através de experiências que eu nunca poderei entender totalmente.
A Inaê, mulher do Diego, está sempre com ele, por isso nos aproximamos um pouco. Ela é um alívio no meio de tanta tensão, sempre com um sorriso no rosto.
Como tenho falado pouco com a Gabriela depois da morte da avó dela e como a Isadora está distante, a presença de Inaê me ajuda a não me sentir tão sozinha. Gabi se fechou em seu próprio mundo de luto, e eu respeito seu espaço, mas sinto falta da nossa amizade como era antes. Ela é minha irmã estão vivendo sua dor à sua maneira, então é bom ter uma nova companhia para conversar.
— Ainda não tá arrumada, Lia? — Inaê perguntou ao entrar no meu quarto e me ver apenas de toalha.
— Não quero ir — choraminguei, sentada na beirada da cama.
— É a inauguração do seu salão de beleza, amiga!
— Ninguém vai aparecer lá.
— Claro que vai! — Inaê se aproximou e segurou minhas mãos, puxando-me para ficar de pé. — Você trabalhou tanto com a divulgação... Não pode desistir agora.
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ATRAÍDA PELO TRÁFICO
ChickLit[Este livro não retrata a realidade nua e crua das favelas, é apenas uma história fictícia com o intuito de entreter] "Uma conexão obscena entre um sequestrador e sua refém" Após passar 72 horas como refém do temido líder da facção, Chorão, Emília l...