Caleb
Cerca de mais uma hora depois, eu havia terminado com minha câmera. Tanto com as fotos para o meu projeto — que finalmente estava acabado, obrigado, Deus! — quanto as que roubei de Katrina, em outros instantes aleatórios, e eu tinha que dizer que estava mais que satisfeito.
Agora estávamos jogados desajeitadamente nos sofás da minha sala, comendo algumas partes dos bolos, as que eu não pedi que ela estragasse com as ferragens sujas para as fotos, ambos com preguiça demais para manter qualquer conversa.
Até que, depois de esfregar as costas da mão na boca de maneira agradavelmente desajeitada, sua dúvida, enfim, foi proferida:
— Seu irmão não está aqui, não é?
Ah, claro.
Era óbvio que ela tinha vindo aqui por Blake... O sentido de seu interesse nas escadas havia vindo à tona no final das contas: ela deveria estar ansiosa para vê-lo descendo por elas a qualquer segundo.
Mas, cansado como estava, eu não podia dizer que havia me decepcionado com isso, ou invejado e sequer me importado.
Não era a primeira e com certeza não seria a última vez em que alguém se aproximaria de mim por causa do meu irmão. E, se você perguntasse a ele, ele diria exatamente a mesma coisa. Fazer o quê? Ele é famoso e eu, gostoso.
Expirando uma risada leve pelos meus próprios pensamentos, neguei com a cabeça, acabando de engolir um tanto da massa fofa e adocicada.
— Ele se mudou pro apê dele. Só estava aqui se escondendo por um tempo. Quer o número dele? O endereço? — ofereci em tom de brincadeira, mas Katrina realmente pareceu considerar por alguns segundos.
— Hm, não... quero dizer, seria estranho, não é? — Me lançou uma careta do outro lado da sala e eu dei de ombros. — Alison provavelmente já deve ter dito aquela besteira de encontro pra ele e, se eu ligasse me apresentando, seria isso que ele entenderia que eu quero logo de cara.
Franzi o cenho, lambendo as pontas dos dedos.
— E não é?
— Não, claro que não. — Katrina começou a se ajeitar, colocando-se sentada. — O que eu preciso mesmo é de um acompanhante, não de um encontro exatamente, entende? Apenas para estes eventos, como o de hoje.
— Para a caridade? — Ela assentiu, soltando e começando a pentear seus cabelos com os dedos.
— E por que logo meu irmão? O que ele tem a ver com isso tudo?
— Absolutamente nada, mas por isso eu esperava encontrar com ele aqui hoje, sabe? "De forma casual" — ironizou, com um sorriso esperto. — Eu ia perguntar a ele se estaria disposto a me acompanhar nessas coisas por um tempo, pela solidariedade. Minha irmã levou o "super noivo de ouro" dela hoje e meu pai não se importou com sua presença ou com a outra miséria que ele gastou por si mesmo lá. Disse que "fazia sentido, já que Diego Carelli tinha seu próprio nome a zelar". — Rolou os olhos desdenhando das palavras que com certeza não eram suas e eu precisei de apenas cinco segundos para me lembrar e de mais um para ficar realmente impressionado.
— Carelli? — Balançou a cabeça com tédio encenado, mas eu me apoiei nos cotovelos, ainda sem conseguir acreditar. — A nova sensação na Fórmula Indy, Diego Carelli?! Sua irmã está noiva dele?!
— Sim — cuspiu a confirmação com óbvio incômodo. — E eu preciso levar alguém a altura e que aceite fazer os meus lances e doações nestes eventos, para que "faça sentido". Seu irmão é famoso e, já que Alison não vai me deixar em paz enquanto eu não concordar com alguma coisa... — suspirou — que seja isso, pelo menos.
Oh, então era isso que ela queria com Blake: A influência dele. E para o bem maior! Ele não pensaria duas vezes antes de aceitar, tenho certeza disso. E se Alison era quem estava arranjando isso tudo? Um encontro com a própria melhor amiga? Bom, não havia nada além neste mundo que ela pudesse fazer para que ficasse ainda mais evidente que não tinha quaisquer segundas intenções, então ele teria que superar essa.
Assisti com mais atenção do que deveria quando Katrina levantou seus braços até o topo de sua cabeça, onde começou unir as mechas de seus cabelos num coque. Notei os movimentos delicados que fazia se empenhando nisso... percebi o rubor leve em seu rosto de princesa... o lábio inferior que mordia, agora apenas com uma sombra rosada do batom claro que há muito havia limpado num guardanapo... a estrutura delgada, sutil, mas muito sensual de sua cintura subindo até os seios...
Nãaao... De repente eu entendi tudo. Mais do que poderia ter entendido pelas fotos.
Assim como Alison era aquela mocinha doce e ingênua dos livros de romance, Katrina era a femme fatale feiticeira que destruía corações. Era por isso que eu estava me sentindo tão tentado mesmo que, querendo ou não, ela só tivesse se aproximado por alguma segunda intenção.
"Perigo". Era sutil e talvez até inconsciente, mas esta mulher berrava a plenos pulmões a palavra "perigo" para caras como eu e, mesmo que numa realidade alternativa, ela tivesse vindo aqui apenas para me usar para se satisfazer, eu não poderia me deixar levar. Histórias nesta fórmula me assustavam e eu gostava demais da minha vida como estava.
Mas se o que precisava era de um acompanhante e Blake precisava superar? Eu não poderia imaginar um par mais perfeito. Era isso, eu ajudaria a acontecer.
Porque, além do meu irmão ganhar na loteria com essa deusa, ele inconscientemente a manteria bem longe de mim.
Longe, até que seus feitiços não pudessem mais me alcançar.
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Tudo o que Sonhei
DragosteO melhor amigo, o crush ou o ídolo? Para a romântica e desajeitada Alison, todos estes clichês se tornam realidade num curto período de tempo e, quem olhasse de fora, diria que isto tinha de ser o destino agindo a favor de uma pobre alma... certo...