Alison
Sentei-me em um canto do meu sofá, observando Blake com certa apreensão.
Ele estava agora do outro lado do espaço reservado para a sala, estudando com atenção minha coleção de discos e CDs que eu mesma já não mexia ou atualizava há tempos.
Apertei os olhos em constrangimento quando percebi que ele dedicou uma certa atenção especial a minha cópia de "Baby, One More Time".
— Vou ligar uma música — anunciei, decidida a não deixá-lo com essa impressão limitada do meu gosto musical.
No entanto, enquanto deslizava pelas minhas músicas no celular, nada parecia ser... adequado. Pelo menos para manter de som ambiente.
Eu era eclética demais para o meu próprio conceito, era só olhar para o trio Eminem, Morrissey e Ed Sheeran que agora me encaravam de volta da tela do meu celular para me provar correta. E haviam, sim, músicas do próprio Megadeth da camisa de Blake, por exemplo, e também da Sleep Kickers, mas pareceria que estava forçando demais.
E agora, e agora, e agora?!
Meu polegar trêmulo acabou decidindo por mim e a animação superou qualquer necessidade de aprovação por um segundo.
"Can I Call You Tonight?- Dayglow" — Li a tela do meu celular, plugado ao sistema de som, mordendo o lábio inferior para me impedir de cantar junto com a letra, quando ela começasse. Deus sabia o quanto podia me entusiasmar se não me controlasse e essa música vinha sendo uma das mais difíceis de resistir.
— Não conheço essa... — Blake comentou, depois de alguns segundos prestando atenção e balançando a cabeça levemente no ritmo. — Legal...
— É ótima! Um dos meus vícios do momento. Tenho ouvido quase todos os dias — disse mais para ter o que dizer e me arrependi quase que instantaneamente. Mas algo em mim se convenceu que era melhor do que se empolgar cantando ou dançando na frente dele, então apenas deixei fluir. — Ultimamente, tem sido a primeira que coloco pra tocar quando preciso me ocupar com alguma coisa, o que é quase sempre. É o que me traz inspiração, sabe? Para criar. — Apontei para meu par de manequins vestidos com peças que eu ainda estava finalizando, como forma de exemplo. — Mas também estou sempre ouvindo música sem fazer nada... acho que só não ouço no banho, porque, você sabe, tem o perigo da umidade do ar corroer meu celular ou o que quer que esteja tocando. Mas, fora isso, até mesmo pra dormir eu tenho uma playlist de músicas calmas que me ajudam a pegar no sono. Isso se não estiver completamente cansada e só deitar e dormir, mas é muito difícil isso acontecer, já que Kat nunca me deixa ficar até tarde no trabalho.
Eu acho injusto, já que moro tão perto, mas...
O assunto já estava começando a se alterar demais e, graças a Deus, consegui fechar a boca.
Porém, Blake já estava virado completamente para mim, me observando com aquela sua expressão de divertimento contido que eu já havia notado ser característica dele. Pelo menos quando estava comigo.
— Desculpe, eu... desculpe — apertei os olhos novamente, me repreendendo.
Será que algum dia eu conseguiria não parecer tão idiota na frente dele? Por que o patetismo tinha que me amar tanto assim?!
— Eu tenho um presente pra você.
Abri os olhos e o encarei, me perguntando se tinha ouvido direito.
Ele abriu um sorrisinho que me pareceu tímido — ...? — e deu alguns passos em minha direção, se sentando ao meu lado. Alcançou seu moletom que havia deixado na outra ponta do sofá e começou a remexer no bolso frontal, enquanto dizia:
— É apenas algo que vi hoje cedo, quando estava saindo da consulta, e... lembrei de você. — Retirou um tecido colorido enrolado e apenas o observou, franzindo o cenho. — Agora eu já não tenho mais tanta certeza, você tem tanta coisa chamativa e bonita por aqui, isso não parece muito! E também, sei lá... poderia parecer que eu estou insinuando alguma coisa, ou que deixe uma impressão estranha... realmente não tenho mais certeza.
Expirei uma risada, admirada com a situação. Blake Lowell estava nervoso para me dar um presente, exatamente como eu fiquei quando fui lhe dar Beth. Será que ele notava a graça nisso tudo? Quero dizer... eu era a obsessiva fanática por aqui, ele só não perceberia a ironia se não enxergasse esse fato.
Mas o que ele enxergava, então, senão isso? O que via em mim a ponto de não apenas ficar nervoso para me dar um presente, mas também para não considerar que eu iria absolutamente adorar ganhar dele até mesmo um pano de chão usado de sua casa?
O que ele via em mim?
— Blake... se alguém me perguntar, posso dizer que somos amigos? — resolvi estabelecer, antes de acabar pensando demais no assunto.
Ele me olhou com seriedade primeiro, mas não demorou a abrir um pequeno sorriso.
— Eu iria adorar ter você como amiga, Alison.
— Que bom. — Ajoelhei no sofá, me aproximando dele e, hesitando apenas por um segundo, plantei um beijo em seu rosto. — Vou te tratar como meu amigo então e lhe dizer agora pra parar de fazer mistério e passar isso pra cá. Estou curiosa! — cantarolei, com um sorriso animado que ele correspondeu, me entregando o pano xadrez rosa enrolado em formato cilíndrico. Só a estampa já havia me agradado!
Assim que o tive em minhas mãos, percebi que tinha algo ali no meio, enrolado, e não era simplesmente uma peça de roupa como assumi ser por um segundo. A curiosidade me tomou e eu coloquei o embrulho no meu colo, procurando pontas para soltar, puxar e desenrolar.
Quando acabei, o que me encarou de volta foi... uma boneca?
A peguei com cuidado, logo percebendo que era feita de uma delicada porcelana, ficando cada vez mais maravilhada com o vestido branco de seda que a cobria, bordado com padrões e desenhos sofisticados, cheio de pedrinhas brilhantes... quem quer que o tivesse criado, provavelmente havia se inspirado em uma elegância que parecia sair dos anos vinte, mas, ao mesmo tempo, considerando os sapatos de cristal e a coroa no topo dos cabelos longos e escuros da boneca, me lembrei bastante também das séries em temas medievais com princesas e outros aristocratas que Kat gostava e me fazia assistir com ela.
Seja como fosse, eu estava encantada com toda a beleza que tinha em mãos, com todos os mínimos detalhezinhos bem aplicados que meu olhar captava e nem precisaria ser uma apreciadora da arte para estar tão completamente apaixonada por este meu presente como já estava.
— Achei que se parecia com você. — Meu olhar chocado foi de encontro ao dele.
— O quê?! — Olhei abismada para a princesa linda nas minhas mãos e logo de volta pra ele. — Você achou que isso se parecia comigo?! Onde?
— Ahm... só me lembrou você — murmurou, nervoso. — Deveria ter perguntado antes se você gostava de bonecas, sinto muito. Eu só vi essa na vitrine de uma dessas lojas de decorações e ela me chamou a atenção porque achei bonita, mas aí percebi que, na verdade, era porque se parecia com você. Mas, se você não gosta da comparação, sinto muito, não tive intenção de ofender...
A risada que exalei foi de puro ceticismo.
— Blake, eu adoro bonecas. Coisas bonitas em geral... eu adoro — resolvi esclarecer por partes.
— Essa aqui — apontei para o meu presente — é provavelmente a mais linda que eu já vi! E isso vindo de uma pessoa que literalmente pesquisa e está sempre de olho em ideias para criar modelos originais e me inspirar. É bonita demais e, quem me conhece, sabe que é um presente perfeito pra mim! Eu amei, muito obrigada! — Ele sorriu, singelo e aliviado. — Agora, dizer que me deu isso porque achou que se parece comigo... é demais! Eu não sei o que você estava considerando quando pensou isso, mas obrigada de qualquer forma. Eu amei.
— Ahm, de nada... — Blake arqueou uma sobrancelha. — Como assim você não sabe o que eu estava considerando? Ela é a sua cara.
— Blake, para com isso, ela é linda! — exclamei, encarando os traços formosos e delineados da boneca.
— Você também é. — Me lançou um sorriso esperto. — O que aconteceu com o "se orgulhar mais de si mesma"?
— Eu estou fazendo isso. — Na medida do possível. — Mas não desta forma. — Indiquei a boneca, mas depois apenas me virei para ele com um sorriso agradecido. — Mas você não precisava se incomodar em me dar nada, Blake, mesmo que veja semelhanças imaginárias.
— Não são imaginárias. — Forçou um olhar desaprovador. — E eu precisava, sim. Já estava querendo te agradecer de alguma forma. Você sabe... pela Beth e pela força que você me deu no outro dia.
— Amigos, não é? — Levantei os ombros com obviedade.
— Amigos... com certeza. — Seu sorriso diminuiu e ele ficou de pé de repente. — E, por falar nisso, eu preciso ir andando. Fiquei de mostrar uma melodia nova pro Mackley hoje e ele deve estar me esperando ligar.
Levantei também, repousando minha boneca com cuidado onde estava sentada.
— Ah... tudo bem então. — Sorri, sem ânimo. Ficaria sozinha novamente e ainda não era nem uma hora da tarde direito.
— Obrigado pela torta... — mordeu um sorriso leve, me olhando — pelo suco... por me receber na sua casa, por gostar do meu presente, pela música... — apontou para minha caixa de som, do outro lado do cômodo, e devolvi seu sorriso com mais vontade — por conversar comigo. Pela companhia, pela amizade... — respirou fundo — por tudo.
— Eu é quem agradeço — disse, mais uma vez apreciando sua falta de julgamento. Eu precisava desse tipo de tranquilidade e, vindo dele, que normalizado ou não, ainda era uma pessoa que eu admirava demais, significava o mundo.
— Vem aqui. — Me estendeu a mão, depois de alguns segundos em hesitação, e eu não pensei duas vezes em aceitar seu convite, o abraçando novamente.
Paraíso novamente... paz, conforto, segurança... Poucos homens me trouxeram esta mesma sensação antes apenas com abraços, mas, ironicamente, eram os homens que estavam sempre distantes. Eram exatamente quatro: meu pai, meu irmão, tio Gerry, pai de Evan, e o próprio Evan.
Meu pai... bem, eu não gostava de pensar muito nele se tivesse essa escolha. Mas meu irmão e o tio Gerry eu só não tinha mais acesso porque mudei de cidade e não era sempre que conseguia visitá-los ou eles, a mim. Já o Evan, ele estava por perto, mas... sempre havia alguma turbulência entre nós dois para que até mesmo abraços pudessem ser somente aproveitados.
Entretanto, as mãos de Blake alisando minhas costas me diziam que poderia ficar ali para sempre se quisesse e eu não poderia expressar em palavras o quanto estava grata por isso. Minha carência ainda não estava pronta para me deixar soltá-lo.
Só mais alguns segundinhos para me recompor e continuar com o meu dia...
Entretanto, o barulho das portas se destrancando fez minhas pálpebras pularem abertas.
— Ali?
Soltei Blake ao mesmo tempo em que pulei de susto quando Evan fechou as portas num baque.
— Evan! O que está fazendo aqui? — perguntei sem pensar. — Por que não me ligou antes de vir?
Seu olhar duro saltou de mim para Blake e de volta para mim.
— Não sabia que precisava. Sinto muito por ter interrompido. Fez menção de se virar e eu me desesperei um pouco.
— Não, espera! — Corri até ele.
Precisava consertar esse embaraço repentino. Era infundado, nada estava acontecendo aqui! Ele não precisava dessa atitude seca e eu não precisava ficar agindo como se tivesse alguma culpa.
Forcei um sorriso, tomando sua mão na minha para puxá-lo até a sala.
— Blake, este é meu namorado, Evan — apresentei e Blake se limitou a sorrir com um aceno, parecendo desconcertado. — Evan, este é meu, ahm... — as palavras me fugiram, mesmo que tivéssemos literalmente acabado de estabelecer nossos "rótulos" — Blake Lowell. Quero dizer, não "meu", mas você já sabe quem ele é — me apressei em acrescentar e meu namorado apenas assentiu, antes de acenar de volta. Sua expressão se aliviou.
— Precisava falar com você sobre algo importante — Evan disse para mim e, por mais que soubesse que ele estava tomando a atitude correta em vir me procurar antes que eu o fizesse, quando percebi, a expressão surpresa já estava em meu rosto.
— Que bom que eu já estava de saída então — Blake se pronunciou, indo recolher suas coisas.
— Eu te acompanho até seu carro. — Arrisquei um olhar receoso para Evan, mas não me detive.
Blake me olhou amigável, no entanto.
— Não se incomode, gatinha. Pode deixar que eu me viro com o caminho de volta. Evan, foi, ahm, um prazer — cumprimentou com a cabeça, um pouco hesitante, já caminhando em direção às portas. O acompanhei, pelo menos abrindo uma delas para ele. — Mais uma vez, obrigado, Alison. A gente se vê.
Por um segundo pareceu que ele ia se aproximar de mim, talvez se despedir com mais um abraço rápido ou algo assim, mas acabou apenas saindo pelo corredor, até as escadas dos fundos no final dele.
Fechei e tranquei a porta enquanto respirava fundo, antes de me virar.
— "Gatinha"? — Evan fez uma cara aborrecida.
— Ele deve chamar todas as fãs assim — expliquei, sem ter certeza, mesmo que o pensamento já me tivesse passado pela cabeça.
— Na frente dos namorados delas? — duvidou, ironizando. — Ah, claro, mas ele já te beijou também na minha frente, então não é como se o limite já não tivesse sido ultrapassado antes, entendi como é.
— O que você quer falar, Evan? — Expirei, sem ânimo para lidar com esse comportamento hostil. Preferia que ele se lembrasse que ainda tinha que resolver o que pendia.
— Meu pai me ligou hoje mais cedo — foi o que disse, no entanto. — Ele queria falar sobre o aniversário da minha irmã, no fim do próximo mês. Pediu para nós não... ofuscarmos o dia dela com o nosso noivado, porque acredita que Melania esteja grávida e vá dar a notícia pra família no dia da festa dela. — Franzi o cenho e ele deu de ombros, me olhando com certa resignação. — Ele pediu pra esperarmos até o dia seguinte pra darmos a nossa boa notícia.
— O quê? — Torci meu rosto numa careta confusa. — Que boa notícia? Que noivado?!
— Coisa da minha mãe. Você sabe... "Deus contou pra ela". Ele só se esqueceu de contar pra gente, aparentemente. — Evan revirou os olhos, indo se jogar no sofá, como sempre costumava fazer.
Meus olhos caíram para minha linda princesa indefesa por pura sorte.
— Espera! — berrei, o assustando e correndo até o resgate do meu presente.
Evan distorceu sua face, estranhando, enquanto me observava repousar minha boneca delicadamente na mesinha de centro, mas pareceu decidir que isso não merecia tanto de sua atenção e, enfim, deitou no sofá. Sentei no pequeno espaço restante que deixou.
— Então... esta não foi sua maneira de me pedir em casamento, não é? — inquiri verdadeiramente querendo saber. Eu bem sabia que Evan carecia de sensibilidade em vários aspectos.
— Eu não sou tão babaca assim, Ali. Eu já expliquei, mas depois vou me certificar com meu pai que ele entende que não tem noivado nenhum. — Rastejou deitado até repousar a cabeça em meu colo. — Primeiro vou conseguir um anel pra você. E você terá certeza de que é um pedido. — Seu sorriso foi brincalhão, mas o meu, provavelmente, sonhador.
Sonhador até demais. Era como me sentia. Aquela imagem bonita do futuro, envolvendo este casamento, alguns poucos filhos, animais de estimação, todos numa casa simples, mas confortável, vinha parecendo cada vez mais difícil de ser pintada, desde que Evan me pediu em namoro. Irônico, não? Mas era a realidade e eu vinha sendo obrigada a lidar com ela desde então.
Nunca que no auge dos meus dezoito, dezenove anos eu me permitiria sonhar acordada com um relacionamento futuro com Evan em que ele não se sentiria à vontade para se conectar intimamente comigo, da maneira que fosse.
E a possibilidade de Blake Lowell me beijar no meio deste processo sequer passava pela minha cabeça também! Caleb e Noah então, nem existiam no meu radar naquela época. Sempre foi Evan, por mais que me sentisse atraída por alguma outra pessoa, meu coração sempre se sentiu inclinado a ele, eu sabia que estaria pronta para lidar com qualquer empecilho que aparecesse em nosso caminho e esta certeza não havia mudado.
Eu o flagrei beijando outro cara e ainda estava com ele, pelo amor de Deus! Isso tinha que demonstrar certo esforço.
E positividade, tinha que me manter positiva, ao mesmo tempo que realista. Eu poderia fazer isso, minha capacidade de resolver e fazer dar certo sempre surpreenderam até a mim mesma.
Um empecilho de cada vez...
Pigarreei, lembrando de um bem vívido:
— Então... estava falando com Caleb por telefone hoje cedo e Danny de repente apareceu por lá. Antes de desligarmos, eu o ouvi dizendo que você havia pedido que ele levasse aquelas coisas da oficina que Caleb precisava.
Evan franziu as sobrancelhas profundamente, fitando o teto, mas resmungou apenas:
— E?
— E, por acaso, você pediu que Danny levasse um pedido de desculpas também ou vai fazer isso pessoalmente?
Evan se sentou de súbito, me olhando como se eu tivesse ofendido sua mãe.
— Eu deveria?! — ironizou, áspero.
— Obviamente. — Assenti, de olhos arregalados. — Evan, você o feriu!
— Feri?! Alison, por favor! O cara apareceu no meu trabalho dando uma de pervertido pra cima de mim e eu é quem estou errado por afastá-lo?!
— Não foi isso o que aconteceu — retruquei, mantendo a calma. — E você não estava tentando só afastá-lo quando cheguei lá.
— E quando, exatamente, você chegou lá?! — Exalou, indignado. — Eu sequer te vi e você já fala como se fosse a juíza dessa merda toda!
— O que eu não vi, o próprio Caleb me contou depois. E ele foi lá apenas pelo próprio trabalho dele, você é quem bagunçou tudo por conta desse seu temperamento. — E, como aprendi ontem, por problemas pessoais. Mas mencionar isso poderia piorar as coisas.
— Ah, é claro que a culpa é minha! — Riu sem a mínima graça, pulando para ficar de pé. — Com certeza é mais fácil pra você me culpar pra ficar do lado dele!
Expirei, me sentindo exaustivamente tensa, de repente.
— Evan, não importa de quem é a culpa, você perdeu sua razão quando o machucou, só reconheça isso! — Esfreguei minha testa, impaciente.
— Eu não acredito que você tá se irritando comigo por essa merda toda! — falou como se estivesse decepcionado. Como se no mundo não existisse a possibilidade dele estar realmente errado nisso. — Quer saber? Eu não tô com cabeça pra isso. Preciso de um tempo!
Encarei suas costas, assustada, quando se virou em direção a saída.
— O quê?! Você está indo embora? Evan! — o chamei e ele se virou, zangado. Suavizei meu tom de voz, tentando demonstrar compreensão. — Vem aqui conversar comigo. Vamos resolver isso.
— Não tem o que conversar, Alison! E você está ocupada demais com seus novos amiguinhos de más intenções pra se importar em resolver alguma coisa. Essa é a verdade.
Se voltou para as portas novamente e eu, sem conseguir entender o que ele quis dizer com isso para continuar a argumentar, me surpreendi quando ele parou apenas para rir com sarcasmo e dizer:
— E pensar que Noah tentou me avisar que o problema era você e eu não o escutei.
Bateu a porta atrás de si e me deixou lá... trancada junto com o meu choque.
Noah tinha dito o quê?!
Meu olhar recaiu para a boneca princesa na mesa de centro e me estiquei para alcançá-la.
Olhei para o rostinho perfeitamente moldado, petrificado naquela expressão suave e serena. A minha cara torcida num misto de confusão e choque deveria parecer agora o polo oposto da dela.
O que me fez pensar novamente em Blake. Eu duvido que alguma vez já expressei tanta calma na frente dele.
— Por que ele acha que somos parecidas? — perguntei para a boneca, sem pensar.
Aparentemente ela seria a minha única companhia pelo resto do dia mesmo. E eu sabia que, assim como Blake, ela também não me julgaria, então... — E o que Noah pode ter dito a Evan sobre mim? Acha que devo perguntar?
Balancei a boneca para os lados, a fazendo negar. — Sim, estava ficando maluca.
— Eu também não — concordei com a boneca. — Já é a segunda vez que tenho um desses dias que começam de uma forma e se transformam em algo totalmente diferente. Acha que isso pode ser porque Evan está certo e eu estou pensando demais nos meus "novos amiguinhos"?
Não podia fazer a boneca dar de ombros, mas foi assim que minha consciência reagiu por ela.
Suspirei, me deixando respirar por um segundo. Alguma música calma da Clairo tocava baixinho agora. Fechei os olhos decidindo o que faria pelo resto do dia: encostaria ali mesmo ao som de músicas calmas com a esperança tola de pegar no sono, esperando acordar disposta para lidar com todas estas perturbações.
Mas, por hora, eu já estava enjoada deste dia agridoce.
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Tudo o que Sonhei
RomanceO melhor amigo, o crush ou o ídolo? Para a romântica e desajeitada Alison, todos estes clichês se tornam realidade num curto período de tempo e, quem olhasse de fora, diria que isto tinha de ser o destino agindo a favor de uma pobre alma... certo...