19.1 - Ritmo e "blues"

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Caleb

— E AÍ, PORRAAAAAAA!
Encarei de frente o cara loiro, muito vermelho, sorridente e bêbado que havia berrado na minha cara. Eu não saberia dizer quem ele era, ou de onde veio, nem se minha vida dependesse disso.
—... E aí? — respondi, no entanto.
O que foi o bastante para fazer uma espécie de frenesi entrar em combustão dentro dele, que esbravejou um "UHUU", extremamente ensurdecedor mesmo com a música alta, e, sem mais nem menos, correu até a janela aberta da minha sala, se lançando para fora em um impulso desajeitado.
As pessoas que viram o acontecido, assim como as que perderam o show, se assustaram com o baque pesado de seu corpo em meu gramado e imediatamente correram até a janela, preocupadas.
Eu estava sentado no sofá da minha sala, que arrastaram para o canto mais cedo, e algumas das garotas que estavam comigo se levantaram também com seus gritinhos assustados, perguntando-se se o cara estava bem. Entretanto, as que restaram, não apenas tomaram os lugares ao meu lado quase no mesmo segundo, como também me impediram de seguir a comoção, me puxando de volta sentado.
Mas não tive muito tempo para me aborrecer, pois logo todos ouvimos, vindo do lado de fora:
— FESTA FODA PRA CARALHOOOO!
Todos ovacionaram em exaltação, voltando a pular e dançar pelo cômodo abarrotado de gente. A preocupação geral, aparentemente, desvanecida como se nunca houvesse motivo para existir.
Encostei de volta no sofá, comentando com ninguém em especial:
— Aquele cara não estava bêbado...
— Ele tá só se divertindo — a garota ruiva a minha direita disse, passando a mão na parte interna da minha coxa.
— É, relaxa você também, gato... me deixa te desestressar — ronronou a loira, à esquerda. Sem me dar tempo para questionar nada, ela somente enfiou suas garras na minha mandíbula e puxou meu rosto, tomando minha boca na sua e, puta merda, eu fiz tudo, menos relaxar! Com a sensação daquela boca faminta sugando a minha, as coisas começaram a "enrijecer" muito rápido.
Suas mãos foram para minha camisa, me puxando com força para o seu lado e, se minha língua não estivesse dentro da boca dela agora, eu lhe diria que não tinha intenção de ir a lugar algum. Porra, ela sabia beijar... Contudo, no segundo em que desaceleramos, entendi o porquê de sua obstinação, quando a outra gostosa me puxou para o seu lado também, logo repetindo o exato processo de engolir minha cara com vontade descarada e, nossa... eu não queria decepcionar ninguém.
Esta coisa entre as duas e eu continuou a acontecer por alguns minutos e, conforme se tornava mais físico e "populoso", com outras garotas que tentavam a todo custo me alcançar, uma certa sensação de tédio, de alguma maneira, começou a me acometer. Quero dizer, não era como se fosse a primeira vez que me encontrava nesse tipo de situação — nem a segunda, terceira, quarta... —, então já sabia onde isso iria dar e, por mais incrível que soasse até para mim mesmo, eu não estava lá muito animado. Ou necessitado, graças ao prestativo Daniel.
Com o tesão se recusando a continuar a contribuir, a indiferença apareceu e acionou o piloto automático. Minha língua estava sendo chupada por alguém que não era a mesma pessoa que me acariciava por baixo da camisa, mas meu cérebro estava analisando:
Vinte e poucos colegas de trabalho...
No máximo, dez parceiros de bebedeira...
Uns quinze conhecidos aleatórios...
Mesmo incluindo meus poucos amigos mais próximos, e a possibilidade de que todos os meus convidados oficiais tivessem trazido seus respectivos parceiros, ou algo assim, a matemática simplesmente não batia. Não com o exército de lunáticos que povoava minha casa e que apenas continuava a aumentar!
Ok... não é como se minhas festas não funcionassem bem dessa forma quase todas as vezes — as festas que já dei no meio da semana foram um pouco mais paradas —, mas sempre foi algo esperado e sem motivo aparente. Eu twittava às dez em uma noite qualquer, dizendo que estava afim de ficar louco na minha casa e as pessoas apenas surgiam de todos os lados, era como meu "círculo social" funcionava.
Só que desta vez eu tinha dito que estaria celebrando minha estreia em uma galeria famosa. Disse apenas para a porção de pessoas que eu sabia que entenderiam a importância disso, que gostariam de me prestigiar ou que simplesmente animassem um pouco a festa.
Não que estivesse buscando mais elogios e tapinhas nas costas depois que saí da galeria, mas absolutamente ninguém havia dito uma palavra sobre isso durante toda a hora em que estive com o traseiro colado neste sofá sendo apalpado por todos os lados.
Pareciam que as pessoas sequer sabiam o porquê disso tudo e não se importavam nem um pouco com quem havia twittado. Elas só queriam... relaxar.
Era ínfima a parte minha que se incomodava de verdade com isso, mas o simples fato dela agora existir estava me sufocando mais do que a troca insana de saliva grupal a qual fui submetido.
Contudo, decidi que não estaria mais participando, no momento em que uma bomba ambulante de nicotina conseguiu se sentar no meu colo para se incluir na brincadeira.
— Não, não, não... com licença, querida, agora já chega. — Empurrei-a o mais gentil que pude para longe de mim, enquanto tentava manter meu rosto afastado de seus cabelos claros que exalavam um cheiro fortíssimo. Me desvencilhei das outras duas também, lhes oferecendo um sorrisinho sem graça antes de andar para longe.
A última garota pareceu um pouco ofendida, mas infelizmente não conseguiria ficar para lhe explicar que de nada tinha a ver com a sua aparência. Muito pelo contrário, ela era tão quente quanto as outras.
Sua escolha de vícios era o problema.
Talvez pelo meu irmão mais velho, que mais parecia uma chaminé a um tempo atrás, eu simplesmente havia me tornado intolerante quando se tratava de cigarro. Nenhum outro cheiro ou gosto me enojavam mais do que este. Além disso, qualquer pessoa com a mínima saúde mental não quer ficar pensando no próprio irmão quando dá uns amassos em alguém. Até os galinhas têm limites!
Expirei uma risada breve com meus próprios pensamentos, mas, no segundo em que abri a porta da frente da minha casa, encontrando de imediato Blake e Katrina num ponto afastado, com suas expressões alegres enquanto conversavam um com o outro, qualquer traço do meu humor apenas estourou e evaporou no ar como uma bola de sabão.
Me perguntei umas cinco vezes se deveria fingir que não havia incômodo algum me queimando por dentro e ir até eles, participar de qualquer que fosse o assunto que parecia tãaao engraçado, mas nenhum átomo do meu corpo estava inclinado a fazer isso. Nem mesmo minha imaginação queria pensar em como seria se, de repente, eu me aproximasse e de alguma forma ela se focasse apenas em mim por um momento.
Todo o resto, esquecido. Ela prestando atenção apenas em mim, ela eventualmente me beijando, ela ocupando minha cama mais tarde.
Nada em mim parecia acreditar que isso seria possível e o fato de ainda imaginar me irritava pra cacete!
Entrei de volta, tentando encontrar meu caminho entre a multidão de pessoas, enquanto me forçava a pensar que estava tudo bem. Porque, honestamente, estava.
Meu irmão é o melhor cara desse mundo e ela não merecia menos do que ele. E isso valia ao inverso também. Era certo que ambos se unissem, simplesmente fazia sentido demais para questionar.
E, quando acabei chegando na minha cozinha, encontrei o que provava meu ponto com exatidão. Parecia que, com esta linda garota deprimida, que estava prestes a abocanhar um pedaço enorme de bolo estragado, o universo parecia apenas nunca querer acertar.
— Ali, não! Não come isso! — adverti e Alison travou sua mão no ar, o bolo quase em sua boca. Ela o largou de volta no prato no mesmo instante, com suas outras fatias, como se ele fosse radioativo.
— Desculpa, e-eu não sabia que não podia! Eu... — gesticulou, com os olhos arregalados — Tinham outras pessoas comendo e eles deixaram esse pra trás, eu não... — Sua voz vacilou e eu notei que seus olhos começavam a marejar. — Eu achei que fosse pra festa... desculpa.
— Não, não, docinho, está tudo bem... não é isso... — Comecei a ir até ela, hesitante em fazer qualquer coisa que acabasse fazendo-a chorar de vez. Eu não saberia o que fazer, caso isso acontecesse.
Haviam apenas duas outras garotas na cozinha, também desconhecidas, e elas pareciam ter esquecido qualquer que fosse seu assunto de antes para se focarem em Alison, trocando sussurros e risadinhas maldosas uma com a outra. O que, provavelmente por não entender o sentido, me transformou de preocupado a irritado quase no mesmo segundo.
— Qual é a graça?! — desafiei, cruzando os braços.
— Nenhuma. Só estamos aliviadas que alguém finalmente disse a ela para parar — respondeu a de cabelo curto, inflando suas bochechas na direção de Alison logo depois, que ficou dolorosamente chocada.
Ela e a amiga soltaram gargalhadas estridentes, me fazendo querer cobrir as orelhas.
— Pois é, ele está sendo seu amigo, queridinha! — a outra completou, piscando seus cílios que só não eram mais falsos que seu tom "amigável".
Alison se encolheu na cadeira e a afastou, começando a se levantar, mas logo pousei uma mão em seu ombro, o esfregando carinhosamente para acalmá-la. Engolindo a raiva em seco, estendi a mão livre pegando o prato onde ainda havia quase metade do bolo alaranjado e ofereci a elas.
— Por que vocês não comem? Estou precisando de alguém com bastante energia pra me acompanhar mais tarde. — Pisquei um olho para elas, encenando um meio sorriso cafajeste e genérico. As duas se animaram visivelmente, tirando o prato da minha mão e querendo se aproximar com interesse. Segurando a expressão no rosto, dei um passo para trás. — Me deem licença por um momento? Preciso falar com a minha amiga, encontro vocês assim que acabar aqui.
As observei saírem pela porta que dava para o quintal, me lançando risinhos e flertes encantados, e depois revirei os olhos, puxando outra cadeira para me sentar ao lado de Alison.
Ela imediatamente começou a se explicar:
— Eu acabei de chegar aqui! Mal comi um pedaço e elas falaram como se eu tivesse comido tudo! Eu te juro que as pessoas levaram os outros, Caleb, aquele só sobrou porque estava num canto do balcão e...
Plantei um beijo carinhoso em sua bochecha, fazendo suas palavras morrerem.
— Que bom que você não comeu muito. Ele estava no canto porque eu esqueci de jogar fora depois que ele me fez passar mal hoje de manhã.
Alison piscou, absorvendo minhas palavras, mas logo se alarmou de novo.
— E você deu pra elas?! Caleb, elas vão passar mal também!
Dei de ombros, passando um braço em volta dos seus.
— Elas vão passar algumas horinhas, no máximo, vomitando e se sentindo feito merda, como rolou comigo. O que eu espero que as ensine a não serem duas cadelas despeitadas, que fazem piada com outra pessoa só por ela ser obviamente mais gata do que as duas juntas.
Um leve rubor apareceu em seu rosto, mas o desânimo não a abandonou.
— Não era por isso, Caleb. Obrigada, mas você não precisa fingir que não entende. Eu sei que sou um pouco... — Olhou para o próprio corpo, mas logo suspirou, desistindo.
— Não um pouco. Totalmente. Você é um completo arraso! Quando vai enxergar isso? — perguntei para tentar animá-la, mas parte de mim realmente queria entender.
— Ah, eu enxergo todos os meus "arrasos" muito bem! Hoje em especial eu estou completamente arrasada! — Riu, triste e sarcástica.
— Engraçadinha. — Fiz uma careta entediada pra ela. — Você entendeu muito bem.
— Entendi, sim. E obrigada, de verdade. — Sua expressão se aliviou um pouco. — Você não precisa dizer nada disso.
— Preciso, sim, porque você não percebe. "Estou sendo seu amigo, queridinha" — o comentário a fez rir entredentes de uma forma adorável, que franzia seu delicado nariz de forma característica. Ela é realmente uma graça...
— Claro que está...
Quando ela não acrescentou mais nada, apenas parecendo me estudar por um momento, aproveitei para fazer o mesmo, notando cada traço de seu rosto que foi mudando conforme seu sorriso desaparecia em uma expressão acanhada. O castanho escuro de seus olhos brilhou visivelmente, quando ela, enfim, conseguiu o que precisava para dizer, somente:
— Ei... A exposição hoje foi maravilhosa, meus parabéns!... Você merece todo o sucesso que conseguir.
Um sorriso lisonjeado apareceu involuntariamente, crescendo junto da sensação quente que surgiu no meu peito.
— Muito obrigado, docinho. Significa muito pra mim ouvir isso de alguém tão talentoso como você.
Ela permaneceu quieta mais uma vez, desviando o olhar, então esmaguei mais um beijo em sua bochecha e me levantei, dizendo:
— Só para que fique claro: na minha casa você pode tudo. Duvido que tenha alguma coisa realmente boa perdida nessa cozinha, mas se você encontrar e quiser comer, vá em frente! — Ela assentiu, com uma sugestão de um sorriso. — Só... cheque a validade antes, ok? Vai que...  Dei de ombros, ela murmurou um "ok, obrigada" risonho e eu soprei um beijo no ar para ela, me virando para voltar a sala de estar.
E lá ainda estava ele: o enxame alucinado de desconhecidos! Para onde eu esperava que eles fossem, não é?
Todos estão muito confortáveis — observei com ironia, cruzando os braços e me escorando no balcão que dividia a sala e a cozinha.
Havia uma porção de gente, dançando pelo centro do cômodo, nas escadas, pessoas sentadas em vários pontos diferentes, de janelas até no próprio chão, fazendo companhia para os variados copos e garrafas descartados para todos os lados... pontas de cigarros suspeitos brilhavam aqui e ali, a fumaça deles, assim como a de alguns bongs nas mãos de uns e outros, permeavam o ar com o ritmo pesado do pop que tocava...
Talvez por minha casa estar tão cheia quanto a galeria, parte de mim esperou reconhecer pelo menos o rosto de Danny em algum lugar neste meio, mas nenhum sinal dele e eu não deveria esperar que isso também fosse diferente. Ele já havia conseguido o bastante por hoje. Simples, divertido o suficiente e prático... a mesma asneira de sempre.
Na mesma linha de pensamento, me recordei quando finalmente saí daquele banheiro com ele e avistamos Evan no mesmo canto onde havia deixado Kat, conversando com ela e com seu outro amigo gostoso — Incrível como Evan têm muitos desses... Eles pareceram preocupados, mas não me aproximei naquele momento porque não havia sido chamado no assunto, mas Alison aparecer pouco depois com o rosto inchado e aquele olhar derrotado me fez entender muito, mesmo antes de Kat fofocar para mim, sem muitos detalhes, que Evan e aquele amigo haviam pisado na bola feio com ela, ironicamente, tentando consertar as coisas.
Eu não tive ideia do que poderia ser e ainda não tinha.
Mas se Alison já parecia abatida antes, o que quer que eles tivessem feito para perturbar mais sua mente, me fazia verdadeiramente questionar o que ela estava fazendo aqui, neste ambiente, no mínimo, inóspito.
Mesmo já imaginando, havia conhecido o suficiente sobre ela para concluir que se distraía e divertia mais em seu loft, do que neste hospício. Ela tinha dividido isso comigo no início da semana e, principalmente agora, posso afirmar que me senti melhor naquela noite, do que agora, quando realmente tinha algo a comemorar.
Como se me oferecesse uma solução que eu não sabia necessitar, alguém escolheu logo este momento para colocar "Blinding Lights"¹ para reverberar alto no sistema de som. Me virei de volta para Alison assim que reconheci as primeiras notas animadas. Era nossa música!
Mas ela sequer parecia ligada ao que acontecia a sua volta, ainda sentada no mesmo lugar, encarando com tristeza algum ponto perdido na madeira da mesa. Sua cabeça, aparentemente, já bem longe daqui.
Com o seu término recente, as discussões que teve, esta festa barulhenta e sabe-se lá o que mais lhe perturbava a mente, ela definitivamente estava tendo uma noite pior do que a minha.
Seja o amigo dela, queridinho — a voz nojenta daquela garota de antes ecoou pela minha mente, com a frase reformulada.
Exalei uma risadinha silenciosa, indo até Alison.
— Vamos lá, preciso de companhia pra essa.
Ela olhou para minha mão estendida a sua frente e depois para o meu rosto, criando vincos intensos de confusão em sua testa.
— Dançar, comigo... vamos — esclareci apenas e ela levantou as sobrancelhas, logo desviando o olhar.
— Eu não sei dançar, Caleb.
— Sabe, sim! Para com essa história. A gente dançou essa na sua casa, vamos lá! — Puxei levemente seu braço e ela levantou, mesmo ainda balançando a cabeça em negação.
— Mas foi lá, entre a gente... — Olhou para a multidão por cima do meu ombro, acrescentando: — Sem ninguém olhando.
— É só não olhar pra eles também. — Segurei seus ombros por trás, a guiando até a sala. — Vai ser como se não tivesse ninguém.
— Mas... eu não consigo. — Travou seus pés no lugar e se virou para mim. — Você sabe como eu sou, Caleb... a última coisa que eu preciso hoje é pagar algum mico em público.
— Ali... tá todo mundo chapado. Eles estão todos ocupados com os próprios micos, esquece eles! — Segurei ambas as suas mãos, acariciando os nós dos dedos com meus polegares. — Por favor... só uma dança. Isso aqui tá um saco e eu queria mesmo me divertir hoje. Por favor?...
Segui seus olhos, quando ela tentou os desviar dos meus, lançando meu melhor olhar de cachorro perdido, tentando persuadi-la.
Alison respirou fundo, mas acabou assentindo, ainda que extremamente relutante. Meu sorriso enorme, no entanto, fez algo positivo cintilar em seus olhos escuros.
A levei de mãos dadas até o meio da sala, onde todo tipo de loucura ainda acontecia e, enquanto me movimentava no ritmo, tentando fazê-la me acompanhar, foi exatamente como suspeitei, ninguém estava interessado. Mas Alison continuava encolhida a minha frente, olhando em volta envergonhada como se estivesse nua. Aí, sim, a atenção geral seria toda dela...
— Ei... — falei perto de seu ouvido e ela olhou para mim com receio. — Olha só pra mim... só eu estou aqui... só eu quero te olhar. — Coloquei seus braços em meus ombros com gentileza, descansando minhas mãos em seus quadris depois, enquanto cantava, para que apenas ela pudesse ouvir, que "não poderia dormir, enquanto não sentisse seu toque".²  Uma sugestão de um sorriso apareceu em seu rosto e eu soube exatamente no que ela estava pensando. Então, em uníssono, cantamos os "Hey, hey, hey..." juntos, como no dia em que estivemos em sua casa, começando a pular no ritmo feito doidos com a contagiante onda de notas sintéticas que se seguia nesta parte, nos fazendo sentir como se viajássemos com elas.
Até o momento em que os versos recomeçavam, Alison já havia se animado o bastante para cantá-los de volta para mim, assim como eu fiz para ela com o mesmo fervor alegre.
Estávamos muito mais descoordenados do que da última vez, mas isso não nos impediu de continuarmos oscilando, rebolando e remexendo um contra o outro, flutuando nos movimentos ritmados com a música. E assim continuou com as duas próximas... três, cinco, nove... acabei perdendo a conta, adorando demais o quão próximos ficamos.
Com o passar do tempo, nos divertimos de verdade, bebemos uma coisa outra, rimos juntos de tudo e de nada, conversamos merdas sem sentido nas raras vezes em que nos sentamos, para então voltarmos a dançar, quando algo nos animava de novo.
Tudo se passou rápido, depois que comecei a finalmente aproveitar a noite e, eu não saberia dizer quando, mas algo em mim notou que acabei seguindo meu próprio comando sem querer: era só para ela que eu estava olhando. Só o que enxergava era toda sua amabilidade e atenção, mesmo que cada vez mais alcoolizada, focadas exclusivamente em mim.
Não admitiria se me perguntassem, mas eu sabia que era só por isso que estava tão contente.

...

¹. Música do The Weeknd.
². "Não, eu não consigo dormir até sentir o seu toque". Verso de Blinding Lights que Caleb cantou.

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