3.2 - Um Dia com Blake Lowell

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Alison

Já passavam das seis e, neste meio tempo, inventei que estava faminta só para fazer Blake me acompanhar em um lanche da tarde e ingerir alguma coisa.
Depois disso, ele decidiu ajeitar um canto confortável, mas também temporário, para a sua gata na sala, dizendo que em breve pretendia voltar para seu próprio apartamento que possuía por aqui, na cidade de Nova York.
O restante da tarde, ele dedicou a segurar no ar um cadarço velho que encontrou para brincar com Beth, sacudindo-o no ar e repuxando quando ela ficava sobre apenas duas patinhas, tentando alcançar, morder e arranhar o cordão.
Sim... ele achou interessante me homenagear ao escolher o nome dela, mesmo que eu tenha explicado que ele estava, na verdade, homenageando minha avó materna que eu sequer conhecia direito.
"Não estou pensando em Elizabeth nenhuma. Estou pensando em você e dando um novo significado ao nome que você tanto detesta."
Eu o convenci a se ater apenas a parte do nome ao qual eu era indiferente e esquecer a que me dava lembranças desagradáveis, mas nenhuma outra argumentação teve muita relevância para além destas condições. Decidi que surtaria mais tarde pelo fato de Blake Lowell estar dando o meu nome para sua gata de estimação, pela qual ele já estava apaixonado, e pelo o que isso dizia, exatamente.
Visto que havia chegado aqui por volta das duas da tarde e agora o laranja do pôr-do-sol já me hipnotizava através de uma das janelas enormes da sala de Caleb, acho que poderia dizer com propriedade que nenhum concurso ou sorteio que já tenha me inscrito no passado poderia ter me proporcionado este interessante "Dia com Blake Lowell" que eu estava vivenciando.
Contudo, sentia certo pesar por já precisar finalizá-lo, pois meu namorado havia me chamado de manhã para — suspiro mental — ver um documentário com ele e eu não queria deixá-lo esperando muito mais.
E, com estas intenções implícitas de ir embora, depois de horas aqui sem saber como tocar no assunto primordial, ou pensando se deveria de fato fazer isso, foi exatamente este momento que Blake decidiu que lhe seria conveniente perguntar:
— Então... Caleb não usou a palavra "depressão" quando foi fofocar da minha vida pra você, usou?
Até mesmo a energia quente do pôr-do-sol pareceu congelar junto de meus nervos.
Virei minha atenção para Blake, que não havia desviado a dele da brincadeira com Beth, tentando entender se a indiferença em sua voz era tão real quanto sua postura demonstrava ser.
— Ele pode ter usado uma vez ou duas... — respondi, num murmúrio hesitante.
— Dramático, cabeça-oca... — Blake exalou, balançando a cabeça em negação.
— Ele só está preocupado com você — defendi, com medo de acabar deixando algum conflito entre os dois. — Ficou com medo de chamar a atenção da mídia procurando alguma ajuda ou dica profissional, já que você quer permanecer escondido por um tempo, então ele ter vindo falar comigo foi mais um ato de desespero do que qualquer outra coisa.
— Desespero desnecessário — contestou, um pouco irritado. — Eu não estou com depressão, só... desanimado com algumas merdas.
Escorreguei do banco acolchoado sob a janela e sentei de pernas cruzadas a sua frente, no chão.
— Blake... — chamei e ele apenas me lançou uma olhadela como resposta. — Ele me disse que você está "desanimado" assim a quase dois meses. Disse que você mal come e que, a última vez que te viu sair de casa, foi cinco dias atrás, quando você ficou do lado de fora da festa que ele organizou apenas pra te dar a oportunidade de socializar um pouco. — Ele deu de ombros, desdenhando. — Ele disse também que a mãe de vocês tem ligado, mas você não fala com ela.
Ou com Mackley, que você sequer permitiu que soubesse onde está agora. Assim como...
Bianca. — Engoli em seco, aflita por não saber se este era um território seguro.
Mackley Devone é um dos guitarristas da banda de Blake, a Sleep Kickers, mas também conhecido publicamente como seu melhor amigo, a pessoa mais próxima a ele, fora Caleb; Ele era o meu segundo membro favorito da banda.
Já Bianca Jones... Bom, ela é uma modelo e aspirante à atriz, e simplesmente possui muita arrogância e prepotência aparente para que eu consiga gostar dela. E nem levo em consideração minha irritante parte que insiste em sentir inveja de sua beleza esculpida por Afrodite. Mesmo nestes casos, é difícil para mim concluir que "desgosto" de alguma pessoa simplesmente pelo o que ela é e não por suas atitudes. Ainda mais uma pessoa que eu sequer conheço. Mas o nariz sempre empinado e a pública antipatia de Bianca com qualquer pessoa que já vi interagir com ela na mídia, conquistaram este feito. Eu a respeitava, no entanto. E aprendi a conviver com o fato de que Blake gostava dela, e muito.
Apenas fazia sentido, ela "combinava" com ele e, seja lá o que fosse que visse nela além da casca, eu sabia que era sincero e verdadeiramente bonito por ele parecer ser assim: real.
E eu ainda acreditava que ele era. Mesmo que tenha me beijado usando uma aliança de noivado que já estava lá há um ano e meio.
Acho. Não lembro de reparar se ele estava ou não de aliança. Agora, ele não estava.
Foi estranho quando pensei em Bianca, em algum momento dos últimos dias, mas preferi manter minha fé na índole de Blake e apenas pensar que algo aconteceu e ainda não alcançou os tabloides.
No entanto, aqui estava ele, bem na minha frente, totalmente capaz de falar por si mesmo, mas não parecendo ter a mínima vontade de fazer isso.
Relaxei meus ombros num suspiro.
— Eu não estou aqui pra te julgar, ou pressionar a falar, Blake. Quem sou eu pra fazer essas coisas? Quero dizer... eu sou sua fã. Mas isso não significa que te conheço ou que também não esqueci completamente do meu próprio namorado quando te deixei me beijar. Mas a questão é que algo está errado, Caleb se importa e você se afastou dele e de todo o resto do mundo. Então ele procurou a mim... a última pessoa que conseguiu manter uma conversa com você por mais de cinco minutos, pelo o que ele me disse. Você pode continuar conversando comigo se quiser, Blake. Eu me importo também.
Uma rajada de incômodo passou por seus olhos, presos ao tapete da sala, onde agora Beth dormia encolhida.
— Por quê, Alison? — Me encarou. — Por que se importaria? Fãs só se importam com datas de show ou em criticar a qualidade de álbuns que demoramos meses pra gravar como se fossem malditos profissionais. Não é como se essa merda toda fosse parar só porque eu tô cansado. Você vai ficar bem, só espere algum outro rockstar bonitinho e revoltado estourar por aí.
Ai!
Choque surpreso me percorreu e ele me forçou um irônico sorrisinho melancólico, antes de desviar o olhar novamente.
Meu ego de fã, que havia acabado de ser esfaqueado, fez muitos pensamentos alcançarem a ponta da minha língua. Pensamentos magoados, mas carregados de sentimentos de verdadeiro valor e admiração que lhe dariam uma surra de moral.
Entretanto... novamente, eu precisava me lembrar do porque estava aqui.
Blake estava ferido e, seja lá o que fosse a perturbação que o acometia, agora fazia com que se sentisse acuado o suficiente para me atacar, numa tentativa de me afastar também. Não funcionaria.
E eu mostraria para ele o porquê.
— Na Heaven's, onde trabalho, criamos uma política de não fazer isso, sabia? — Apontei para Beth, ainda dormindo pacificamente. — Acho que todo abrigo tem, na verdade.
Blake fechou a cara em confusão com a mudança de assunto.
— Simplesmente trazer um animal para um possível dono, sem que a pessoa esteja ciente — expliquei, começando a remexer distraidamente a renda azul da barra da saia do meu vestido. — Porque o risco da pessoa não querer ficar com eles é muito grande e a rejeição dói. Eles são irracionais, mas eu tenho certeza que sentem. Preferimos evitar, porque... é somente triste demais pra todos nós.
Blake se aproximou um pouco e segurou meu queixo, fazendo-me olhar para ele.
— Alison, assim que coloquei meus olhos nela, eu me apaixonei. Eu jamais faria uma coisa dessas, simplesmente te ligar falando que não a quero mais! Ou abandoná-la por qualquer motivo. — Seu tom era apreensivo, mas sua expressão, firme. — Não precisa se preocupar com isso. Eu não estou depressivo, só tenho motivos suficientes pra não estar muito bem, mas isso não quer dizer que não amei a companhia.
Abri um sorriso gentil.
— Bom, eu sei disso. E aí está a sua resposta.
Abaixou a mão, piscando sem entender.
— Como assim?
— Você me perguntou porque eu me importaria. É isso: eu te acompanhei por anos o suficiente pra conhecer um pouco sobre quem você é e me permitir seguir com uma ideia impulsiva, de só deixar uma vida inocente sob sua responsabilidade, sem a mínima preocupação. Você é esse tipo especial de pessoa, Blake. As pessoas deveriam ajudar umas as outras de qualquer forma, mas...
é por isso que eu me importo tanto assim, e ainda mais.
Se recostou de volta contra o sofá atrás de si e exalou, com um brilhante olhar surpreso.
— Uau... você é boa!
— Eu sou a melhor! — corrigi, fingindo uma expressão convencida, e ele sorriu, com uma sobrancelha arqueada. — O quê? Foi você quem disse que eu deveria me orgulhar mais de mim mesma, é o que estou fazendo.
— Mesmo? E como isso está funcionando pra você? — Entortou a cabeça, me dando uma longa olhada por inteiro e eu me perguntei o que exatamente estava procurando ou pensando.
— Muito bem, na verdade! Vou ser sincera: era algo que eu precisava ouvir de alguém. Eu sei que tenho muitas qualidades legais, mas nunca me senti segura em me expor, em chamar a atenção. Sempre tive muito medo de reações hostis. Mas, depois que você... — me deu o melhor beijo da minha vida! — me enxergou daquela forma, eu acabei percebendo que as reações não importavam. Eu sabia que era uma pessoa legal e o artista que mais me inspira nesse mundo concorda comigo, então dane-se o resto.
Ele sorriu em aprovação, mas certo ceticismo perdurou em seu rosto.
— Eu sou o artista que mais te inspira no mundo? — Assenti, sem pensar duas vezes, com uma cara de "não é óbvio?!" — Alison, você provavelmente é a pessoa mais doce que eu já conheci por me dizer isso, mas... gatinha... eu sou só o baterista. Eu conheço a importância do instrumento, estudei, sei sobre a percussão, o ritmo, os movimentos, a intensidade, os sons... mas acaba aí. Por que isso te chama mais atenção do que o vocalista ou a guitarra, como a maioria das pessoas?
Minha postura caiu para a frustração. Ele realmente ainda não havia entendido?
— Não é a bateria, Blake, é você! Eu não entendo absolutamente nada da parte técnica da música, só sei que qualquer um consegue ver a maestria com que você domina aquilo tudo. E, eu também sei que você é o único membro da banda que consegue tocar todos os instrumentos dos outros membros, e alguns mais, com a dedicação incrível que você tem. Aliás, você compôs e produziu treze, das quinze músicas do reconhecido e premiado melhor álbum da Sleep Kickers, "Making Yourself" e, como se isso tudo já não bastasse, você canta... — divinamente, maravilhosamente, sensualmente, excelente! — muito bem — me contive. — Ao meu ver, mesmo que os outros rapazes também sejam muito talentosos, você é quem praticamente carrega aquela banda nas costas com todo o seu empenho apaixonado de um verdadeiro artista. É isso que me inspira!
Blake me encarou por alguns longos segundos com a boca levemente aberta. Ao mesmo tempo em que estava perdido em seus próprios pensamentos, parecia também absolutamente abismado, como se tivesse acabado de lhe revelar que eu era o Batman esse tempo todo, ou algo assim.
E, quando finalmente decidiu falar, foi para lançar mais descrença:
— Não, você só está dizendo isso porque ainda acredita naquela baboseira de depressão. — Sorriu, sem graça, coçando a barba nervosamente. — Não tem como alguém pensar tanto assim de mim, você sequer me ouviu cantar pra dizer isso! — falou como se só agora o pensamento tivesse estalado em sua cabeça e eu pesquei meu celular do bolso do vestido no mesmo segundo, já desbloqueando e indo atrás do que procurava. — Eu não canto em público e também não contribuo com os vocais na banda, você não poderia ter certeza disso.
— Você não tem Instagram, não é, Blake? — Retórica. Era óbvio que eu já sabia que ele não tinha essa ou qualquer outra rede social.
— Não...
— Mackley tem. — Escolhi um dos vídeos publicados no perfil do guitarrista e levantei meu celular na frente de seu rosto.
Aumentando o volume aos poucos, assisti Blake se surpreender com a imagem e som dele mesmo, de olhos fechados, cantando o refrão de "Black", de Pearl Jam, com a afinação ideal para o seu tom profundo de voz, enquanto dedilhava as cordas de seu violão no ritmo da música, com as habilidades de um verdadeiro profissional.
Eu poderia fechar meus olhos e ver a imagem em minha mente, de tanto que já havia visto aqueles míseros quarenta e sete segundos, enquanto o som continuava a rolar: sem camisa, apenas de bermuda, os pés descalços e os braços tatuados em volta do instrumento, dando uma impressão de firmeza carinhosa, como se apreciasse demais o que fazia e jamais quisesse que aquilo acabasse... o reflexo da água da piscina ao lado em seu corpo... o moicano caído, preguiçoso demais para se arrepiar... a calma de sua voz e dos movimentos de seus dedos, deixando a música simplesmente fluir através de seu talento natural, não superando o artista original, mas, sim, fazendo jus a excelência da música a sua própria forma.
Esse vídeo, assim como tantos outros que Mackley postava com pouquíssima frequência, simplesmente faziam qualquer outra coisa parecer insignificante para mim no momento em que os colocava para reproduzir, até que os segundos cessassem. Este, em especial, havia sido o primeiro que vi, seis anos atrás, quando descobri a existência de Blake Lowell neste mundo. Foi fascínio à primeira vista.
Acabei descobrindo sobre a Sleep Kickers mais tarde, depois de passar horas escavando a internet atrás de mais vídeos exclusivamente focados em Blake, para então descobrir que, seguindo a falta de democracia em bandas em geral, Tom Clyde era quem estava no topo. Não me leve a mal, o som da Sleep Kickers é incrível, mas não se compara a Blake cantando e tocando violão sozinho, ou qualquer outro instrumento, tão perdido em seu próprio talento que sequer nota que seu amigo está sempre por perto, filmando e publicando tudo.
Eu amava mais a Blake, platonicamente falando, mas, se um dia também conseguisse conhecer Mackley Devone, eu iria abraçá-lo com muita força em agradecimento, espremendo toda aquela sedução italiana que ele exalava, como se fosse um bicho de pelúcia.
— Eu não acredito que aquele filho da puta...!
— Está fazendo um favor ao mundo — completei, interrompendo seu acesso de raiva, e recolhi meu celular de volta ao meu bolso.
— Ele não deveria ter feito isso sem a minha permissão! Aquele bastardo, imbecil... — Apoiou sua cabeça nas mãos, esfregando o moicano nervosamente, o pouco de seu rosto que eu conseguia ver parecia estar vermelho.
Estava prestes a lhe perguntar o que havia de tão ruim assim, no entanto, a compreensão caiu antes sobre mim com o peso de um maldito piano.
— Você está com vergonha?!
Blake bagunçou todos os seus fios mais uma vez e passou as mãos no rosto, antes de afastá-las. Elas estavam tremendo!
— Estou nervoso! Irritado! Irado com toda essa situação! — praticamente rosnou, fechando as mãos em punho.
Simplesmente não aguentei mais esse rodeio e decidi apenas perguntar:
— Blake, o que exatamente aconteceu? — Jogou seu olhar duro para cima de mim, o azul de suas pupilas parecendo gélidos. — Ok, você não precisa me contar, se não quiser! — Levantei as mãos em rendição. — Mas você precisa contar a alguém, qualquer um em quem confie... principalmente se o problema for a música. Eu não sei como a insegurança conseguiu afetar a você também, chega a ser um absurdo, mas a verdade é que todos que sabem de seu talento podem te dizer com todas as letras que você se garante, seja lá qual for o problema. — Dei de ombros e sua expressão pareceu suavizar, quando se focou em mim novamente. — Por favor, não se deixe derrubar... converse com alguém.
Ele se aproximou até ficarmos frente a frente, segurou uma de minhas mãos nas suas e plantou um beijo no dorso dela.
— Quero conversar com você. É que... não é nada demais, na verdade, mas mesmo assim consegue me assustar pra caralho. — Fechou os olhos, se repreendendo. — Desculpe...
— Tudo bem. — Toquei seu rosto numa carícia impensada. — Pode falar como quiser e o que quiser.
Me deu um sorriso afável, como se agradecesse, mas logo seu rosto ficou sombrio novamente.
— Bianca me traiu com Clyde.
Meu queixo foi ao chão e estava pronta para exclamar uma descrença, mas a serenidade com que Blake meneou a cabeça, negando, calou minhas palavras, querendo apenas que ele continuasse a falar.
— Isso é o de menos, aconteceu uns cinco meses atrás. Não é... agradável ser traído, mas isso já parou de me incomodar a um tempo. Mas, no momento foi difícil lidar com isso tudo, ainda mais com aquela história idiota de "estamos apaixonados" que eles querem me enfiar goela abaixo. E, aparentemente, por consequência destas merdas, todos na produção da banda decidiram que o "clima de inimizade" estava mais prejudicando do que inspirando na criação de músicas para um álbum que tem que ficar pronto ainda antes das festas de fim de ano, segundo nosso contrato. — Ele suspirou, olhando em meus olhos, e eu senti que era aí que estava o "de mais" do problema.
— Então todos decidiram que era mais fácil substituir um baterista, do que ter que lidar com a minha "falta de profissionalismo", pelo menos durante este prazo.
Meu coração havia congelado, mas a indignação revoltante que me acometia era fervente, dolorosa, insuportável! Bando de imprestáveis!
— Eu não acredito que tiveram a cara de pau de te expulsar da banda! Meu Deus, Blake, eu sinto muito mesmo, você... não merecia uma traição dessas! Eu nunca gostei de Tom Clyde, essa é a verdade, mas... até Mackley?!
— Ah, não, desculpe. Eu esqueci de mencionar. Mack só ficou em L.A. porque eu o convenci.
Ele tinha que ficar pra eu ainda ter alguma voz no álbum. Mas, fora ele, a traição realmente foi coletiva. — Seus ombros caíram e ele focou seu olhar em nossas mãos, ainda unidas. — Os outros dois, Jonah e Connor... eles sabiam. Sobre Bianca e Tom, sabiam o tempo todo.
— Ah, Blake... — choraminguei, sentindo meu coração se apertar. Até os amigos o traíram!
Não me admirava que ele não estivesse querendo conversar com ninguém.
— Não, Alison, por favor... — pediu, acariciando meu rosto. — Não fica com pena, eu já tenho feito isso demais por mim mesmo. Eu fui tão cego, tão otário! E aí você apareceu me tratando como se eu fosse a porra de um deus, isso... mexeu tanto comigo. Por isso não queria te contar, você me fez sentir menos merda por um tempo.
— Eu não estou com pena de você. Isso tudo só é... tão errado! Eu não sei o que dizer, Blake, sinto muito — admiti, derrotada.
— Está tudo bem, gatinha. — Beijou minha mão novamente. — Só de estar com você e saber o quanto se importa, isso já tem feito demais. Com o resto, eu me viro depois.
Mordi o lábio inferior, forçando um sorrisinho.
Ele estava perto demais... de novo.
Se concentra, Alison!
— Vai se virar... como, exatamente? — perguntei, tentando me ater ao assunto.
Lambeu os lábios, endireitando as costas, antes de responder:
— Bom, eu não fui realmente expulso da banda. Só... suspenso. Como se isto fosse um maldito colégio. — Revirou os olhos. — E o último contrato que assinei termina só daqui a um ano, o que inclui este álbum, alguns eventos esporádicos e uma porra de turnê inteira pelo país. Já decidi que vou largar a banda, não tem chances de eu continuar naquele ninho de cobras e Mack disse que vai fazer isso também exatamente pela mesma razão. Nós só não sabemos quando. E nem o que vamos fazer depois disso. — Forçou um sorriso sem graça e eu arqueei uma sobrancelha.
— Como assim vocês não sabem?! Carreira solo! Ou melhor, dupla. Vocês dois, juntos. Ou separados, se quiserem, vocês que sabem! Mas vocês têm opções, poderiam até começar uma nova banda, com novos membros. Eu tenho certeza que muita gente talentosa iria adorar trabalhar com vocês! Deus, muita gente daria um braço por isso!
— Obrigado pelas ideias. E pelo entusiasmo. — A extensão de seu sorriso diminuiu aos poucos.
— Mas Mack e eu não estamos tão confiantes assim. — Abri minha boca para argumentar, mas ele continuou: — Alison, Mack é guitarrista base. Tudo o que ele sabe, Connor e eu o instruímos para fazer o som de segundo plano, não é nada técnico. Já eu... — riu sem graça — eu tenho problemas com multidões e a atenção excessiva que vem com elas. Por isso escolhi permanecer lá atrás, na bateria, onde não preciso encarar a ninguém e só descontar minha ansiedade nos pratos.
— Mas existe tratamento pra isso! E Mackley pode aprender mais, você pode ensiná-lo! — exclamei com obviedade.
— E qual empresário vai se interessar em um agorafobico e em um estudante para um contrato, hein? Simplesmente não é fácil assim de acontecer.
— Então faça uma conta no Instagram e torne fácil! Comece gravando a si mesmo, publique, divulgue seu talento... vocês dois! Se dedique a superar seu medo, faça Mackley se dedicar a ser um profissional. Vocês têm muito potencial que muita gente quer ver! Basta fazer alguma coisa!
Blake soltou minha mão para segurar meu rosto com ambas as suas e eu gelei.
O que ele iria fazer?! Eu iria conseguir impedir que ele fizesse?
Acabou que ele apenas plantou um demorado beijo na minha testa, sobre a franja.
Respirei aliviada.
Se afastou, olhou nos meus olhos e disse:
— Te vi em apenas dois dias da minha vida, mas já posso dizer que também sou seu maior fã.
— Abriu um sorriso enorme. — Eu adoro você, Alison Cansoli. Adoro sua animação, sua sinceridade, sua positividade e adoro o quanto você é genuína. Você é um anjo que veio dar sentido a minha vida, com certeza, muito obrigado! — Mais um beijo e eu fechei os olhos, quando me abraçou, me puxando para mais perto.
Passei meus braços em volta de seu corpo e me aconcheguei naquele monte de músculos cobertos pelo algodão macio.
— Se eu sou o "anjo dos sentidos" — murmurei, contra seu ombro —, você não acha que deveria me escutar e... fazer alguma coisa?
Senti seu corpo tremer contra o meu, quando ele deu uma risada gostosa de se ouvir.
— Eu vou... em algum momento... — uma de suas mãos acariciou meus cabelos alisados caídos pelas costas e eu suspirei, com a sensação relaxante. — Mas agora eu meio que estou me sentindo um merda demais pra pensar nessas coisas. Quero dizer... não, agora, agora... — Enlaçou minha cintura, indicando nosso abraço. — Agora eu estou em paz. Mas você me entendeu. E, obrigado. De novo. Por tentar.
— Não tem de quê.
E foi aí que, jamais saberia explicar de onde, ela começou a crescer no meu cérebro novamente. A ideia!
Daquelas impulsivas, péssimas e que não deveria semear, porque elas são complexas, cheias de obstáculos e suas taxas em darem errado eram apenas exorbitantes demais para ignorar!
Mas, sendo sincera comigo mesma, desta vez fui obrigada a admitir que todos estes receios eram apenas em relação a mim mesma. Não a Blake.
Na verdade, quanto mais eu pensava na ideia, quanto mais a desenvolvia... mais ela parecia ser capaz de acabar com, absolutamente, todos os problemas dele.
Iria, sim, ser dolorosamente incômodo para mim, mas... eu estava aqui para ajudar.
E isto bastava para que eu conseguisse conviver com as consequências.

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