13.1 - A indecisa, impulsiva e fria Alison Cansoli

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Alison

Eu acabei decidindo procurar por Evan.
Duas noites atrás, depois que Kat dormiu a meu lado e Caleb foi embora, a deprimência me deixou um pouco porque as boas vibrações dos meus amigos haviam tratado de balancear as coisas em mim.
Evan, entretanto, ainda não tentou nenhum contato comigo desde então e eu sabia que este fato teria me derrubado de novo, mas, para a minha surpresa, Blake havia me ligado ontem de manhã e permanecido em linha comigo até literalmente escurecer. Parte de mim se perguntou se Caleb havia comentado alguma coisa com ele sobre as minhas perturbações, mas nem ele mesmo ficou sabendo o suficiente para sair espalhando por aí e tudo o que Blake queria ontem, segundo ele mesmo, era jogar conversa fora com alguém. O que se mostrou tão confortável e divertido de se fazer com ele, a ponto de me permitir acordar esta manhã tranquila e revigorada.
E foi assim que consegui refletir sobre meus problemas com Evan de maneira mais leve. O pouco que Kat e Caleb comentaram sobre o assunto não cruzava a linha de somente concordar que, independente do que sentisse com toda esta ausência de Evan, eu tinha que pelo menos tentar conversar com ele antes de tomar qualquer decisão sobre o que fazer com isso.
E assim eu havia começado a perceber sozinha que estava completamente errada nesta história.
Quero dizer... Noah não havia mentido: eu estava sendo desonesta com Evan, não havia contado toda a verdade para ele. O motivo para esta bola de neve ter tomado tal proporção era estritamente por isso, até Kat concordava e ela detestaria ser colocada contra mim em qualquer discussão.
Quanto a todos os outros problemas que meu relacionamento ruminava? Novamente, apenas existiam por minha conta. Evan não tem culpa de ter nascido com a sexualidade que nasceu, ele não escolheu isso e muito menos crescer num ambiente que reprimia totalmente este seu lado como se fosse uma transgressão à lei. A verdade era que ele precisava de alguém que o apoiasse porque, sem mim, ele não teria mais ninguém. Ao invés disso, só o que eu estava fazendo era complicar sua vida ainda mais e, nossa, isso deveria estar o machucando... Nem mesmo eu, que sempre fui um aspecto confortável de sua vida, estava cooperando.
E eu precisava parar de tentar me convencer que tudo era culpa de como ele havia vindo agindo antes, porque eu estava muito ciente de quem era a pessoa com que estava aceitando me comprometer: O complicado, explosivo e por vezes insensível Evan Santana!
Este sempre foi ele. Óbvio que tinha seus prós assim como todo ser humano, mas infelizmente eram os contras que falavam mais alto na maioria das vezes. Mas eu já havia entendido há muito tempo que isto não seria um problema contanto que sempre estivesse disposta a agir diferente de sua instabilidade e me comunicar com ele.
Então era isso, eu iria pedir desculpas. Contar toda a verdade, insistir que ouvisse minha versão da história, mesmo que já tenha sido intoxicado pela de Noah e, principalmente, se ele ainda me aceitasse, eu seria a melhor e mais compreensiva namorada do mundo.
O sol de início da tarde esquentava o topo da minha cabeça e meus ombros desnudos pelo vestido de alças, quando parei em frente a uma quadra pública. Suspirei por um momento, tentando me concentrar no que diria.
Não havia conseguido encontrá-lo na oficina, em seu apartamento, ou no parque perto de seu prédio, onde costumava correr e andar de bicicleta, então tive certeza que ele estaria aqui, jogando qualquer coisa com os amigos.
Assim que cheguei, logo o localizei ao longe, me provando correta.
Mas ele estava sozinho no momento, sentado na pequena arquibancada de madeira, há muito tempo improvisada, vendo outras poucas pessoas correrem pelo campo enquanto torrava no sol. Mesmo de longe, eu conseguia notar suas características bermudas esportivas leves, o boné virado para trás, chuteiras e a total ausência de qualquer pano para cobrir seu tronco forte e... quente. Nos dois sentidos da palavra.
Isso não ajudaria em nada com o meu foco...
Mordi a ponta do meu lábio inferior tentando me trazer de volta a realidade e me encorajar.
— "Eu quero nos fazer funcionar mais do que qualquer coisa" — repeti as palavras ensaiadas em voz alta. — "Quero que saiba que entendo de verdade o seu lado, sua forma de vida, seus medos e preocupações, e que quero ser a primeira, de agora em diante, a te ajudar com tudo. E eu sinto mui..."
— Você ainda continua com essa mania de falar sozinha?
Meu corpo congelou com o reconhecimento imediato, mas meu coração não falhou em saltar de susto.
Virei meu rosto para o lado oferecendo nada mais do que um olhar de desagrado a Noah.
Nenhum cumprimento, aceno ou sorriso, apenas minha infelicidade.
Algo em mim logo se tocou de que havia cometido o mesmo erro novamente: me esqueci completamente de que era óbvio que ele estaria aqui.
Evan estava, assim como Danny, Tim e Luke que havia reconhecido rapidamente em alguns outros pontos, claro que Noah apareceria também. Ele era um membro ávido do grupo dos "amigos que largam absolutamente tudo para ficar correndo atrás de uma bola estúpida", esse era um dos principais motivos por eu já não aparecer mais por aqui.
Me permitindo analisá-lo como não fazia há tempos, notei que vestia uma das regatas de sempre, boné, chuteiras — como, aparentemente, era a vestimenta oficial de seu "bando" — e calções de futebol, que, se me lembro bem, o ouvi comentar uma vez que eram exclusivos para treinos do seu time, não para seu uso pessoal.
Eu deveria ligar para seu treinador e dedurá-lo, mesmo que não fosse lá um erro grave. Se ele levasse uma reprimenda, já seria o suficiente para deixar de ser tão exibido.
Prepotente, convencido...
— Uau, esse olhar!... — Riu da minha cara, sacudindo os ombros levemente, e eu cancelei por completo a parte de mim que insistiu em ressaltar mais uma vez o quanto seu sorriso era bonito. Ele era todo um deleite para os olhos! Sua pele negra parecia absorver o calor do sol, todos estes músculos evidentes realçando com o calor, cada traço arrogante de seu rosto bem delineado, exalando charme sem esforço... Eu quase não me culpava por ter me envolvido com ele. Quase.
Mas aí ele continuava a abrir boca:
— Cansou de fugir de mim e resolveu mudar de tática se fazendo de brava, é? — Amarrei minha melhor cara fechada, desviando minha atenção de volta para a quadra. Ele poderia pensar o que quisesse, não lhe devia satisfação alguma. — Ok... você tá fazendo aquela coisa com a cara... aquela que você acha que te faz parecer perigosa. O negócio é sério — deu ênfase no "acha", enquanto sentia sua aproximação dominante. — O que tá pegando?
— Você precisa parar com isso — determinei, com aspereza.
— De falar com você? — Riu com ironia.
— De agir como se conhecesse cada coisinha sobre mim. — Levantei a cabeça para enfrentar seus olhos. — Seu ego sempre inflado não faz de você o dono da verdade, conhecedor de tudo e todos. Você não me conhece.
Seu olhar confuso analisou meu rosto por um segundo, ao passo que seu divertimento sumia.
— Desculpe, eu deveria saber do que isso se trata? — Revirei os olhos me voltando para a quadra. — Você sequer olha na minha cara há meses, Alison, o que eu poderia ter feito a você?
Ou melhor... como?
— Como?! Talvez abrindo essa boca pra falar de mim como se tivesse alguma propriedade, que tal?! — respondi com uma rispidez que não era minha, evitando seu olhar. — Evan está bravo comigo por culpa sua!
— Como é que é?! — Teve a audácia de gargalhar, soando cético. — Eu não lembro de ter falado mentira nenhuma, isso quando eu me atrevi a dizer alguma coisa!
— Essa é a questão, Noah! — Me virei para ele, controlando meu tom de voz. — Eu não tenho mais nada a ver com você, só o fato de achar que pode se atrever é presunçoso e intrometido demais, até mesmo pra você!
— Ei, eu não me intrometi em porcaria nenhuma! — Sua expressão se encruou. — O que aconteceu foi que meu amigo escolheu a mim pra desabafar sobre a namorada sempre insatisfeita, exigente e "fragilzinha" dele, e eu simplesmente fiz ele se sentir melhor com a verdade que você me mostrou! — Apontou para mim com aspereza e, agora que estava irritado, pareceu que sua altura já absurda havia dobrado. Mas se enganaria quem pensasse que eu estava intimidada.
— E que verdade seria essa, ser supremo combatente de toda desonestidade?! — Apoiei minhas mãos na cintura, assumindo uma pose rígida para enfrentá-lo. — O que você acha que sabe mais sobre mim do que eu mesma? Ou do que Evan, que me conhece desde os dez anos de idade?
— Que você não é essa vítima inocente que finge ser. — Me olhou duramente de cima abaixo. Um músculo de sua mandíbula saltou e eu me senti vacilar por um segundo. — Que a sua instabilidade faz de você uma pessoa indecisa, impulsiva e fria. O tipo de pessoa que termina com um cara do nada, para aparecer namorando com o amigo dele literalmente no dia seguinte, e simplesmente beija um terceiro cara na frente dele pouco depois! Esta é você!
Ai! É... nada disso era mentira...
Sua impetuosidade me atingiu feito um soco no estômago, mas isso só durou até o momento em que me lembrei de com quem estava falando. E também que "terminar" não era o termo correto para se usar aqui.
— Você não é ninguém para julgar minhas atitudes. — Apontei de volta, empurrando meu dedo em seu peito firme, como se pudesse afastá-lo só com isto. — Você não me conhece, teve sua oportunidade de conhecer e a desperdiçou com desleixo, simplesmente isso! Não vou deixar sua dor de cotovelo injustificada me dizer quem eu sou e muito menos deixar você fazer isso com o meu namorado. Passar bem!
Girei nos calcanhares decidida a deixá-lo para trás, tanto física, quanto psicologicamente. E talvez eu poderia ter conseguido fazer isso depois de algum tempo, já que ele só havia me jogado conclusões precipitadas ou mal informadas. Nada disso me afetaria realmente.
Suas últimas palavras, entretanto, ditas em puro tom de decepção antes que pudesse me afastar o suficiente para não ouvir, me fizeram estagnar no lugar:
— E pensar que eu realmente senti que valia a pena gastar meu tempo com você...
Apertei meus olhos quando os senti arderem com a umidade indesejada.
Esse... imbecil arrogante! Qual era o problema dele?! Como ele pode me desmerecer tanto depois do que confiei a ele?!
Nenhuma destas questões me escaparam, no entanto, e eu me forcei a voltar a caminhar em passos mais rápidos, oferecendo-lhe apenas minha ignorância.
Ele havia feito o mesmo comigo antes, não merecia nada mais agora, e eu só precisava ficar longe disso tudo. Dele, dos meus arrependimentos, da carência ainda insistente, dos seus joguinhos... e, principalmente, deste passado que ainda insistia em me afetar. Longe o suficiente para chorar e me forçar a esquecer.
Pela segunda maldita vez.

Tudo o que SonheiOnde histórias criam vida. Descubra agora