1.3 - Ainda-namorado

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Já passava de meia-noite quando desliguei o carro, estacionando em frente ao prédio de Evan.
O silêncio sepulcral, que havia sido nosso único companheiro durante todos os quinze minutos que levei para nos dirigir até aqui, foi finalmente quebrado quando anunciei:
- Acho que nós devemos terminar.
Evan levantou o olhar de seu colo, piscando surpreso.
- O quê? Por quê?
Meus ombros caíram e lancei-lhe um olhar óbvio que lhe dizia "Você está mesmo me perguntando isso?".
Abriu e fechou a boca algumas vezes, incerto sobre o que dizer, até que escolheu começar com:
- Foi um erro. Eu sinto muito mesmo, Ali... Não vai mais acontecer, eu te amo. - Buscou pela minha mão, entrelaçando nossos dedos. - Você sabe que eu amo... não sabe?
Plantou um beijo no dorso da minha mão e eu suspirei. Parte de mim quis chorar e eu nem tinha certeza do motivo exato. Resolvi me focar em um de cada vez.
- Você nunca me beijou daquele jeito, Evan. Mal consegue me tocar, mas quando cheguei você e Caleb estavam quase...
- É proibido! - me interrompeu, como se estivesse prestes a ofendê-lo. - Foi aquela...
atmosfera, entende? Eu estou confuso a dias. Disse pra você que estava, mas agora que aquilo aconteceu, eu não...
Arqueei uma sobrancelha. Ele iria mesmo me dizer agora que nunca mais iria querer... aquilo?
Era mentira! Evan sabia que era mentira. Eu sabia que era mentira. Havia acabado de experimentar a mesma sensação com Blake e tudo o que eu queria agora era revivê-la.
Queria aquela paixão novamente, aquela fome... aquela necessidade.
Evan nunca me beijou com tanto fervor. Mas pareceu fazer isso sem dificuldade alguma com Caleb. O que isso me dizia?
- Acho que sou mesmo bissexual - reconheceu por fim e eu ri sem graça.
- Evan, eu não acho que seja essa a questão...
- Eu amo você, Alison. Tenho certeza disso, quer você consiga acreditar nisso agora ou não. O que aconteceu lá...
Soltei minha mão da sua.
- O beijo com Caleb. Assuma o que você fez.
Ele exalou, fechando os olhos, mas assentiu.
- O beijo. Com Caleb. - Escolheu aquele momento para lamber os lábios e eu decidi ignorar isso. - Não estou te dizendo que eu não quis... Mas grande parte foi por conta da minha curiosidade inconveniente. Conversei com você sobre isso, não foi?
Assenti, encarando o xadrez verde e preto de sua camiseta, porque olhar em seus olhos estava sendo muito difícil naquele momento.
- Então, o que está me dizendo é que: agora que beijou Caleb... agora que... "explorou" um pouco mais disso, que sua atração não está mais confundindo sua cabeça... agora você pode querer apenas a mim? - Olhei rapidamente para a aflição em seu rosto bonito. - Agora pode...
namorar comigo de verdade?
- Ali... você sabe... tem também a questão da minha religião. - Ri sem achar a mínima graça mais uma vez, passando as mãos em meu rosto. - Só estou dizendo que não vai ser assim tão simples por conta desse detalhe, mas eu quero ficar com você, Ali. Quero demais... Eu te amo.
- Pausou por um segundo. - Ali, olha pra mim, por favor.
Meus óculos estavam muito bem guardados dentro do porta-luvas, porque eu ainda estava determinada a "preservar o Blake Lowell" neles, então Evan teve a visão clara dos meus olhos lacrimejantes, quando acabei decidindo atender a sua súplica.
Quase pude enxergar o peso que tomou os músculos de seus ombros.
- Você ainda me ama? - Assenti fracamente, mas sem pestanejar.
Queria muito não amar esse idiota agora, tornaria minha vida mais fácil, mas eu não podia mentir para mim mesma.
Mesmo sempre sentindo um amor fanático por Blake e me comportando como uma adolescente apaixonada todas as vezes em que Caleb sorria para mim nos corredores da faculdade antigamente, eu estava vinculada a Evan de maneira inegável a muito tempo.
Isso não iria mudar só porque o primeiro havia me beijado e o segundo, flertado comigo... Logo depois de beijar Evan. Não importava!
Ele estava aqui, comigo, me dizendo que não foi nada, que estava disposto a continuar lutando pelo amor que eu sentia por ele e ele por mim. E eu sabia que era verdade. Via em seus lindos olhos castanhos-esverdeados que ele estava sendo sincero.
Eu o conhecia a tanto tempo, nos davamos bem de modo geral, nossas famílias são muito próximas, ele é gentil, amável, companheiro... meu melhor amigo. Meu amor desde a adolescência e eu sentia que poderia ser para o resto da vida.
Eu não poderia jogar isso fora simplesmente porque ele estava confuso sobre a própria sexualidade. Se ele ainda podia me amar, poderíamos fazer dar certo.
- Pode me perdoar? - ele perguntou, a voz soando mais tensa que o normal.
Vi que ele segurava as lágrimas e eu sequei as minhas com as costas da mão, sorrindo-lhe fracamente.
- Não. Nunca seria capaz de perdoar uma traição. - Ele ia abrir a boca para dizer mais alguma coisa, mas não demorei a continuar: - Mas eu beijei Blake Lowell hoje, então acho que isso nos deixa quites.
Evan se permitiu sorrir um pouco, demonstrando certo alívio, apesar de também incomodado.
- É, eu vi... decidi não interromper. Foi só por isso que você o beijou? Para me dar o troco?
Não.
- Sim.
Ele riu.
- Tudo bem então... estamos quites e juntos... certo? - Expirei.
- Quites e juntos.
Mas eu senti que não estávamos bem. Independente de tudo o que aconteceu hoje. Eu precisava fazer algumas mudanças, se tem uma coisa que Blake deixou bem claro para mim hoje, era que eu tinha coisas boas a mostrar. Ele enxergou algo em mim que eu nunca tive coragem de mostrar e olhe só o que havia acontecido depois disso!
Minha língua passou por meu lábio inferior e eu queria me permitir fechar os olhos e apenas reviver aquele momento, mesmo que fosse errado, mas o meu ainda-namorado estava aqui e ele estava falando:
- Então... antes de ir, preciso te pedir desculpas por uma outra coisa... - Sua expressão leve e o sorriso contido não me permitiram ficar tensa com a antecipação. - Eu vomitei em você, Ali.
Sinto muito.
Ele gargalhou e eu me senti insanamente aliviada por conseguir acompanhá-lo.
Ainda conseguíamos rir juntos.
Ainda havia esperança para nós.
- Não, Evan, aquilo foi demais... sem perdões pra você hoje - disse, em meio às risadas.
Estávamos bem.
Ficaríamos bem.

Tudo o que SonheiOnde histórias criam vida. Descubra agora