Cinco dias depois...
CalebHm, café... preciso de café.
A brisa aquecida da manhã ondulava pela minha pele junto da prazerosa sensação de despertar no silêncio, com a preguiça matinal e, fácil assim, eu acordei sorrindo. Ah, como eu adorava o verão...
"Hoje será um bom dia", repeti meu mantra mentalmente e me concentrei em pender para essa veracidade. Mas precisava do meu café antes de qualquer coisa e, de preferência, bem adoçado.
Esfreguei os olhos desajeitadamente, tentando me afastar da sonolência e piscando até conseguir focá-los no relógio digital, do outro lado do cômodo. Pouco depois das oito. Ótimo, ainda tinha muito tempo.
Revirei na cama, me colocando sentado, e apenas quando as solas nuas dos meus pés tocaram o assoalho morno, notei o som suave do gotejar da água corrente e do zumbido elétrico. Mas, como o processador do meu cérebro ainda estava em atraso pelo sono, necessitei de mais alguns segundos e uma rápida varredura pelo chão do meu quarto para distinguir as poucas peças de roupas espalhadas por ele.
Ah, sim... isso tinha acontecido de novo.
Inclinei meu tronco um pouco para frente e logo vi aquele corpo franzino e torneado que a figura molhada e ensaboada ali dentro tensionava, esfregando os fios alaranjados no topo da cabeça. Ele estava de perfil, o box do meu chuveiro cobria parcialmente a nada desagradável visão e os olhos do rapaz estavam fechados, mas eu duvidava que Daniel se importasse com uma breve olhada faminta.
Mas, respeitando os limites de nosso acordo silencioso, não esperei que me notasse e, depois de mais dez segundos apenas para vestir o mesmo par de jeans de ontem à noite, me coloquei para fora do quarto e de seu radar. Assim, oferecia-lhe espaço para cuidar de seus assuntos e depois encontrar sozinho o caminho até a porta.
Agora eu só o veria novamente em alguma outra data e local aleatórios e, se um ou os dois já não estivermos ocupados com outra "eventualidade sexual", faríamos nossa sessão divertida e casual da noite mais uma vez e, por fim, quando a manhã chegasse, repetiríamos também o consenso de ficar fora do caminho e do restante da vida um do outro. Era simples, divertido o suficiente e prático!
Não sei porque a maioria das pessoas simplesmente não consegue agir assim, mas também não muito me importa, cada um faz o que acha melhor.
Havia uma pessoa, no entanto, que vinha fazendo tudo da pior maneira e... pode-se dizer que, quando se trata desta pessoa, eu apenas não conseguia não me importar.
Suspirei parado no corredor vazio, encarando a porta do meu quarto de hóspedes. Dei três toques hesitantes na madeira escura.
— Blay? — chamei alto o suficiente, mas não obtive nenhuma resposta do lado de dentro. Mais três toques um poucos mais firmes. — Blake... está acordado?
— Não — sua rabugice respondeu por ele e eu abri uma fresta da porta, observando seu formato corpulento deitado de bruços na cama e virado para o outro lado, o canto mais escuro. — Tá cedo, Caleb. Me deixa dormir...
— Vou deixar, daqui a pouco estou saindo pra agência, eu só... — Abaixei os olhos, considerando o que poderia falar. — Você... o que vai fazer hoje?
A vacilação pendeu por um momento.
— Dormir.
— Eu tô perguntando sobre depois que acordar. Não vai nem pra academia hoje?
— Eu tô cansado — enfatizou, como se fosse óbvio. — Me deixa dormir.
Já podia pressentir a desistência chegando e estava prestes a fechar a porta de volta, mas decidi tentar só mais uma vez antes de me render:
— Escuta, eu... tenho só uma sessão rápida de fotos marcada que vai acabar quase no horário de almoço, então, você quer, sei lá... aparecer um pouco lá na agência mais tarde? Só pra que eu não tenha que ir comer sozinho, pelo menos? — Isso costumava funcionar antigamente. Desde que consigo me lembrar, vi Blake fazer por mim coisas que o desagradavam, ou não se sentia muito inclinado, simplesmente porque seu instinto de irmão mais velho falava mais alto, então não custava tentar.
— Para de besteira, cara, você nunca precisa estar sozinho. Me deixa dormir! — resmungou a muito válida resposta, dada a minha popularidade, e cobriu a cabeça com o travesseiro.
— Ok... até mais tarde. — Fechei a porta então.
Esfreguei os olhos, me sentindo um perfeito derrotado e esta sensação, misturada à culpa, lançou uma pontada de dor em algum ponto da minha cabeça, me fazendo sentir necessidade daquele café novamente. Depois de uma passada rápida pelo banheiro do corredor, troteei os degraus abaixo até a cozinha, para matar o que estava me matando.
Não, exatamente... a angústia incomum por ter apagado sem querer o pequeno feixe de ânimo que Blake ganhou em semanas, ainda era o que apertava mais em meu peito, mas me convenci de que conseguiria superar, enquanto sorvia com desespero os primeiros goles da bebida forte.
Afinal, "hoje era o dia que seria um bom dia!" A falta de açúcar no meu café, no entanto, pareceu intensificar apenas para se mesclar a minha amargura insistente.
— Você teve que abrir sua boca, não é, Caleb? — murmurei para mim mesmo, esfregando o rosto e bagunçando o cabelo tudo ao mesmo tempo. — Não poderia só ter permitido que as fãs o agradassem como bem entendessem, não é? Porra, se a garota queria trair o namorado com ele, que traísse! Ele te beijou na frente dela!
Droga, por que eu simplesmente não ignorei aquele status de relacionamento sério na rede social?!
— Ahm... falou comigo?
Levantei um olho entre os dedos na minha cara e vi Danny parado no meio das escadas, um pé em um degrau mais baixo, parecendo ter interrompido seus passos.
Em um milésimo de segundo, liberei a tensão do corpo, expirando disfarçadamente, e me recostei no balcão atrás de mim, esticando a boca num falso sorriso relaxado.
— Só... pensando alto. Foi mal. — Gesticulei com a desculpa, mas a ausência de palavras de Danny, junto aos olhos de oliva ainda fixos em mim, deixou bem claro que ele não tinha exatamente comprado minha pose tranquila. Me olhou de cima abaixo, franzindo as sobrancelhas grossas e parecendo estranhar alguma coisa.
Bom, pelo visto até mesmo uma das minhas relações simples, divertidas o suficiente e práticas eu estava prestes a estragar hoje, já que obviamente não estava conseguindo enganá-lo. Ele parecia interessado, ou pelo menos curioso, e, não sei se era o desespero levando a melhor de mim, mas senti que queria que ele perguntasse o que estava havendo.
Queria que ele dissesse um mínimo "está tudo bem?".
Queria que ele me desse margem para perguntar sobre seu amigo, Evan, e tentar ficar sabendo do nível do estrago que eu havia causado.
Ou até mesmo aceitaria que Danny só ficasse ao meu lado em silêncio, talvez com uma outra caneca de café, criando assim um motivo plausível para incitar algo em mim que se preocuparia com o fato de que ele estaria atravessando os nossos limites do casual. Era fútil, mas eu me agarraria com todas as forças a este lado se isso significasse não dar vazão aos pensamentos venenosos que queriam me acometer, gritando na minha mente que, mais uma vez, eu estava arruinando a vida do meu irmão. Qualquer coisa parecia melhor!
— Hm... preciso ir — o ouvi dizer a contragosto, encarando o conteúdo dentro da minha caneca. — Te vejo por aí.
— Até.
A porta da frente foi fechada, meus olhos continuaram na caneca que abrigava ainda algumas boas goladas e, instintivamente, eu comecei a balançá-las apenas para assistir o líquido escuro girar... e girar, e girar, e girar...
"Não faça essa cara, meu menino... hoje será um bom dia!"
Foi como se eu tivesse hipnotizado a mim mesmo, pois o sorriso suave e a voz alegre cintilaram diante de meus olhos como se a mulher estivesse aqui, agora, me dizendo estas mesmas palavras exatamente como fez anos atrás.
— Bom, mãe... não faria muito sentido, especialmente pra você, te ligar agora só pra dizer isso, mas este não está sendo um bom dia! — exclamei sozinho e me virei, largando a caneca em cima do balcão e respingando um pouco no processo. — E este café é um dos maiores culpados! — Apontei para a caneca. — Velho, amargo e frio! Não ajuda em nada!
O dorso da minha mão esbarrou na porcelana por acidente, porque eu estava gesticulando sozinho feito um lunático, e foi um puro golpe de sorte que meus reflexos foram rápidos o suficiente para me fazer debruçar por cima do balcão e alcançá-la antes que escorregasse de vez pela beirada e se estilhaçasse do outro lado.
Não, não, não... já estava me sentindo mal o suficiente, não precisava piorar as coisas para mim mesmo tendo que me ajoelhar em azulejos pegajosos para recolher o que um dia foi uma orgulhosa caneca estilizada com o símbolo dos Vagalumes de "The Last of Us", que me lembra sempre de "procurar pela luz". Seria a gota d'água que eu havia conseguido evitar e, Deus do céu, como a sensação do alívio estava sendo bem vinda!
Menos um desastre. Insignificante, mas era uma vitória. Minha primeira vitória do dia!
A... primeira.
Encarei a caneca toda respingada que segurava com firmeza, franzindo as sobrancelhas quando mais lembranças apareceram. Lembranças de segundos depois desta que por vezes repetia para mentir para mim mesmo quando precisava, mas apenas agora me recordava do restante:
"— Não faça essa cara, meu menino... hoje será um bom dia!" — Aquele sorriso tranquilo, que havia se tornado costumeiro a pouco tempo na época, pareceu brilhar junto de suas palavras.
"— É estupidez! Ele não está aqui!" — meu chateado eu de doze anos respondeu com aspereza, encaixando duas velas brancas em formato de números em cima do bolo azul claro. "Um" e "seis". A primeira logo pendeu e tombou para o lado como se quisesse denunciar minha má vontade.
Recordava-me vividamente agora de assistir com a cara fechada os movimentos graciosos que mamãe fez para recolher a vela, limpar as manchas azuis do chantilly e colocá-la de volta ao lado do "seis", a aparência alegre fazendo parecer mentira que a coisa caiu em algum momento.
Mamãe então se inclinou para plantar um beijo na minha testa e, sem encostar as pontas dos dedos manchadas de azul em mim, segurou meu rosto entre as palmas para que eu olhasse dentro do outro azul, o mais bonito, que era o de seus olhos.
"— Você e eu estamos aqui. Nós vamos fazer que este seja um bom dia."
Pisquei, ainda encarando a caneca e a depositei de volta em cima da madeira suja.
Meus olhos subiram para o relógio digital do micro-ondas. Oito e trinta e um.
O dia ainda estava apenas começando, desisti cedo demais.
Uma solução de repente dançou e saltitou pela minha mente, parecendo ter criado coragem apenas agora para me oferecer uma prévia de seu showzinho, porque sabia não ser lá muito confiável, e estava se aproveitando sem pudor da pequena chama de esperança que havia se acendido. Entretanto, quanto mais eu dava atenção, menos ela parecia viável.
Suspirei, decidindo comprar a ideia ainda assim e fui atrás do meu notebook para fuçar redes sociais alheias mais uma vez.
Era de Blake que estávamos falando e... eu estava aqui.
Tinha que continuar tentando.
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Tudo o que Sonhei
RomanceO melhor amigo, o crush ou o ídolo? Para a romântica e desajeitada Alison, todos estes clichês se tornam realidade num curto período de tempo e, quem olhasse de fora, diria que isto tinha de ser o destino agindo a favor de uma pobre alma... certo...