Alison
Apenas quando Evan conseguiu pegar no sono, mais ou menos às onze da noite, precisei enfim encarar meu próprio desgaste emocional.
Conversamos bastante desde o momento em que ele despejou em lágrimas a má notícia para mim. Passamos pela fase em que choramos juntos, em que tranquilizamos um ao outro, em que tentamos planejar o que fazer a seguir, para então sucumbir à exaustão ao perceber que a maior parte do problema simplesmente estava fora de nosso alcance.
Ele havia conseguido dormir, mesmo com esta expressão tensa e chateada que eu agora observava à meia luz, provavelmente porque tinha colocado tudo para fora. Havia desabafado com sua amiga. Já eu vinha me focando apenas em suas dores pelas últimas horas e, mesmo que compartilhasse delas — apenas porque adorava demais o pai de Evan, e isso já era fato antes mesmo dele se tornar uma das pessoas que mais me ajudaram com certos problemas bem dolorosos que tive de enfrentar —, ainda tinha as minhas em particular para me martelarem a consciência desde o segundo em que fiquei presa ao silêncio.
Eu estava cansada, com o coração dolorido e fragilizado, e não conseguia sequer fingir que tudo ficaria bem quando acordasse, porque pegar no sono estava sendo uma tarefa impossível! O que é extremamente incomum, quando se trata de mim.
Rolei na cama suavemente, me afastando um pouco dele, e corri meus olhos pelo outro lado do quarto, onde ficava a parede revestida de prateleiras abrigando a maior parte dos meus livros.
Num pequeno espaço especificamente vago, estava uma das caixinhas de som que espalhei por todo o espaço, me encarando de volta num pedido silencioso que eu queria muito poder atender.
Mesmo que soubesse que seria difícil me distrair nestas circunstâncias, estava acostumada com uma música ambiente que, geralmente, dava conta do silêncio maçante pelo menos, mas não queria arriscar acordar Evan. Ele poderia não estar tendo o melhor dos descansos, mas precisava do que conseguisse. E eu só precisava tentar com mais afinco para conseguir o mesmo.
Respirei fundo e fechei os olhos, me concentrando.
O leve assobio que meu celular emitiu de algum ponto distante mal me deixou tentar por dez segundos.
Levantei a cabeça localizando a luz fraca da tela vindo da sala escura e me arrastei para fora da cama, movida pela força da curiosidade.
A primeira notificação que meus olhos captaram lançou uma rajada de choque dolorido direto para o meu esterno:
"Uma chamada perdida de Blake".
Tinha me esquecido completamente desse pecado que fui obrigada a cometer e agora, mais de onze da noite, me peguei incerta do quão inconveniente seria ligar de volta ou mandar uma mensagem, apenas para me justificar. Por mais que fossemos amigos agora, ainda existia em mim aquela partezinha neurótica que sentia que eu lhe devia todas as satisfações do mundo, mesmo que ele não exigisse absolutamente nada.
No entanto, a segunda notificação, a que havia aparecido agora para me avisar que Mackley Devone havia acabado de publicar um vídeo em sua conta do Instagram, me acalmou o suficiente apenas para me estufar de expectativas.
— Será...? — sussurrei para mim mesma, selecionando a notificação e esperando o conteúdo na tela carregar.
Bati a mão na minha própria boca para abafar um gritinho animado assim que vi que, sim, Mackley havia filmado Blake secretamente de novo!
Mirei meus olhos arregalados em um Evan ainda inconsciente largado na minha cama para logo correr nas pontas dos pés até a varanda, me fechando do lado de fora.
A noite estava agradável, nada mais do que uma leve brisa corria no ar, então apenas me aconcheguei na solitária cadeira artesanal na varanda sentindo-me estável com o casaco pesado que já estava usando. Meu interior, no entanto, agitava-se ansioso como se eu estivesse na estreia de um filme muito requisitado! Decidi não me importar se estava agindo feito uma maluca obcecada novamente.
Me certifiquei se o volume estava alto o suficiente e, finalmente, pressionei o "play" no vídeo.
E lá estava ele com aquele lindo e familiar violão preto num ambiente que, desta vez, eu desconhecia, mas parecia se tratar de uma sala de estar.
Blake, contudo, usando uma camiseta cinza que o violão cobria a estampa, o que pareciam ser calças de moletom e um par de tênis simples e gastos, estava charmoso como sempre e como eu já havia visto em primeira mão, mesmo que fosse um pouco doido pensar nisso agora. A única diferença em sua aparência, provavelmente, era que o moicano vinha perdendo sua forma cada vez mais, já que ele não estava mais raspando as laterais do cabelo, por algum motivo.
Beth estava no vídeo também, parecendo uma pequena bolinha de pelos na posição fechada em que dormia no outro canto do sofá. Sua presença nestes vídeos era uma novidade e era mais doido ainda pensar que era por culpa minha. Era para ela que Blake olhava enquanto cantava, com um leve sorriso de canto.
Alguma coisa no meu cérebro capturou todos estes e mais alguns outros detalhes nos trinta segundos de vídeo que se passaram, mas tudo ficou em segundo plano.
Quando o vídeo iniciou novamente sozinho, eu apenas deixei rolar, na verdade precisando que a coisa se repetisse para confirmar que meus ouvidos não estavam mentindo para mim. E mesmo assim ainda não estava conseguindo acreditar!
Entretanto, lá estava ele novamente cantando os primeiros versos e tocando os primeiros acordes de "Can I Call You Tonight?", da banda Dayglow.
A música que eu havia tagarelado para ele que era "um dos meus vícios do momento".
A música que ele sequer conhecia até vir comer torta na minha casa.
A música que ele havia sentido a necessidade de me agradecer por ter mostrado a ele!
A minha música. De todas as músicas do mundo, ele estava cantando naquela versão harmoniosa, lenta e roucamente sensual, a minha música!
Perdi a conta da quantidade de minutos em que fiquei lá, babando de boca aberta, sentindo explosões orgásmicas no meu coração de alegria, encantamento e surpresa...
Em dias bons, essa música vinha me fazendo saltar e dançar feito uma maluca pelo meu loft, com a energia positiva que me transmitia, pelo ritmo contagiante, pelas vibrações maravilhosamente alternativas que causavam em meu cerne... e agora ela estava personalizada pela voz profunda e calma de Blake dentro daquela melodia arrastada e simplesmente deliciosa de se ouvir. Eu não sabia o que pensar!
E piorou quando meus olhos, enfim, caíram para a legenda do vídeo:
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Tudo o que Sonhei
Storie d'amoreO melhor amigo, o crush ou o ídolo? Para a romântica e desajeitada Alison, todos estes clichês se tornam realidade num curto período de tempo e, quem olhasse de fora, diria que isto tinha de ser o destino agindo a favor de uma pobre alma... certo...