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HELENA

Cheguei em casa exausta depois de mais um dia de residência. Uma manhã, melhor dizendo.

Tive que deixar meu trabalho mais cedo naquele dia, tinha acabado de chegar em casa, mas naquele momento, eu precisava sair.

Seguir as ordens que me haviam sido dadas, pensei com ironia.

— Tô saindo. — disse, sem rodeios, enquanto deixava minhas coisas no minúsculo quarto em que eu dormia. Eu não ia nem me trocar, seja lá o que queriam de mim, queria saber logo o que era.

Rita estava sentada na cozinha, mexendo no celular com aquele olhar cansado e desinteressado que sempre carregava.

Eu quase nunca via essa mulher dando um sorriso sequer, exceto se envolsse dinheiro, porque isso minha madrasta amava.

— Pra onde se você só vai pro trabalho e volta pra casa? — perguntou, com aquela voz cortante que sempre usava para me diminuir. — Não tem lugar nenhum pra ir. — Ela finalmente levantou os olhos do celular e me encarou com uma expressão de desgosto.

Eu respirei fundo.

— O... Muralha quer falar comigo. — respondi, olhando olhando a bolsa e vendo se tudo o que poderia precisar estava ali dentro. Se fosse algo médico, algumas coisas poderiam ser úteis.

Rita levantou as sobrancelhas com surpresa, e Marcela parou de pintar as unhas e se levantou do sofá com um movimento brusco. Ela veio na minha direção, o olhar afiado, claramente desconfiada.

— O que ele quer com você? — Marcela perguntou, me medindo dos pés à cabeça.

Eu já esperava por aquilo. Marcela sempre fazia questão de dizer o quanto queria o Muralha e que melhor que ter ele seria ter ser a "primeira dama", como ela repetia quase todos os dias.

Eu achava aquilo patético.

Era muito claro que minha irmã não se interessava por ele, mas pela posição que estar com ele iria proporcionar a ela.

Eu realmente não sabia o que responder. Estava tão surpresa quanto ela de ter sido abordada pelo Igor e o Dante e comunicada de que teria que ir até a casa do Muralha.

— Não sei, Marcela, e é por isso que tô indo lá agora. Quando eu estava descendo o morro para ir pro trabalho, me pararam na entrada. Disseram que era pra eu ir na casa do Muralha, só isso. — E era verdade, eu não fazia ideia do que estava acontecendo.

Marcela me olhou de novo, dos pés à cabeça, como se estivesse tentando encontrar algum traço de verdade no que eu dizia. Ela bufou, rindo sem humor.

— Deve ser mentira sua. — A voz dela era venenosa. — Ele nunca se interessou por garota nenhuma aqui da favela, não seria por uma gorda que ele se interessaria, né.

Roberta soltou uma risada alta do canto da sala, onde estava deitada com o celular na mão. Ela se levantou e se aproximou de mim com um sorriso malicioso nos lábios.

— Parece que a gordinha tomou o Muralha da Marcela antes mesmo dela fisgar o chefão. — Ela disse, se divertindo com a provocação.

Eu odiava quando elas faziam isso, quando me tratavam como se eu não fosse nada.

Ignorei e foquei em fazer o que tinha que fazer. Elas não merecem nada de mim, nem mesmo que eu ceda a raiva.

Rita, impaciente, se levantou e veio até mim, me pegando pelo braço com força. Seus dedos afundaram em minha pele.

— Você tá dando corda pros meninos, Helena? É por isso que recebeu uma proposta dessas? — A acusação estava em seus olhos e na forma como me apertava, como se quisesse arrancar de mim uma confissão que eu não podia dar.

Protegida pelo Dono do Morro [Série Donos do Morro #3]Onde histórias criam vida. Descubra agora