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HELENA

Na manhã seguinte, acordei antes do sol nascer. Não tinha conseguido dormir direito. Passei boa parte da noite revirando na cama, pensando na conversa que tive com o Muralha.

Eu tinha deixado o café da manhã pronto na cozinha dele e escrevi um bilhete avisando que tinha comida pronta.

Coloquei o papel ao lado da cama, na mesa de cabeceira, e fui embora antes que ele acordasse. A última coisa que eu precisava era prolongar aquela sensação estranha que crescia dentro do meu peito.

Não que ele tivesse feito alguma coisa além de ser educado, mas a presença dele me deixava nervosa. E eu não sabia lidar com isso.

Quando cheguei em casa, eu só queria tomar um banho rápido, me trocar e sair para o hospital o mais rápido possível. Mas assim que entrei na cozinha, vi Rita, de costas pra mim, fazendo café.

— Finalmente! — A voz dela cortou o silêncio da manhã. Ela se virou, com os olhos fixos em mim, e eu já sabia o que vinha a seguir.

Ela pegou um monte de boletos de dentro de um dos armários e jogou em cima da mesa.

— Por que essas contas ainda não foram pagas? Você acha que a luz vai se manter acesa sozinha? — Ela estava claramente irritada, e eu já sabia onde isso ia parar. Eu tentei manter a calma, mas a verdade era que eu já estava cansada dessas cobranças.

Respirei fundo, sabendo que nada do que eu dissesse faria diferença.

— Você viu o papai pegando o dinheiro para beber, Rita. Como você acha que eu ia pagar alguma coisa? Ele praticamente arrancou o dinheiro da minha mão. — Eu estava tentando manter a voz firme, mas só de mencionar meu pai, a mágoa e a frustração cresciam dentro de mim.

Ela me olhou com os olhos semicerrados.

— E agora, o que você vai fazer? As contas precisam ser pagas, Helena! — Ela repetiu, impaciente, como se eu fosse a responsável por todos os problemas dessa casa.

Eu senti uma raiva subir pela minha garganta, mas respirei fundo. Não queria brigar, não tinha mais energia para isso.

— Pergunta pro meu pai! — Eu disse, mantendo a voz o mais calma que consegui. — O único dinheiro que eu tinha, ele já tomou. Sinceramente? Depois de ontem, isso não é mais problema meu.

Ela ia rebater, mas falei rápido:

— Será que agora você pode me deixar em paz? Eu tenho que trabalhar!

Eu virei para sair, desesperada para tomar um banho antes que eu ficasse muito atrasada.

— Onde você tava? — Ela perguntou, franzindo o cenho. — Já que acabou de dizer que não tava no hospital, onde tava?

Droga!

— Na casa de uma amiga. — Menti rapidamente, sem nem pensar duas vezes.

— Amiga? — Ela repetiu, levantando uma sobrancelha. — Mesmo? E desde quando você dorme na casa de amigas?

Eu estava prestes a dar outra desculpa quando Marcela entrou na cozinha.

Ela se sentou à mesa, pegou um pão e começou a passar manteiga, como se não houvesse discussão acontecendo.

Marcela sempre tinha aquele jeito indiferente, mas adorava se meter nas minhas brigas com a Rita.

— O que tá pegando? — Ela perguntou, a boca cheia de pão, olhando de Rita para mim.

— A Helena não tava no hospital. — Rita respondeu, apontando para mim, como se eu fosse algum tipo de criminosa. — Deu pra passar a noite fora de casa.

Protegida pelo Dono do Morro [Série Donos do Morro #3]Onde histórias criam vida. Descubra agora