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HELENA

Ele entrou cambaleando, o cheiro forte de álcool encheu o ambiente assim que a porta se abriu. Marcela se afastou um pouco, mas não parecia nem um pouco surpresa. Isso já tinha virado rotina pra nós.

— Helena! — ele gritou, a voz rouca e arrastada. — Vem cá! Preciso falar com você.

Fechei os olhos por um momento. Não bastava as irmãs e as discussões intermináveis, agora eu ainda tinha que lidar com meu pai bêbado.

Respirei fundo e saí do quarto. Ele estava jogado no sofá, os olhos semiabertos, mal conseguindo me focar.

— O que foi, pai? — perguntei, sabendo que nada de bom sairia dali.

— Quero que me dê dinheiro, preciso pagar umas coisas... — ele pediu, tentando soar tranquilo, mas eu conhecia aquela voz desesperada.

Era o mesmo pedido de sempre.

— Pai, eu não tenho dinheiro. — respondi, já firme, tentando cortar a conversa antes que ele insistisse. — Tudo o que eu ganho vai pras contas da casa. Já te falei isso mil vezes.

Ele soltou uma risada amarga, um som cheio de cinismo.

— Sempre com essa história, né? — ele retrucou, com um tom debochado. — Você ganha bem, Helena. Eu sei disso. A verdade é que você não quer me ajudar.

Senti meu estômago revirar de raiva. Aquilo era tão injusto, tão sufocante.

— Não é nada disso e o senhor sabe! — explodi, incapaz de segurar a frustração. — Eu tô sustentando essa casa sozinha! Você acha que o quê? Que o dinheiro dá em árvore? Eu trabalho feito louca enquanto o senhor gasta tudo em bebida e jogo!

Eu estava tremendo, o coração batendo acelerado, as palavras saindo com tanta força que mal conseguia respirar. E ele só me olhava, como se eu fosse a errada.

Ele se levantou cambaleando, tropeçando nos próprios pés, mas avançando na minha direção com um olhar cheio de fúria.

— Tá falando com quem desse jeito, garota? — ele rosnou, o hálito de álcool batendo no meu rosto.

Dei um passo pra trás, mas não ia recuar.

— Com você! — gritei de volta. — Alguém tem que falar as verdades aqui! Eu tô cansada, pai. Cansada de ser a única responsável nessa casa!

Marcela e Rita apareceram na sala, observando em silêncio. Como sempre, não faziam nada além de assistir. Era sempre assim. Roberta logo se juntou a elas, e lá estavam as três, esperando o próximo capítulo da novela.

Ele deu mais um passo na minha direção, e eu senti o pânico crescendo. Seu olhar estava ainda mais turvo, e quando ele ergueu o braço, achei que ele fosse me bater. Meu coração acelerou, e tudo o que eu conseguia pensar era em me defender.

Mas ao invés de me bater, ele agarrou meu braço com força, os dedos grossos se apertando contra a minha pele de um jeito doloroso.

— Você vai parar de falar assim comigo! — ele gritou, sacudindo meu braço. — Sou seu pai, e você me deve respeito! Se eu pedir dinheiro, você vai me dar!

— Me solta! — eu tentei puxar meu braço, mas ele segurava com ainda mais força. — Me solta agora, pai!

— Não até você entender quem manda nessa casa! — ele continuou, a voz cada vez mais alta, o hálito quente e insuportável.

Minhas irmãs continuavam paradas, olhando a cena. Ninguém se mexia, ninguém me defendia.

Finalmente, consegui me soltar, mas ele não desistiu. Deu passadas largas até o meu quarto e começou a revirar as coisas, os olhos vermelhos e furiosos, jogando almofadas, abrindo gavetas, procurando alguma coisa.

— O que você tá fazendo?! — gritei, tentando segurar sua mão enquanto ele empurrava meus livros do móvel. — Para com isso! Você tá louco!

— Tô procurando dinheiro. — ele rosnou, se inclinando sobre a estante, derrubando ainda mais coisas. — Porque eu sei que você tem.

— Eu não tô mentindo! — tentei empurrá-lo, mas ele era muito mais forte do que eu. — Eu já disse que o único dinheiro que eu tenho vai pras contas da casa!

Ele virou para mim com os olhos injetados de raiva, a boca contorcida em um sorriso cruel.

— Contas da casa? — ele riu, e foi um som assustador. — Eu quero esse dinheiro!

Ele se aproximou de mim mais uma vez, e agora estava mais agressivo. Começou a mexer na minha bolsa, puxando tudo pra fora.

— Não! — gritei, tentando pegar a bolsa de volta. — Para com isso!

— Onde tá o dinheiro, Helena? — ele insistiu, a voz cada vez mais agressiva. — Você tem. Sempre tem.

E então ele encontrou. Tirou algumas notas amassadas da minha bolsa, o dinheiro que eu havia separado para pagar as contas da casa no dia seguinte. Senti meu estômago afundar.

— Eu disse que você tinha dinheiro. — ele sorriu, balançando o dinheiro na minha frente. — Você mentiu pra mim, sua ordinária?

— Esse dinheiro é pra pagar as contas! — gritei, tentando pegar o dinheiro de volta. — Você não pode pegar isso!

— Posso e vou! — ele gritou, me empurrando para longe. — Da próxima vez que eu pedir, é melhor você dar sem reclamar!

Eu estava chorando agora. A frustração, a raiva, o medo. Tudo me consumia, e eu não conseguia mais segurar. As lágrimas escorriam pelo meu rosto, e meu corpo tremia de exaustão e desespero.

— Você é tão irresponsável. — disse, minha voz quebrada. — Esse dinheiro é pra pagar as coisas, o senhor não pode gastar pagando suas dívidas!

Ele deu mais um passo na minha direção, e dessa vez eu realmente achei que ele fosse me bater. Sua mão levantou, e por um momento, todo o ar saiu dos meus pulmões.

Mas então ele parou. Ficou ali, com o braço levantado, tremendo, respirando pesado. E depois abaixou a mão.

— Vai pro seu quarto. — ele murmurou, derrotado, balançando a cabeça como se estivesse tentando afastar os pensamentos. — Sai da minha frente antes que eu perca a minha paciência contigo. Eu ainda sou o seu pai e quero que me obedeça!

Eu o encarei por um momento, antes de finalmente me afastar.

Caminhei até meu quarto em silêncio, minhas irmãs me observando com olhares indecifráveis. Nenhuma delas disse nada. Como sempre, ninguém tomou partido.

Chegando no quarto, fechei a porta atrás de mim e me joguei na cama. As lágrimas ainda escorriam pelo meu rosto, e eu me encolhi.

Protegida pelo Dono do Morro [Série Donos do Morro #3]Onde histórias criam vida. Descubra agora