Protegida pelo Dono do Morro [Série Donos do Morro #3]

26

HELENA

Eu estava distraída, mexendo na bandeja com os pães de queijo que tinham acabado de sair do micro-ondas quando o meu celular vibrou no balcão.

Olhei para a tela e vi o nome do meu pai.

Suspirei. Lá vinha mais um pedido de dinheiro.

— Oi, pai. — Atendi.

— Oi, filhinha. Então... você tem uns trocados pro papai? Tô precisando pagar uma dívida. — Ele disse, com a voz mansa.

Revirei os olhos. Eu sabia que “dívida” era só uma desculpa. Ele nunca falava a verdade. E eu estava cansada de jogar esse jogo, de ser pressionada a dar algo que eu não tinha.

Se bem que eu tinha o dinheiro do pagamento que Dante já tinha feito, mas eu não daria. Se eu desse, isso nunca teria fim.

— Não tenho, pai. — Falei firme, cortando o assunto antes que ele começasse com os rodeios.

— Ah, só uns trocadinhos... — Ele insistiu.

Eu respirei fundo.

— Não dá, pai. Tô na casa de uma amiga, talvez nem vá pra casa hoje. A gente se fala depois, tá? — Tentei encerrar a conversa, sem abrir espaço para mais pedidos.

Foi aí que ouvi a risada de Marcela ao fundo. Claro que ela estava por perto.

— Amiga? Sei... Deve tá na casa do namorado imaginário dela! — A voz debochada de Marcela ecoou pelo telefone, e eu senti o sangue ferver.

Abri o armário para pegar alguns pratos e coloquei o viva-voz para poder continuar preparando nosso lanche.

— Essa história já foi longe demais, Helena. Para de ser ridícula. — Ela continuou, e eu fechei os olhos por um segundo, tentando não deixar as palavras dela me atingirem. — Quem você tá querendo enganar?

Eu apertei os punhos ao redor da bandeja. Não ia deixar ela me derrubar, não dessa vez.

— Me deixa em paz, Marcela. E pra começo de conversa, eu não tava falando com você.

— Você é muito ridícula mesmo. — Ela soltou uma risada cheia de deboche. — Vive inventando essas mentirinhas pra ver se alguém te nota. Acha que engana quem?

Ela riu de novo.

— Nunca vai ter um namorado de verdade. Homens não gostam de mulheres como você, eles preferem as gostosas... como eu, meu anjo.

Fez uma pausa.

— Desculpa a sinceridade, mas você vai ficar pra tia, é isso.

Já ouvi essas coisas tantas vezes que, de algum jeito, elas começaram a perder o impacto. Só que, no fundo, ainda doía. Eu sempre me perguntava se ela tinha razão.

Mas, dessa vez, algo estava diferente. Algo em mim tinha mudado. Talvez fosse porque Muralha entrou na minha vida, e ele me dizia coisas completamente diferentes.

Ele me olhava de um jeito que eu nunca pensei que alguém olharia. Nem eu.

Ele falava que eu era linda, e não apenas do rosto, mas inteira.

Toda vez que ele me elogiava, algo dentro de mim acreditava um pouco mais.

Estava tão concentrada nesses pensamentos que nem percebi Muralha atrás de mim, silencioso.

Ele ouviu tudo.

Eu não tinha nem percebido, mas ele estava lá, escutando cada palavra de Marcela. Quando olhei para trás, ele já estava me observando com aquele olhar sério que chegava até a dar medo.