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HELENA

Eu estava exausta, mal conseguia manter os olhos abertos, enquanto eu tentava, em vão, reunir forças para enfrentar o próximo plantão.

A vida no hospital era uma constante maratona, e o peso dos plantões intermináveis começava a se acumular. Mas, para ser sincera, trabalhar aqui era a melhor desculpa para não estar em casa.

Rita e as meninas faziam de tudo para me infernizar. Especialmente a Marcela.

Minha melhor amiga, Karina, se sentou à minha frente com duas xícaras de café, me entregando uma delas com um sorriso leve, mas aquele olhar que dizia "não vai escapar de mim hoje".

— Cara, você tá com uma cara péssima, amiga. — ela disse, rindo.

Suspirei, olhando para o café.

— Muito obrigada, amiga. — Sorri debochada. — Tô só cansada, só isso. — tentei minimizar, mas eu sabia que a Karina não era boba.

Ela me encarou, os olhos semicerrados, claramente não comprando a minha desculpa.

— Ah, claro, cansada. Cansada de quê? De ser humilhada naquela casa? Cansada de ser a mulher mais trabalhadora que eu conheço? — Ela apoiou o cotovelo na mesa e me lançou aquele olhar curioso de sempre. — Anda, Helena. Me conta o que aconteceu dessa vez. Foi a Rita, né? Aposto que a bruxa te disse alguma coisa.

Mordi o lábio inferior, lutando contra a vontade de chorar. Eu precisava desabafar, e Karina era a única pessoa com quem eu podia fazer isso.

— Foi a Marcela... — comecei, minha voz quase se perdendo. — Ela me humilhou ontem de novo. Jogou na minha cara que eu ainda sou virgem, disse que isso é porque ninguém nunca quis ''comer'' uma mulher como eu... o de sempre.

Karina ficou imóvel por um segundo, como se estivesse processando as palavras. Seus olhos se estreitaram e, em segundos, ela estava com uma expressão furiosa.

— O quê?! — ela exclamou, batendo a mão na mesa, chamando a atenção de algumas pessoas ao redor. — Aquela garota tá pedindo pra apanhar, né? Se eu ver essa idiota na minha frente, Helena, ninguém me tira de cima. E outra, vamos combinar que ela só faz isso porque morre de inveja. Você é bonita, inteligente, e tá aqui construindo um futuro incrível. Essa Marcela é uma frustrada, mimada, que não tem nada melhor pra fazer além de te atormentar.

Karina sempre foi assim, uma tempestade de emoções e eu sabia que ela era minha amiga de verdade, uma amiga leal.

— Karina, calma. Não precisa fazer nada. Já tô acostumada. É só mais um dia naquela casa, sabe? — dei de ombros, tentando amenizar a situação.

— Acostumada? Helena, para com isso. Ninguém deveria estar acostumada a ser tratada desse jeito! Essa garota tem problemas sérios. Deve ser porque ela sabe que você vai ter um futuro melhor que o dela e ela tá lá, sem fazer nada da vida, vivendo às custas dos outros. Só pode ser inveja. — Karina cruzou os braços, ainda furiosa.

— Conviver com isso todo dia cansa. Às vezes eu sinto que, se eu desaparecesse, ninguém notaria. Nem meu pai... Ele só tá lá quando precisa de mim. E quando não precisa, nem parece que eu existo.

Karina me olhou, seus olhos suavizando um pouco ao ver o quanto aquilo me machucava. Ela se inclinou para frente e segurou minha mão.

— Você não tá sozinha, Helena. Eu tô aqui. Sempre estive e sempre vou estar. E quer saber? Eu sei que sua vida em casa é uma droga, mas olha pra você. Tá aqui, no hospital, na residência. Você vai ser uma médica brilhante, e suas irmãs e a vaca da sua madrasta vão ter que engolir isso. — disse ela, tentando me animar.

Protegida pelo Dono do Morro [Série Donos do Morro #3]Onde histórias criam vida. Descubra agora