HELENA
Acordei de sobressalto. Não sabia ao certo o que tinha acontecido, mas ouvi um som. Um grito. Levei alguns segundos para me localizar, e quando os sons ficaram mais claros, percebi que vinha do andar de cima. A voz era grave, mas o tom de dor era evidente.
Eram os gritos do Muralha.
Sem pensar duas vezes, calcei os chinelos e saí correndo escada acima. O coração disparado, e a adrenalina correndo no meu corpo me faziam mover mais rápido do que eu achava possível.
Abri a porta do quarto com pressa e o encontrei na cama, gemendo alto enquanto segurava a coxa. Seu corpo estava coberto de suor e seus olhos, vermelhos, estavam cheios de lágrimas de dor. Meu coração apertou ao vê-lo assim.
— O que você tá sentindo? — perguntei, me aproximando com cuidado, a voz mais suave possível.
Muralha me olhou com uma mistura de surpresa e raiva. Ele não esperava que eu estivesse ali, nem queria que eu o visse desse jeito.
— Mas que porra! — ele rosnou, a dor misturada com a raiva em sua voz. — Não preciso de você.
Ignorei o tom hostil. Ele estava claramente com muita dor, e isso só o fazia falar daquele jeito, ou não.
Eu me aproximei mais um pouco, e meus olhos foram para a mesinha ao lado da cama. O copo de água estava ali, intacto, e o comprimido que deixei mais cedo também.
— Você não tomou o remédio. — constatei.
Ele soltou um riso sarcástico, mas o som se quebrou no meio, sufocado por um gemido de dor. Seus dedos apertavam a coxa com força, como se pudesse espantar a dor só com aquilo.
— Eu não sou doente, não vou tomar essa droga. — ele disse entre dentes.
— Esse remédio não vai te curar, Muralha. — Respirei fundo, tentando manter a calma. — Mas vai ajudar com a dor fantasma. A dor que você tá sentindo... ela não tá realmente aí. Seu cérebro precisa de ajuda pra entender isso.
Ele me encarou por um momento, os dentes cerrados, a mandíbula tensa. Eu podia ver o quanto ele estava lutando contra a dor.
— Não vou tomar nada, já falei. — Ele virou o rosto, como se quisesse me expulsar dali só com o olhar.
Me abaixei, peguei o frasco de remédio e o copo de água. Sem dizer nada, me aproximei da cama e estendi os dois para ele.
— Toma. — Disse firme, sem dar espaço para discussão. — Se você tomar, a dor vai sumir logo. É isso que você quer, né?
Muralha me olhou, e por um segundo achei que ele ia me mandar embora de novo. Mas a dor venceu o orgulho. Ele pegou o remédio da minha mão, quase de má vontade, e engoliu junto com a água. Seus olhos estavam fechados, o corpo tenso, como se cada movimento fosse uma batalha.
Esperei que ele tomasse tudo e deixei o copo de volta na mesinha. Sabia que o remédio levaria alguns minutos para fazer efeito, mas ele precisava de algo imediato. Foi então que lembrei do óleo de massagem que tinha guardado na gaveta da mesinha, justamente para situações como essa.
— Eu deixei aqui um óleo que pode ajudar. — falei, pegando o frasco. — Vai aliviar a dor enquanto o remédio faz efeito.
Muralha me olhou desconfiado, mas não disse nada. Era óbvio que ele estava desesperado por qualquer alívio naquele momento.
Me sentei ao lado dele na cama, ainda hesitante.
— Posso? — perguntei, indicando o coto da perna dele.
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Protegida pelo Dono do Morro [Série Donos do Morro #3]
RomanceRodrigo Kim Almeida, ou simplesmente Muralha, é um líder implacável e temido no morro do Horizonte, mas vê a sua vida mudar drasticamente após perder a perna em um confronto violento com rivais. Isolado e cheio de dor, ele rejeita ajuda e se afasta...