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HELENA

Lobo tinha acabado de matar Marcela bem na minha frente, e eu sabia que a minha vida estava pendurada por um fio. Eu só conseguia pensar que não ia sobreviver.

Eu nem tinha dito pro Rodrigo que eu amava ele, e eu devia ter dito. Será que ele sabia?

"Eu te amo, meu amor. Queria que você soubesse, que tivesse ouvido isso de mim, Rodrigo.", pensei, com esperanças de que, de algum modo, ele ouvisse.

De repente, o som abafado de passos apressados do lado de fora me tirou do transe. Algo estava acontecendo.

O silêncio pesado que vinha dominando o ambiente foi quebrado por um estrondo. Ouvi gritos, e depois mais tiros, mas dessa vez, mais distantes, como se fosse lá fora, no meio do morro.

Eu me contorci nas cordas, tentando me soltar, mas elas estavam tão apertadas. Desesperada, minha mente tentava processar o que estava acontecendo. Ouvi gritos de pânico e ordens sendo dadas aos berros, mas minha visão estava limitada àquela sala escura.

Foi então que ouvi o nome. Muralha. Eles estavam gritando o nome dele. Muralha tinha invadido o morro do Lobo. Ele tinha vindo me buscar.

— Socorro! — gritei para que soubessem que eu já estava ali, para que ele soubesse que eu estava ali. 

— Grita, desgraçada! — debochou, Lobo. — Assim que o fodido do seu namorado passar por aquela porta, eu vou colocar uma bala na testa dele. — ameaçou e eu me calei.

Um estrondo sacudiu as paredes da casa. Lobo parou de andar e olhou para a porta, seus olhos faiscando de ódio... e preocupação.

— Desgraçado! — Lobo sussurrou com raiva, preparando mais munição.

Mais tiros. Desta vez, parecia que estavam dentro da casa. O som era ensurdecedor, e eu me encolhi ainda mais na cadeira, com o coração disparado. Estava tudo acontecendo muito rápido.

A porta da sala explodiu. A madeira se partiu em estilhaços, e Muralha entrou, cambaleando. Ele estava ferido, havia sangue em sua camisa, escorrendo pelo lado do corpo. Ele parecia um animal selvagem.

— Feliz em me ver, filho da puta? — Muralha gritou.

— Veio atrás da sua vadia, seu aleijado? — debochou. — Nem deu tempo de fazer tudo o que eu queria com essa gostosa. É uma pena que ela tenha que morrer antes de eu poder provar...

Rodrigo não esperou ele continuar.

— Eu vou te matar! — Ele rugiu, avançando.

Lobo atirou, acertando a perna de Muralha. Eu vi o sangue manchar a calça dele, e por um momento seu joelho dobrou, mas, de forma inacreditável, ele não caiu.

— Amor... — falei, desesperada.

O som da risada do Lobo preencheu toda a sala.

— Olha só... — zumbiu, o sorriso torcido no rosto. — O casalzinho apaixonado. Quem é que vai pro inferno primeiro, hein?

Antes que Lobo pudesse atirar de novo, Muralha se lançou sobre ele, e os dois caíram no chão com um baque ensurdecedor. Muralha começou a desferir socos em Lobo, com raiva. Mas ele conseguiu se desvencilhar.

Ele rolou pelo chão, com o rosto ensanguentado, respirando com dificuldade. Rapidamente, empunhou a arma e a apontou novamente para Muralha, que se apressou em disparar.

O tiro acertou Lobo no peito.

Eu vi o corpo dele se dobrar, o impacto o empurrando para trás. O grito de Lobo foi sufocado pelo próprio sangue que começou a jorrar de sua boca. Ele caiu de joelhos no chão, a respiração entrecortada, mas, em um último esforço, apertou o gatilho mais uma vez.

Protegida pelo Dono do Morro [Série Donos do Morro #3]Onde histórias criam vida. Descubra agora