HELENA
Acordei com a cabeça latejando, e a sensação de sufocamento tomou conta de mim assim que percebi o pano preso firmemente sobre a minha boca.
O corpo inteiro doía, e a primeira coisa que senti foram meus pulsos e tornozelos amarrados, presos à cadeira de madeira.
Tentei me mexer, mas os nós eram apertados demais, cortando a pele a cada tentativa de fuga. Uma onda de pânico me atravessou, e lágrimas brotaram nos meus olhos antes que eu pudesse impedir. Por que estava acontecendo aquilo?
A respiração começou a acelerar, o ar entrando e saindo com dificuldade pelo pano, e meus olhos começaram a varrer o ambiente, procurando qualquer pista de onde eu estava.
Era uma sala pequena, escura, com uma luz fraca pendurada no teto. Minhas mãos estavam tão frias que eu mal conseguia sentir os dedos.
O desespero aumentava a cada segundo, e a ideia de estar sozinha ali, indefesa, me fez querer gritar, mesmo que o som não saísse.
Foi quando ouvi a porta da sala abrir com um rangido. Meus olhos imediatamente se voltaram para lá, e meu coração quase parou ao ver duas figuras entrando.
Primeiro, um homem alto, de cerca de 45 ou 50 anos, com uma expressão fria e calculista no rosto. Atrás dele, estava... Marcela.
Arregalei os olhos, incapaz de processar o que via. Ela ria com desdém enquanto se aproximava. A mesma Marcela que tinha desaparecido junto com a Roberta, a Rita e meu pai, a mesma que eu achava que nunca mais veria. O que ela estava fazendo ali?
Ela caminhou com um sorriso maldoso, e num movimento rápido, arrancou o pano da minha boca com violência. O ar frio entrou pelos meus pulmões, mas o alívio foi breve.
Marcela se inclinou, aproximando o rosto bem perto do meu, tão perto que eu podia sentir o cheiro do perfume que ela usava.
— E aí, Helena? Qual é a sensação de estar assim, hein? — ela sussurrou com desprezo, os olhos dela brilhando de ódio. — É bom estar amarrada, irmãzinha?
Eu estava em choque, sem saber o que dizer. Tentei processar a presença dela ali, aquele homem desconhecido ao lado, o terror que agora tomava conta do meu corpo.
— Por que você tá fazendo isso, Marcela? Quem é esse homem? — perguntei, a voz saindo trêmula, ainda sem entender.
Ela não respondeu de imediato. Em vez disso, levantou-se devagar e apontou para o próprio rosto, que agora estava completamente diferente do que eu lembrava.
Cicatrizes profundas e cortes mal curados deformavam o que antes era uma expressão altiva e arrogante. Marcela sempre foi bonita, e ela sabia disso. Agora, aquela beleza estava destruída.
— Tá vendo isso aqui, Helena? — ela perguntou, o tom sarcástico, mas com uma raiva latente. — Isso tá bom pra você?
Eu tremi.
— Eu não sabia que o Muralha faria isso com você, eu juro... — tentei me explicar, a voz quase um sussurro. Eu realmente não sabia o que havia acontecido.
Marcela deu uma risada amarga, balançando a cabeça com desprezo.
— Não importa se sabia ou não. A culpa ainda é sua. — ela rosnou, cada palavra cheia de rancor. — E agora você vai pagar na mesma moeda, vadia idiota!
Meus pensamentos estavam confusos, tentando entender de onde vinha tanto ódio. Marcela... ela tinha ido embora. Pelo menos era o que eu pensava.
— Eu achei que você tinha ido embora. — falei.
— Eu fui, Helena. — ela respondeu, com um sorriso cínico. — Meus pais e minha irmã, aqueles idiotas, saíram com o rabinho entre as pernas, fugiram como covardes. Mas eu? Eu nunca deixaria isso barato. Muralha tirou de mim o que eu tinha de mais valioso, a minha beleza. — sua voz era uma mistura de dor e fúria.
— Eu não tenho culpa disso, Marcela... — tentei dizer, mas a interrupção foi um tapa violento no meu rosto.
O estalo ecoou pela sala, e a dor fez meus olhos lacrimejarem imediatamente. Marcela riu, debochada, como se tivesse gostado de me ver sofrer.
— A santa da Helena nunca tem culpa de nada, né? — ela zombou, o veneno escorrendo das palavras. — Você é sempre o anjo, sempre perfeita.
Eu neguei com a cabeça, tentando fazer com que ela enxergasse a verdade, mas parecia inútil. O ódio dela era grande demais, profundo demais.
— Nós somos irmãs, Marcela. — sussurrei, tentando tocar em algo que restasse entre nós.
Ela riu mais alto dessa vez, com uma risada histérica, completamente desequilibrada.
— Irmãs? Você é uma puta nojenta, Helena! — ela gritou, os olhos arregalados de fúria. — Sempre foi uma gorda estúpida, sempre tentando ser mais do que eu. Mas você nunca chegou nem aos meus pés! Nunca!
O que veio a seguir foram golpes de pura raiva. Marcela começou a me bater com tudo que tinha, socos, tapas, o que ela conseguia. Meu corpo inteiro queimava de dor.
Eu tentei me proteger, mas os nós apertados em meus pulsos me impediam de me defender.
As lágrimas escorriam pelo meu rosto, a dor física se misturando ao desespero de saber que iriam me matar. Marcela seria capaz disso e não iria descansar enquanto não fizesse aquilo.
— Você tomou o que deveria ser meu, sua vadia. Ele era meu, ouviu? Meu!
Depois de um tempo que pareceu uma eternidade, o homem que estava parado até então, se aproximou e segurou Marcela pelos ombros, puxando-a para longe de mim.
— Agora não é o momento. — ele disse, com uma calma assustadora, mas firme o suficiente para fazê-la parar.
Marcela, ofegante e completamente descontrolada, olhou para ele com raiva.
— Eu quero acabar com o rosto dessa vadia! — ela gritou, pegando uma faca que estava sobre uma mesa, apontando a lâmina em minha direção.
Meu corpo se enrijeceu, o medo crescendo cada vez mais. Se ela me cortasse, eu sabia que não pararia até me destruir.
Mas o homem a segurou com brutalidade, arrancando a faca das mãos dela e jogando-a longe.
— Eu disse. Agora. Não. — ele falou, pausadamente, a voz fria, dominadora. — As coisas vão acontecer do jeito que eu quero, entendeu?
Marcela deu uma risada doentia, como se estivesse perdendo o pouco de sanidade que restava.
— Mata logo essa desgraçada, Lobo! — ela gritou.
Lobo se inclinou para frente, olhando diretamente para mim. Seus olhos eram frios, sem um pingo de compaixão.
— Primeiro, eu quero o Muralha. — ele disse, com uma tranquilidade assustadora. — Depois, a gente mata a vadiazinha da mulher dele.
Minha cabeça girava. O pavor era maior que qualquer coisa que eu já tinha sentido na vida.
Muralha.
Eles estavam fazendo isso por causa dele. Eu estava sendo usada como isca.
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Protegida pelo Dono do Morro [Série Donos do Morro #3]
Roman d'amourRodrigo Kim Almeida, ou simplesmente Muralha, é um líder implacável e temido no morro do Horizonte, mas vê a sua vida mudar drasticamente após perder a perna em um confronto violento com rivais. Isolado e cheio de dor, ele rejeita ajuda e se afasta...