HELENA
Peguei minha bolsa no armário, dei uma última olhada ao redor e saí do hospital sem olhar para trás.
Sabia que estava adiando isso há dias, mas não dava mais para fugir.
Eu ficava mais na casa do Rodrigo do que lá, na verdade, eu não fazia nada além de ir buscar algumas coisas, e agora, finalmente, quase não tinha mais nada meu naquela casa.
Rodrigo me disse que eu podia ficar na casa dele até conseguir me estabelecer, encontrar um lugar para mim. Nós já tínhamos falado sobre isso algumas vezes, e ele sempre foi claro: queria que eu ficasse confortável, que não precisasse me preocupar com isso agora.
E eu precisava daquele tempo para respirar, para me afastar de tudo o que me lembrava o inferno que era viver com a minha família. Só que, para isso, eu precisava fechar esse ciclo. Precisava pegar minhas coisas e nunca mais voltar.
Quando cheguei na casa, tentei não pensar muito nisso enquanto subia os poucos degraus da varanda. Só queria entrar, pegar o que faltava e sair o mais rápido possível.
Entrei direto, mas, claro, não consegui passar despercebida.
— O que você tá fazendo aqui, menina? Já não disse que você não é mais bem-vinda nessa casa? — A voz da Rita cortou o silêncio da casa.
— Não fala assim com a minha filha, Rita. Essa casa também é da Helena — meu pai finalmente se pronunciou, a voz soando firme, mas vazia de qualquer emoção real.
Era óbvio que ele só estava tentando evitar perder os poucos trocados que eu deixava por aqui. Não era preocupação genuína, muito menos carinho.
Meu pai tinha deixado de ser o meu pai há bastante tempo.
Eu olhei rapidamente para a cozinha, onde estavam todos. A família feliz. Como se eu não estivesse prestes a tirar o resto da minha vida daquela casa.
— Só vim pegar o resto das minhas coisas. — Respondi, seca, e continuei andando em direção ao meu antigo quarto.
— Ah, bastou dar pra qualquer filho da puta por aí que perdeu o medo, né? — Marcela levantou da mesa, vindo direto na minha direção. — Mas deixa eu te falar uma coisa: eu não engoli aquela ameaça no telefone, não. Tô nem aí pra quem é esse seu macho.
Continuei andando, tentando ignorá-la, mas ela foi mais rápida. Antes que eu pudesse chegar à porta do quarto, senti a mão dela no meu cabelo, me puxando para trás com força.
— Eu tô falando contigo, vagabunda. — Marcela rosnou no meu ouvido, enquanto eu tentava me soltar.
A raiva subiu por dentro de mim, mas eu respirei fundo. Não ia cair nesse jogo de novo. Segurei o braço dela com força, apertando para que ela soltasse.
— Me solta! Depois de tudo que vocês fizeram comigo, isso não foi é nada. — Falei.
Marcela me soltou, mas só para dar um tapa forte na minha cara.
— Aquele filho da puta me xingou, mas eu não tenho medo de ameaça nenhuma!
O tapa da Marcela fez meu rosto queimar na hora. A dor virou raiva num piscar de olhos, e antes que eu percebesse, minha mão já estava no ar. Dei o troco com tudo que eu tinha. O som ecoou pela casa, e o choque deixou um silêncio no ar.
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Protegida pelo Dono do Morro [Série Donos do Morro #3]
RomanceRodrigo Kim Almeida, ou simplesmente Muralha, é um líder implacável e temido no morro do Horizonte, mas vê a sua vida mudar drasticamente após perder a perna em um confronto violento com rivais. Isolado e cheio de dor, ele rejeita ajuda e se afasta...