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HELENA

Rodrigo precisava saber o que estava acontecendo. Quem quer que fosse, já tinha cruzado todos os limites.

Meu coração ainda batia acelerado, e minhas mãos tremiam enquanto digitava o número dele no celular. Ele tinha que saber, tinha que me ajudar a entender o que estava acontecendo.

Antes que a chamada completasse, o telefone vibrou em minhas mãos, me fazendo quase soltá-lo.

Era a Karina.

Suspirei, aliviada.

Apertei o celular contra o ouvido, esperando que minha voz saísse firme, mas só o que saiu foi um sussurro trêmulo.

— K-Karina?

— Amiga, eu tô ficando doida aqui! Lembra daquele paciente que você operou semana passada? Aquele senhor de 70 anos que caiu em casa? — ela perguntou, a voz apressada do outro lado da linha.

Fechei os olhos, ainda aliviada por não ser o homem misterioso de novo.

— Lembro. O que aconteceu? — respondi, me endireitando na cadeira. O senhor era teimoso feito uma mula, mas tinha insistido em ser atendido por mim durante toda a recuperação.

— Então, ele tá aqui no hospital de novo. Parece que não tá se sentindo muito bem e, claro, pediu por você. — Karina completou, suspirando como se estivesse cansada de lidar com ele.

Suspirei também. Eu já estava com tantas coisas na cabeça, mas não podia deixar de fazer meu trabalho. Aquele paciente era teimoso, mas eu tinha que ajudar. Por mais cansada que estivesse, não conseguia dizer "não" para essas coisas.

— Tudo bem, tô indo pra aí. — respondi, pegando minhas coisas e já me preparando para sair.

Saí de casa e caminhei em direção à entrada do morro. Vi Igor encostado na entrada.

— Tá indo trampar, Helena? — ele perguntou, me olhando.

— Tô. — respondi, dando um leve sorriso. Não estava muito no clima de conversa.

Ele deu um passo à frente.

— O Muralha falou que quando ele não pudesse, eu ia te levar pro hospital. — Igor disse. — Vamo, eu te levo.

Assenti aliviada. Não queria andar sozinha. Entrei no carro, e logo estávamos descendo as ladeiras do morro.

— Como tá a Marília, Igor? — perguntei, tentando puxar assunto e sair um pouco dos meus próprios problemas.

Igor deu uma risada curta, parecendo realmente aliviado com algo.

— Tá melhorando. — ele respondeu, a voz dele soando diferente, como se aquilo significasse mais do que apenas uma melhora física. — Tá mais tranquila, sabe?

Assenti e sorri. Depois de uma pausa, falei:

— Você gosta dela, né?

Igor ficou em silêncio por um segundo, como se estivesse refletindo sobre a pergunta, e então deu de ombros, mas sem tirar os olhos da estrada.

— Tô sentindo uma parada por ela... uma coisa que nem eu sei explicar. Mas é forte pra caralho, Helena. Eu quero a Marília pra mim, eu preciso da Marília comigo.

Eu assenti novamente, sabendo bem o que ele queria dizer.

Era o que eu sentia pelo Muralha, aquela mistura de caos e segurança, de amor e medo.

Ele e Marília seriam felizes juntos, e isso me deixava tão feliz. Só faltava a Karina encontrar a própria felicidade agora. E eu suspeitava que essa felicidade tinha nome e endereço: Dante.

Voltei a atenção para o Igor que estava com os olhos fixos na estrada.

— Fico feliz por ela. Depois de tudo, a Lila merece viver de verdade. — falei, e depois, sem nem perceber, completei: — Igor, só... não machuca a Marília.

Ele virou a cabeça um pouco para mim.

— Eu nunca magoaria ela, Helena. — ele disse, mais sério agora. — Tu acha que ela e eu... a gente pode dar certo? — ele perguntou, o tom meio brincalhão, meio sério.

— Eu tenho certeza. — respondi, sincera. — Se você fizer as coisas direito... vocês vão ser felizes juntos. Muito felizes.

Quando chegamos ao hospital, desci
do carro e me despedi dele.

— Valeu, Helena. — ele disse, parando o carro no estacionamento do hospital. — Você é foda, sabia?

— Obrigada pela carona. — eu disse, sorrindo. — Cuida dela, viu?

— Pode deixar. Se cuida aí, garota. Qualquer coisa, me liga. — ele disse, dando partida e desaparecendo no meio do trânsito.

Respirei fundo e comecei a caminhar em direção à entrada do hospital. O sol estava forte, e a movimentação parecia, estranhamente, parada naquele dia.

Eu me distraí por um momento, pensando no paciente teimoso que me esperava lá dentro. Mas foi nesse exato momento que senti algo estranho.

Um braço forte me agarrou por trás, prendendo meus braços junto ao corpo. O susto foi tão grande que meu corpo paralisou por um segundo. Em seguida, senti algo pressionando minha boca e nariz, um pano com um cheiro forte, enjoativo.

— N-não! — tentei gritar, mas o som saiu abafado, fraco. Me debati, tentando me soltar, mas o braço ao meu redor era firme demais, me segurando com facilidade, como se eu não tivesse forças.

Meu coração começou a bater descontrolado, o pânico tomando conta de mim. A sensação do pano na minha boca fazia minha cabeça rodar, e tudo ao meu redor começou a escurecer. Ele era muito mais forte.

O cheiro começou a dominar meus sentidos, queimando minhas narinas e me deixando tonta.

— P-por favor... — tentei gritar, o desespero em cada palavra. — Me solta!

Não conseguia respirar direito. Minha visão começou a falhar, ficando cada vez mais borrada. Eu queria gritar, queria pedir ajuda, mas minha voz estava abafada pelo pano.

A pressão no meu rosto ficou ainda mais intensa, o pano abafando minhas palavras e minha respiração. A falta de ar começou a me desesperar ainda mais.

Meus olhos se arregalaram enquanto tentava virar a cabeça para ver quem estava me atacando, mas minha visão já começava a falhar, escurecendo nos cantos.

— Socorro! — tentei mais uma vez, mas o som não passou de um sussurro abafado.

Meu corpo, antes tomado pela adrenalina, começou a ceder. Minhas pernas fraquejaram, e a força para lutar foi desaparecendo aos poucos. Tudo ao meu redor ficou borrado, como se o mundo estivesse se apagando.

Minha visão começou a embaçar e, então, a última coisa que ouvi foi uma risada. Baixa, sombria, vinda bem perto do meu ouvido.

A mesma risada que eu tinha ouvido naquelas ligações anônimas semanas atrás.

— Finalmente... — uma voz sussurrou, mas já estava tudo escuro demais para entender.

E, então, tudo se apagou.

Protegida pelo Dono do Morro [Série Donos do Morro #3]Onde histórias criam vida. Descubra agora