3

1K 94 17
                                    

HELENA

Alguns dias depois...

Eu descia o morro com pressa e a cabeça baixa.

— O Muralha não pode continuar assim, ele precisa de ajuda, porra. O cara tá mal, Igor.

Ouvi as palavras sendo ditas em um tom baixo, quase como um segredo, mas o suficiente para fazer meu coração disparar.

O que teria acontecido? Há dias o Muralha não era visto por ninguém... desde a invasão em que ele levou um tiro.

Desde aquela fatídica noite em que ele foi atingido, ele havia desaparecido.

Algo dentro de mim dizia que tinha acontecido algo muito sério, que ele não estava bem. Esse pensamento fez meu peito se apertar.

"É só empatia por outro ser humano", eu tentava me convencer.

Tentei afastar os pensamentos, me concentrar na tarefa simples de caminhar, mas era difícil.

Eu estava tão absorta nas minhas preocupações que nem percebi a presença deles, até que já era tarde demais.

— Ei, você aí! — A voz firme de um homem fez meu corpo estremecer.

Levantei o olhar, tentando entender o que estava acontecendo.

Era o Dante.

Todo mundo no morro sabia quem ele era. Primo do Muralha. Eles tinha os traços orientais, os olhos puxados e a pele bronzeada assim como aquele ar ameaçador que fazia qualquer um pensar duas vezes antes de cruzar o caminho deles.

Eu, que sempre tentei ficar longe de confusão, sabia bem o que os dois representavam.

Muralha era o líder, mas Dante não ficava muito atrás.

Sempre ouvi histórias sobre o quanto ele era calculista, frio. Mas vendo ele de perto agora, eu conseguia entender. Não era só a cara de quem não se importava com nada.

Era a sensação de que, a qualquer momento, ele poderia decidir o destino de qualquer pessoa com uma palavra ou um olhar.

E o pior é que ele parecia tranquilo. Tranquilo demais. Como se não estivesse nem aí pro medo que ele causava nas pessoas.

Ao lado dele estava Igor, negro, forte, com o corpo quase todo coberto de tatuagens que subiam pelos braços e se espalhavam pelo peito.

Ele era uma presença tão intimidadora quanto Dante, talvez até mais.

Enquanto Dante tinha aquele ar de frieza, de quem calculava cada movimento, Igor exalava uma energia diferente, mais agressiva. Dava pra sentir, só de olhar pra ele, que não era o tipo de pessoa que se segurava muito antes de agir.

Eu sabia que ele e Dante eram muito próximos do Muralha, como se fossem os braços direitos dele. Onde um estava, o outro também estava.

Eu sabia que tava encrencada.

— Você é enfermeira? — A pergunta do Dante foi direta, e senti o sangue gelar nas veias. Tentei manter a calma, balancei a cabeça, um gesto quase imperceptível.

Dante me olhou dos pés a cabeça, me vendo toda de branco.

— Não. — minha voz saiu fraca, quase um sussurro. — Eu ainda tô fazendo residência. Acho que não posso ajudar vocês, desculpa. — tentei dar um passo pra passar por eles, mas Igor se mexeu, bloqueando minha passagem.

"Que lindo, Helena. Você jurou ajudar quem precisasse e tá aí negando ajuda", meu subconsciente me acusou, me fazendo lembrar o juramento que fiz na formatura.

Protegida pelo Dono do Morro [Série Donos do Morro #3]Onde histórias criam vida. Descubra agora