MARÍLIA
Entrei em casa, exausta do trabalho, querendo apenas tomar um banho. Não queria conversa, não queria discussão, não queria ouvir a voz de ninguém.
Tiago estava largado no sofá e me olhou assim que atravessei a porta.
— Não ligou pra eu ir te buscar por quê, Marília? — a voz dele ecoou pela sala, carregada de impaciência.
Revirei os olhos internamente, me preparando pra ignorar. Eu não estava disposta a entrar em mais uma discussão sem sentido com ele.
Passei direto, sem responder, caminhando a passos rápidos em direção ao corredor que levava ao quarto. Queria evitar qualquer interação, só desejava me afastar antes que o estresse dele me atingisse, mas ele levantou num pulo e senti a mão dele no meu braço, me virando com força.
— Quando eu falar, você para e escuta, porra! — ele gritou, o rosto tão perto que eu podia sentir o hálito quente. — Quando eu te perguntar as coisas, você responde.
As veias do pescoço saltavam. O olhar que ele me lançou era intimidador, quase como se estivesse tentando me dominar com a simples intensidade daquele ódio. A mão dele ainda prendia meu braço com tanta força que eu sentia a dor pulsar debaixo da pele.
— Tiago, por favor... — comecei, tentando manter a voz calma, mas já sabendo que aquilo não ia adiantar. Eu já conhecia o roteiro.
— Não vem com "por favor", Marília! — ele me cortou, apertando ainda mais o meu braço, o rosto dele se aproximando do meu com uma agressividade que me fez prender a respiração. — Você acha que pode me ignorar agora? Acha que eu vou ficar quieto enquanto você passa por mim como se eu fosse invisível? Tá achando que é quem, hein?
Eu olhei para o chão por um segundo, tentando encontrar algum tipo de calmaria, alguma forma de afastar aquela tempestade. Mas eu sabia que não tinha escapatória.
— Tiago... — murmurei, levantando o olhar para encarar o dele. — Eu não estou ignorando você, só estou cansada. Eu só quero descansar. Não quero brigar.
— Não quer brigar? — ele repetiu, zombando, com um sorriso distorcido de desprezo. — Que porra é essa, Marília? Não quer brigar? Então não me provoca, caralho!
Eu tentei soltar meu braço do aperto dele, mas a mão dele não cedeu.
Fechei os olhos por um segundo, tentando não explodir. Suspirei, soltando todo o peso que tava preso no peito há dias.
Quando abri os olhos de novo, já sabia o que precisava dizer.
— Tiago, eu quero terminar.
No instante em que pronunciei a frase, uma onda de alívio me invadiu, como se, finalmente, eu tivesse recuperado o controle da minha própria vida.
Ele, por outro lado, parecia completamente perdido. A expressão de raiva sumiu do rosto dele, substituída por um choque que ele claramente não sabia como esconder.
A negação veio primeiro nos olhos dele, depois na boca, mas sem uma palavra. Era como se a ideia de perder o controle sobre mim fosse impossível pra ele.
Ele se aproximou mais, o rosto a centímetros do meu. A voz saiu baixa, mas carregada de ameaça.
— Nunca. — ele murmurou, a voz baixa e tensa, como se estivesse me avisando de algo que eu não tinha o direito de discordar. — Você vai ficar comigo pra sempre. A gente vai casar, entendeu?
Os olhos dele ardiam de uma possessividade assustadora. Não era amor, nunca tinha sido. Era controle. Ele queria manter o poder sobre mim, e a ideia de que eu estava escapando desse domínio era algo que ele simplesmente não conseguia aceitar.
O tom de ameaça era claro. Ele não estava pedindo. Estava exigindo.
Eu segurei o olhar dele, sem ceder, sem baixar a cabeça.
— Eu... eu não sei se eu te amo, Tiago. — minha voz saiu baixa, mas firme. — E se eu não tenho certeza, então é porque eu não amo de verdade. Eu preciso saber o que é amar de verdade.
Por um instante, ele ficou parado, absorvendo o que eu disse. Então, soltou uma risada amarga, sem o menor traço de humor. Era um riso cheio de desdém, como se as minhas palavras fossem ridículas, sem sentido.
— Quem foi que te disse isso, hein? — ele disparou, o tom cheio de sarcasmo. — Porque você não é capaz de pensar uma coisa dessas sozinha.
Eu olhei nos olhos dele, sentindo uma mistura de pena e cansaço.
— Não importa quem disse, Tiago. O que importa é que eu tô indo pro quarto, vou fazer as minhas malas, e vou embora.
Fiz menção de sair dali, mas Tiago segurou meu braço com força, me puxando de volta.
— Onde você tava ontem, hein? — ele rosnou, os olhos quase saltando de raiva. — Não engoli essa merda de noite das garotas. Cê foi pra onde? Com quem?
Puxei meu braço com força, tentando me livrar dele, mas Tiago continuou me encarando como um animal pronto pra atacar. Respirei fundo, cansada daquilo. Eu sabia que ia ser feio, mas já tinha passado da hora.
— Fui pra um baile funk. — respondi de cara, sem rodeios. — Bebi até cair e voltei pra casa com um cara. E sabe o que é pior? Só não transei com ele porque ele teve mais decência do que você já teve na vida. Ele não quis ficar comigo bêbada.
Tiago congelou por um segundo, e os olhos dele se encheram de ódio puro. Ele deu um passo pra frente, invadindo meu espaço.
— Tá achando que eu sou idiota, porra? — ele gritou, o rosto perto do meu. — Você tá mentindo. Tá fazendo isso pra me ferrar, né? Já pedi desculpa pela merda que eu fiz! E você sabe que eu não tive culpa. Era mais forte que eu!
Ri com desprezo, me afastando dele.
— Culpa? Você nem sabe o que é culpa, Tiago. — A dor e a raiva tomaram conta de mim. — Eu devia ter transado com ele, devia ter feito o que eu quisesse. Pelo menos assim eu saberia como é transar com alguém de verdade. Saber como é gozar de verdade. Porque, com você, dá pra contar nos dedos quantas vezes isso aconteceu!
O rosto de Tiago se transformou. Antes que eu pudesse reagir, ele levantou a mão e me deu um tapa tão forte que me jogou no chão. A dor irradiou pela minha bochecha, e eu senti o gosto metálico do sangue na boca.
Tentei levantar, atordoada, mas antes que pudesse me recompor, ouvi o som aterrorizante do cinto sendo puxado das calças.
— Você quer me desrespeitar? Quer sair por aí dando pra outro? — ele vociferou. — Agora vai apanhar pra ver se deixa de ser uma puta! A gente vai casar, e não é você quem vai dizer o contrário.
Tentei me afastar, rastejando para longe dele, mas ele avançou rápido demais. O primeiro golpe do cinto atingiu minhas costas, arrancando de mim um grito.
— Vai fugir pra onde, hein? — Tiago gritou, os golpes vindo sem piedade. — Eu te perdoo, Marília. Viu como eu sou legal?
Eu só conseguia chorar, tentando me proteger com os braços, cada golpe me derrubando ainda mais.
— Para com isso! — implorei entre soluços, a dor dominando cada parte do meu corpo.
Ele parou por um segundo, apenas para se abaixar perto de mim, o olhar frio, cruel.
— Antes eu preciso que você aprenda uma lição, meu amor. — Ele acariciou meu rosto, mas havia uma ameaça sombria em seus olhos. — Eu não posso deixar que isso se repita. Que você saia por aí dando essa boceta pra outro.
Meu estômago revirou de nojo, o pânico tomando conta. Eu tentei me afastar, mas ele segurou meu braço com força, puxando meu rosto pra perto do dele.
— Isso é pra você entender que o seu lugar é aqui, comigo. E você vai fazer tudo o que eu mandar, entendeu? — Ele sibilou, aproximando o rosto do meu. — Mas acho que você tem que apanhar mais, amor. Eu preciso te fazer entender.
Chorei mais ainda.
Estava apenas começando.
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Protegida pelo Dono do Morro [Série Donos do Morro #3]
RomansaRodrigo Kim Almeida, ou simplesmente Muralha, é um líder implacável e temido no morro do Horizonte, mas vê a sua vida mudar drasticamente após perder a perna em um confronto violento com rivais. Isolado e cheio de dor, ele rejeita ajuda e se afasta...