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KARINA

O silêncio na sala só era quebrado pelo choro baixo de Marília. Ela parecia tão frágil, e eu não conseguia simplesmente deixar as coisas assim, o Tiago tinha que ser responsabilizado por aquilo. Aquele imbecil simplesmente tinha trancado Marília durante dois dias dentro de casa e espancado ela. Muito.

Marília estava toda roxa, olhos manchados que diziam que ele havia dado alguns socos nela, e um tristeza profundo no olhar.

Ela sempre foi muito mais tímida que eu, e até mesmo que Helena. Mas eu nunca tinha visto ela daquele jeito, parecia que o brilho simplesmente tinha se apagado.

Minha vontade era de jogar todas as merdas daquele babaca e da família corrupta dele no ventilador. Meu pai, como advogado prestigiado, já tinha atuado na defesa de muito gente, até mesmo de gente como o pai e o avô do Tiago, que eram políticos influentes na cidade.

A mãe do Tiago, Alessandra, era filha do ex-governador, mesmo não ocupando nenhum cargo, ela já tinha sido investigada por envolvimento em vários esquemas. Nem preciso falar quando se juntou com Leandro Moura Diniz, o pai do Tiago e deputado federal, a mesma sina de corrupção e sujeira foi passada para o filho.

— Isso não pode ficar desse jeito! — falei, batendo a mão na mesa de centro. — Esse desgraçado do Tiago merece pagar por tudo que fez, e eu vou fazer questão de que ele pague. Quero entrar com um processo contra ele. O nome dele e daquela família dele tem que ser arrastado na lama.

Eu não conseguia me conformar com o fato de que aquele merda tinha feito aquilo com a Marília. Ele precisava ser responsabilizado.

Helena assentiu, mas ficou quieta, respeitando o espaço de Marília. Dante e Muralha estavam mais afastados, claramente desconfortáveis, sem saber o que dizer. Igor, por outro lado, estava de pé, encostado na parede, mas os olhos dele nunca saiam de cima dela.

— Karina... — Marília começou, a voz fraca e embargada. — Eu não quero fazer nada disso. Não quero processo, não quero polícia, não quero mais confusão. — Ela enxugou as lágrimas, fungando, tentando se recompor. — Eu só quero... seguir em frente. Só quero viver a minha vida agora. Por favor, respeita isso.

Fiquei em silêncio por um momento, tentando processar o que ela disse. Minha vontade era gritar, dizer que ela estava errada, que Tiago não merecia simplesmente sair impune. Mas quando olhei pra Marília e vi o estado dela, entendi. Ela só queria paz.

— Amiga... — comecei, mais calma. — Ele não pode sair impune. Você sabe disso. Eu seu muita coisa daquela família, Marília. Eu posso fazer com que ele pague, que aquele babaca...

— Não, Karina! — Ela me interrompeu e respirou fundo, fechando os olhos. — Eu tô cansada. Eu não quero mais ouvir falar nele, eu não quero mais ter que ver ele. Só para, por favor.

Ela começou a chorar de novo e levantou do sofá, indo em direção a cozinha.

Eu sabia que ela só queria ficar sozinha, sem todos aqueles olhos em cima dela, então respeitei ela e não a segui.

Mesmo que só quisesse abraçar a minha amiga e dizer que ela não precisaria olhar ou falar com o maldito novamente, que eu faria tudo e ninguém nem desconfiaria.

"Eu não insistiria mais, mas ninguém poderia me culpa se pelo menos uma notinha com parte dos podres dos Moura Diniz saísse na mídia", pensei, diabolicamente.

Suspirei, vendo Igor seguir Marília. Eu queria que ele conseguisse fazer com que a Lila superasse tudo o que aquele canalha tinha feito com ela.

Senti um aperto no peito, porque eu sabia que ela precisava de muito mais do que só abraços para curar o que estava passando. Mas naquele momento, talvez fosse tudo o que ela queria... pelo menos, os do Igor.

Protegida pelo Dono do Morro [Série Donos do Morro #3]Onde histórias criam vida. Descubra agora