MURALHA
— É hoje, porra. Hoje a gente vai invadir essa merda. — Eu falei, minha voz cortando o silêncio que dominava a sala. — Já passou tempo demais, não dá pra esperar.
Eu me virei pro Laércio e disse:
— E o armamento? Tá tudo certo? — perguntei.
Ele fez que sim com a cabeça.
— Tá tudo no esquema, chefe. A gente tem munição e armamento suficiente. Só tá esperando o sinal pra invadir o morro daquele maldito.
Eu ia continuar, fazer mais perguntas, mas a porta se escancarou com um estrondo, e Karina entrou ofegante, o rosto dela pálido, o desespero evidente no olhar.
— Cadê a Helena? — ela perguntou, a voz saindo embargada, o corpo tremendo.
Eu franzi o cenho na hora, tentando entender o que estava acontecendo. Olhei pro Igor, que estava do meu lado.
— Eu deixei ela no trabalho faz horas, ué. Tá tudo certo, ela tá no hospital, né? — se explicou.
Mas Karina balançou a cabeça, negando freneticamente, a respiração descompassada. E foi então que ela mostrou uma coisa que me fez congelar. A bolsa da Helena.
Que porra tava acontecendo?
— Eu achei isso no estacionamento do hospital... A Helena nunca deixaria a bolsa no chão. Tá tudo aqui, celular, crachá, dinheiro... — Karina falou, a voz tremendo enquanto segurava a bolsa. — Ninguém sabe onde ela tá. Ninguém viu ela entrando ou saindo do hospital.
Aquilo foi como um soco no estômago.
Karina começou a chorar. Dante se aproximou rápido e a abraçou, tentando acalmá-la, mas eu mal conseguia ouvir o que ele dizia. O som do sangue pulsando nos meus ouvidos era mais alto que tudo.
Eu esfreguei as mãos na cabeça, tentando pensar, tentando entender o que tava acontecendo. Helena tinha que estar na porra do hospital, ela tinha que estar segura. Eu mesmo mandei o Igor levar ela. Por que ela tinha sumido?
O controle que eu estava tentando manter escorregou pelos meus dedos. A raiva subiu de uma vez, quente e violenta. Eu não consegui segurar.
— Porra! — Eu gritei, chutando uma cadeira que estava perto de mim. — Porra, porra, PORRA!
Eu derrubei tudo que estava em cima da mesa, espalhando os mapas, as armas, qualquer coisa que estivesse no caminho.
Um copo se espatifou no chão, o barulho ecoando pela sala. Mas isso não foi suficiente pra acalmar o que eu sentia por dentro.
— Como caralho isso aconteceu? — gritei, virando pra Igor, o sangue fervendo nas veias.
Ele abriu a boca pra responder, mas eu já sabia que não era culpa dele. Sabia que ele tinha feito o que eu mandei. Isso não era sobre ele. Isso era sobre mim. Sobre o fato de eu não ter protegido a Helena.
Helena... Só de pensar nela, presa em algum lugar, em perigo, meu peito doía. A ideia de que alguém pudesse machucar ela me deixava à beira da loucura.
— Eu não sei, Muralha. — Igor se explicava, desesperado. — Eu deixei ela no estacionamento e saí. Não reparei nada, ninguém. — Colocou as mãos na cabeça.
— Quem quer que tenha feito isso, vai pagar. — murmurei, mas as palavras saíram como uma promessa sombria.
Me virei para Karina.
— Karina, você lembra de mais alguma coisa? — perguntei, me forçando a manter a cabeça no lugar.
Ela balançou a cabeça negativamente, ainda chorando no ombro de Dante. Ele tentava acalmá-la, mas eu sabia que o medo estava tomando conta dela também.
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Protegida pelo Dono do Morro [Série Donos do Morro #3]
RomanceRodrigo Kim Almeida, ou simplesmente Muralha, é um líder implacável e temido no morro do Horizonte, mas vê a sua vida mudar drasticamente após perder a perna em um confronto violento com rivais. Isolado e cheio de dor, ele rejeita ajuda e se afasta...