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IGOR

— Fala, Muralha. — cumprimentei. — Tá em casa? Preciso resolver mais uns lances sobre aquele filho da puta do Lobo.

— Agora não posso, Igor. Tô indo resolver um BO na casa da amiga da Helena... A Marília.

Só o nome dela já me fez apertar o volante mais forte. Eu ainda tava meio obcecado por aquela branquinha desde o baile, e o fato de ela estar envolvida em algum problema me deixou num estado de alerta imediato.

— O que tá pegando? — perguntei, sem conseguir me conter.

— Cara, não queria falar nada pra Helena ainda pra não preocupar mais, mas acho que é algo sério. — falou mais baixo, talvez para que a Helena não escutasse.

— Tô indo pra lá também. — falei, já decidido.

— Não precisa, Igor. A gente já tá indo pra lá e vamos só verificar, talvez nem seja nada.

Apertei os punhos com raiva.

E se fosse?

— Se esse merda do noivo dela fez alguma coisa com a garota... Eu vou matar esse filho da puta. — rosnei.

Muralha ficou em silêncio por alguns segundos, talvez pensando no que tava rolando na minha cabeça.

— O que tá rolando com a branquinha, mano? — ele perguntou, meio desconfiado.

— Nada... Ainda não, pelo menos. Mas eu quero, muito. — admiti, sem rodeios.

Muralha deu uma risadinha.

— Tô ligado. Beleza então. Encontro você lá. Mas a Helena tá comigo, então vamos com calma, entendeu? — respondeu ele, antes de desligar.

Não pensei duas vezes. Acelerei. Eu já sabia o caminho da casa da Marília, foi rápido, mas na minha cabeça parecia uma eternidade. Cada segundo que passava, mais eu pensava no que aquele desgraçado podia ter feito. Se aquele cara fez algo com ela, eu juro por Deus que ele ia pagar.

Quando finalmente estacionei na frente da casa, vi Muralha e Helena chegando no outro carro. Acenei pra Helena, que sorriu meio nervosa. Ela tava preocupada.

Quando começamos a caminhar até a porta, eu já tava impaciente. Bati na porta com força, sem nenhuma cerimônia. Esperamos por alguns segundos, e ninguém apareceu. Bati de novo, dessa vez com mais raiva. Finalmente, a porta foi aberta de forma brusca, e um cara sem camisa apareceu na frente. Só podia ser o maldito.

Ele olhou pro Muralha e pra mim, então pareceu reconhecer a Helena e tentou forçar um sorriso, mas dava pra ver nos olhos dele que algo não tava certo.

— Onde tá a Marília? — Helena perguntou. — Ela me ligou, mas não deu pra ouvir nada. Tentei ligar de volta e ela não atendeu. Tá acontecendo alguma coisa, Tiago?

Tiago tentou disfarçar.

— Ah, ela tá dormindo agora, Helena. Deve ter ligado sem querer, sei lá. Tá tudo bem aqui. Vou falar pra ela que você veio. — respondeu ele, sem conseguir segurar o sorriso falso, já tentando fechar a porta na nossa cara.

Antes que ele pudesse terminar, segurei a porta com força e empurrei, abrindo-a completamente. Passei por ele sem pedir licença, chamando por Marília em voz alta.

— Marília! — gritei, vasculhando os cômodos da casa. E ele, é claro, ficou puto.

— Sai da minha casa, caralho! Que porra é essa, hein? — ele tentou me pegar pelo braço, mas antes que ele conseguisse, torci o pulso dele com força. Ele gritou, e Helena também entrou chamando pela Marília.

Vasculhei a sala com o olhar, depois o corredor, e finalmente ouvimos a voz fraca dela, vindo do quarto. Helena correu até a porta, tentando abrir, mas estava trancada.

Olhei pro Tiago, ainda segurando o pulso dele com força.

— Cadê a chave dessa porra?

Tiago me encarou, sem dizer nada por alguns segundos, e Muralha se aproximou, pegando ele pelo colarinho.

— Tá surdo? A chave. Agora.

Tiago, com os dentes trincados, finalmente cedeu.

— Saiam da minha casa. Isso é assunto de casal, só diz respeito a mim e a Marília. — ele murmurou, relutante.

Enquanto Muralha segurava o idiota, eu comecei a chutar a porta.

— Marília, se afasta da porta, eu vou derrubar essa merda! — avisei, chutando com força.

Ela respondeu do outro lado, a voz baixa e trêmula:

— Igor... Me ajuda. Me tira daqui, Igor.

— Tô aqui, princesa. Vai ficar tudo bem agora. Eu vou tirar você daí. — murmurei contra a porta, chutando de novo, até que a madeira finalmente cedeu e a porta caiu. Quando entrei no quarto e vi Marília, meu coração afundou.

Ela tava completamente machucada. Rosto marcado, braços cobertos de hematomas.

Parecia que ela tinha apanhado por dias.

Andei até ela e a abracei, puxando seu corpo pequeno e frágil contra o meu. Ela escondeu o rosto no meu peito e murmurou um "graças a Deus".

Levantei o rosto dela, querendo ver melhor o estrago. A cada nova marca que eu via, minha raiva só aumentava.

— O que esse desgraçado fez contigo? — perguntei analisando o rosto dela, tentando controlar o tom da minha voz pra não assustar mais ainda.

Marília fungou e olhou pra mim com os olhos marejados.

— Eu disse que queria terminar... Eu já tava... cansada e confessei que tinha tentado ficar com você no baile... E o Tiago ficou louco. Ele me trancou aqui... E ficou me espancando. Todos esses dias, Igor. — chorou.

Apertei os punhos de novo, tentando segurar a vontade de voltar lá e arrancar a cabeça daquele merda naquele exato momento. Mas primeiro, precisava tirar ela dali.

Beijei a testa dela, tentando passar um pouco de calma.

— Tá tudo bem agora, princesa. Eu tô aqui — disse, a voz baixa e firme. — Você tá segura, entendeu?

Ela suspirou aliviada, mas ainda tremia.

— Você veio me salvar. — ela murmurou, encostando a cabeça no meu peito de novo.

Passei a mão pelo rosto dela, limpando as lágrimas que caíam.

— Como eu não ia vir, Marília? Desde aquela noite no baile, eu não penso em mais nada além de você. Fiquei esperando uma ligação... — confessei.

Ela me olhou com olhos brilhantes, mesmo em meio a toda a dor.

— Eu ia ligar... Eu ia fazer isso, Igor.

Dei mais um beijo na testa dela, sorrindo de leve.

— Sou um cara de sorte, então.

Fiquei sério de novo, a raiva voltando a tomar conta.

— Agora eu preciso que você vá com a Helena. Espera no carro, tá? Vou resolver as coisas com aquele filho da puta lá na sala.

Marília hesitou, com medo, mas ainda assim, confirmou.

Minha conversa agora era com o filho da puta lá na sala.

Protegida pelo Dono do Morro [Série Donos do Morro #3]Onde histórias criam vida. Descubra agora