HELENA
Era domingo, e como todo domingo, eu estava na cozinha. Minhas mãos trabalhavam na massa do pão enquanto o cheiro de fermento já começava a invadir o espaço.
Ouvi os passos do Muralha descendo as escadas. Quando ele apareceu na porta da cozinha, senti o olhar dele em mim antes mesmo de ouvir o "Hummm" que ele soltou, fazendo uma pausa longa.
— O pão de coco daquele dia? — Ele perguntou, vindo por trás e me abraçando, o peito dele encostando nas minhas costas enquanto eu ainda amassava a massa, e por um instante eu quase perdi o ritmo.
— É sim. — assenti com a cabeça, sorrindo. — Hoje vai ter com queijo também.
Senti o sorriso dele no meu pescoço antes de ouvi-lo.
— Eu sou um cara de sorte com uma mulher dessas, até pão na hora ela faz. Tem alguma coisa que você não faz, meu amor?
Ri da maneira como ele falava, sempre exagerando as coisas. Mas, no fundo, eu gostava disso. Gostava do jeito que ele fazia eu me sentir.
— Benefícios de ser gorda, né? Sei fazer de tudo na cozinha. — A frase saiu automática. Mas mal terminei de falar e já senti o "ei" de Muralha.
Ele pegou meu queixo e virou meu rosto pra ele, obrigando-me a olhar nos olhos dele.
— Quantas vezes eu já te disse pra parar de falar assim de você mesma?
— Foi força do hábito... — murmurei. — Já parei. Juro.
— Da próxima vez que eu te ouvir falando isso, vou te trancar no quarto até você esquecer dessa ideia. — ele disse, sem nenhum traço de brincadeira na voz.
Antes que eu pudesse responder, senti o corpo dele se pressionando mais contra mim, o volume do pênis dele encostando na minha bunda. Não pude evitar a risada, me afastando só um pouquinho e dando uma cotovelada leve nele.
— Para, Muralha. — Tentei conter o riso.
— Fala que você é gostosa. Muito gostosa. — A provocação veio carregada, e eu sabia que ele não ia deixar isso barato.
Ri de novo, balançando a cabeça.
— Não vou falar isso.
Muralha se abaixou e beijou meu pescoço, movendo a cabeça lentamente enquanto repetia, a voz abafada pelo contato da pele.
— Diz. Anda logo.
A boca dele ainda fazia cócegas no meu pescoço e entre risadas, cedi.
— Eu sou muito gostosa.
— Agora sim tá certo. — Ele sorriu satisfeito, beijando o topo da minha cabeça.
Soltei uma risada, tentando manter o foco na massa.
— Eu preciso terminar de sovar a massa, ou a gente vai acabar comendo pão duro.
— Pau duro? — Ele jogou, provocativo.
Soltei uma gargalhada alta.
— Você é muito idiota. Parece que vive numa eterna quinta série. — Respondi, balançando a cabeça. — Só pensa nisso, seu safado?
— Desde que eu te conheci, sim. — Ele disse, sem um pingo de vergonha, me puxando de volta para o peito dele. — Você acha que eu consigo pensar em outra coisa quando você tá perto, gostosa?
Ele inclinou a cabeça e começou a beijar meu pescoço, seus lábios quentes roçando a pele sensível, fazendo um arrepio percorrer meu corpo inteiro.
Sem aviso, suas mãos grandes deslizaram pela lateral do meu corpo, até alcançarem meus seios. Ele apertou, os dedos fortes pressionando o suficiente para que um gemido suave escapasse dos meus lábios, me fazendo dar um leve cotovelada nele, mas ele não parou. Ao invés disso, pressionou o corpo contra o meu de novo.
Eu respirei fundo, tentando focar na massa de pão que ainda estava entre os meus dedos, mas a essa altura, minhas mãos já não estavam funcionando direito.
— Para... — pedi.
— Tem certeza? — Ele retrucou, mordendo de leve meu ombro, fazendo meus joelhos amolecerem um pouco. — A gente pode deixar esse pão pra depois.
Eu soltei uma risada, tentando encontrar algum controle.
— Eu vou ficar muito irritada se não der certo. — avisei, empurrando ele de leve.
Ele se afastou um pouco, mas ficou ali perto, encostado no balcão, me observando trabalhar.
— Só falta a gente oficializar esse casamento. — Ele disse. — A gente já tá vivendo como casal mesmo.
Sorri, fingindo inocência.
Eu sabia o que ele ia perguntar.
— Vou fazer uma pergunta... — Ele continuou.
Olhei de relance pra ele, sorrindo enquanto continuava sovando a massa.
— Eu nem imagino o que seja. — brinquei, mexendo de novo na massa do pão, mas sentindo o olhar dele pesando em mim.
— Casa comigo, linda?
Sorri de leve, sabendo que ele não ia gostar da minha resposta.
— Ainda não... — falei baixinho. — Mas você pode perguntar de novo amanhã.
Ele deu um riso curto, mas eu sabia que ele tava levando a sério.
— Ah, vou perguntar, sim. — Ele disse, balançando a cabeça com um sorriso largo. — Vou perguntar todo dia até você dizer sim.
— Então você vai ter que esperar um pouco mais. — Respondi, tentando disfarçar o calor que subiu no meu peito com a ideia do casamento.
Muralha se aproximou, colando o corpo no meu e envolvendo meus ombros com um dos braços. Ele encostou o queixo no topo da minha cabeça e falou:
— Não me importo de esperar... desde que você seja minha no final.
Eu não estava pronta para casar, mas a ideia de estar ao lado dele para sempre não parecia tão assustadora assim.
Eu amava o Rodrigo. Era isso, eu amava.
A conversa poderia ter seguido num tom leve, mas então o celular em cima do balcão tocou, quebrando o momento. Muralha pegou o aparelho antes que eu conseguisse. Olhou pra tela e levantou a sobrancelha.
— Marília.
Franzi o cenho e fiz um gesto pra ele atender, porque minhas mãos estavam sujas de massa.
— Atende e coloca no viva-voz.
Muralha fez o que eu pedi, mas assim que atendeu, a voz que saiu do outro lado não era a de sempre. Marília falava de um jeito que eu mal conseguia entender, entrecortada, nervosa.
— Helena... — Ela chamava por mim, mas logo depois a ligação caiu.
O silêncio que veio depois foi perturbador. Muralha e eu trocamos olhares, e no mesmo instante, senti aquele frio na espinha. Alguma coisa estava muito errada.
— O que foi isso? — ele perguntou, o rosto sério, o clima leve de segundos atrás desaparecendo completamente.
Eu balancei a cabeça, tentando processar. Marília nunca falava assim, e o jeito que a ligação caiu só aumentava minha preocupação.
— Não sei... — murmurei, secando as mãos rapidamente em um pano.
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Protegida pelo Dono do Morro [Série Donos do Morro #3]
RomansRodrigo Kim Almeida, ou simplesmente Muralha, é um líder implacável e temido no morro do Horizonte, mas vê a sua vida mudar drasticamente após perder a perna em um confronto violento com rivais. Isolado e cheio de dor, ele rejeita ajuda e se afasta...