🍁CAPÍTULO 39🍁

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🍁Thalys

A noite estava envolta em um véu de escuridão impenetrável, o tipo de breu que não permitia a passagem de qualquer luz. A lua, que deveria estar plena e iluminada, estava oculta atrás de nuvens pesadas que pareciam carregar todo o peso do mundo. O vento soprava gelado, cortante como mil lâminas afiadas, arrastando consigo o cheiro úmido da terra e o aroma adocicado das folhas que se decompondiam no chão da floresta. No silêncio da minha fazenda, o único som que preenchia o ar era o ecoar distante dos meus passos, entremeado pelo mugido ocasional do gado.

Eu, Thalys, sempre me orgulhei de minha força, de minha natureza indomável. Ser um alfa não era apenas um título; era a essência do meu ser. Meu corpo era forjado pela disciplina, esculpido para a sobrevivência e para a dominação. A arma que repousava em minha cintura era mais do que uma ferramenta; era um símbolo de controle, de poder absoluto. Enquanto conduzia as últimas vacas para dentro do estábulo, um sorriso involuntário curvou meus lábios. A memória do que eu havia feito há alguns meses emergiu, tão vívida quanto se estivesse acontecendo naquele momento.

Katerinne, a mulher impiedosa que havia me procurado com uma oferta irrecusável: 50 mil dólares em troca de um favor sujo. Um ômega jovem, ingênuo, que ela queria humilhado, quebrado. Não era apenas pelo dinheiro; a excitação estava no poder que eu tinha sobre ele. Lembro-me da pele macia e do corpo vulnerável que eu quase destrui naquela noite. O ômega, um jogador de vôlei com um futuro brilhante pela frente, não sabia que estava caindo em uma armadilha. Enganá-lo, usá-lo, e quase engravidá-lo foi um dos prazeres mais sombrios que já experimentei. Mesmo agora, sozinho na fazenda, o pensamento me excitava.

Mas o destino é cruel, e as forças que eu havia subestimado começavam a se alinhar contra mim.

Enquanto caminhava em direção à minha casa, envolto no conforto de minhas memórias perversas, um ruído inesperado me despertou. O som vinha do celeiro, próximo à borda da floresta. Meus instintos imediatamente se aguçaram. A mão foi instintivamente para a arma, o metal frio oferecendo uma falsa sensação de segurança. Segui o som, cada passo ecoando no solo úmido como um presságio de algo sombrio.

Ao chegar ao celeiro, empurrei a porta com força. O rangido da madeira ressecada ecoou pela noite, como um grito de agonia. Os animais estavam em pânico, suas pupilas dilatadas refletindo um terror irracional. Algo estava errado. Mas ao varrer o interior com o olhar, não encontrei nada fora do lugar. Só o vazio, e o medo que crescia em meu peito. Desprezei a sensação de desconforto. Um alfa como eu não deveria temer nada, pensei. A fazenda estava isolada, segura. E eu tinha o controle.

Dei as costas e comecei a retornar para casa, mas antes que pudesse dar mais do que alguns passos, uma dor lancinante rasgou minha perna. O grito saiu de mim antes que eu pudesse contê-lo. Caí ao chão, o impacto me deixando momentaneamente sem ar. Tentei me levantar, mas a dor era insuportável, cada movimento fazia com que mais sangue escorresse, tingindo o solo abaixo de mim. Na penumbra, consegui vislumbrar uma sombra grotesca, algo que não deveria existir neste mundo. A criatura que me atacou era uma abominação, um ser que a escuridão da noite parecia ter vomitado do inferno.

- Brincou com ele, feriu ele, partiu seu coração e matou seus sentimentos! - A voz rouca e carregada de ódio reverberou no ar, me deixando petrificado.

- Por favor, eu imploro! - A dor e o terror se misturavam em minha voz trêmula. - Tem dinheiro na casa, leva tudo, mas me deixa em paz! - Eu chorava, o medo substituindo qualquer resquício de bravura.

- Dinheiro? Não é dinheiro o que eu quero, é sua vida. - A voz respondeu, fria e sem compaixão.

Virei-me com dificuldade, sentindo o peso da minha própria mortalidade pela primeira vez. Lá estava ele: Jackson. Seus olhos, outrora inocentes e brilhantes, agora eram poços de escuridão, vazios de qualquer traço de humanidade. Seu rosto estava coberto de sangue, e sua pele pálida parecia ter sido manchada pela corrupção do próprio mal. Jackson não era mais um homem; ele era uma sombra do que eu havia destruído, uma visão do meu próprio inferno particular.

- Jackson, foi a Katerinne! Ela fez tudo isso! - A verdade saiu rapidamente, enquanto eu tentava alcançar a arma que estava ao meu lado. Ele mais parecia uma força da natureza, um reflexo sombrio da minha própria maldade.

- Quanto ela te pagou? - Ele perguntou, como se estivesse em transe, seus olhos fixos nos meus, perfurando minha alma. Sua presença era esmagadora, e enquanto eu observava, algo horrível começou a acontecer. A transformação que eu esperava não era a que estava diante de mim. Jackson não se transformava em um simples lobo; ele estava se tornando algo muito pior. O ar ao nosso redor parecia vibrar com energia negra, e eu pude sentir a selvageria crescendo nele, uma fúria primitiva que só um alfa lúpus original poderia possuir.

- 50 mil... agora vai pro inferno! - Gritei, meu desespero se transformando em uma última tentativa de sobrevivência. A arma em minha mão tremia, mas eu consegui apontar e descarregar o pente inteiro contra ele. Sete tiros, cada um perfurando sua carne, quase a queima-roupa. Mas Jackson não caiu. Ele sequer vacilou. O sorriso que se formou em seus lábios era o presságio de meu fim.

- Então sua vida valeu 50 mil também. - Ele murmurou, antes de avançar sobre mim com uma velocidade impossível. Suas garras atravessaram minha carne como facas afiadas, e eu gritei, cada rasgo era uma agonia indescritível. Ele me dilacerou lentamente, saboreando minha dor, prolongando meu sofrimento. Quando suas garras finalmente rasgaram minha garganta, o mundo começou a escurecer rapidamente. A última coisa que ouvi foi o som do meu próprio sangue borbulhando enquanto eu sufocava, até que a escuridão me envolveu completamente.

A princípio, eu não sabia que estava morto. A sensação de dor ainda estava presente, aguda, como se meu corpo ainda estivesse sendo mutilado. No entanto, o mundo ao meu redor era diferente. Um silêncio absoluto reinava, e a escuridão não era mais acolhedora. Era opressiva, sufocante. Eu não conseguia mover meu corpo, como se estivesse preso em um abismo sem fim. Mas minha consciência estava ali, flutuando no vazio. O inferno, pensei, eu realmente fui para o inferno.

A visão de Jackson, com seus olhos negros e a pele pálida manchada de sangue, apareceu novamente na minha mente. Ele havia se tornado o monstro que eu nunca poderia imaginar. A vingança dele foi completa, e agora, eu estava pagando o preço por todos os meus pecados. No entanto, o tormento não terminou com a minha morte.

Eu podia sentir algo ao meu redor, algo frio e insidioso, que penetrava minha alma. Era como se o próprio mal estivesse se infiltrando em mim, corrompendo tudo o que restava da minha humanidade. Minha consciência, meu espírito, estava sendo devorado, pedaço por pedaço, por essa escuridão implacável.

Sem corpo, sem forma, sem esperança. Apenas um vazio eterno, onde o sofrimento era constante, e a única companhia que eu tinha era o meu próprio desespero. E então, no meio desse tormento sem fim, percebi que estava preso. Preso para sempre na escuridão que eu mesmo criei.

Meses depois, quando as aulas na Universidade finalmente começaram, a história de Thalys desapareceu no vento. A fazenda foi deixada para apodrecer, e as pessoas da cidade vizinha evitaram o lugar, alegando que ele estava assombrado. As poucas pessoas que ousaram se aproximar do local juraram que podiam ouvir gritos vindos do celeiro, gritos de alguém que sofria um tormento indescritível.

Jackson, por outro lado, nunca foi pego, não deixou rastros, estava apenas exercendo o seu direto de limpar a moral do que era seu. Algumas lendas começaram a circular sobre um lobo monstruoso que vagava pelas florestas, seus olhos brilhando com um brilho sobrenatural. Dizem que ele caçava à noite, não por comida, mas por vingança, buscando outras almas corrompidas para punir, como havia feito com Thalys.

Continua...

ENTRE ALFAS UM OMEGA [CONCLUÍDO]Onde histórias criam vida. Descubra agora