🍁CAPÍTULO 03🍁

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🍁Matteo

— Bom dia, minhas princesas! — falei ao entrar na cozinha, onde o cheiro de bacon e ovos frescos enchia o ar. Mamãe e Missy estavam lá, rindo e conversando como se o mundo fosse um lugar seguro e feliz. Peguei uma maçã e a mordi, sentindo o doce sabor invadir minha boca.

— Olá, príncipe Harry! Como dormiu? — perguntou mamãe, sorrindo enquanto beijava minha testa. Ela sempre me chamava assim, brincando com minha paixão pelo príncipe britânico. Abracei-a, sentindo o conforto de seus braços e o cheiro de seus cabelos, agora com alguns fios brancos que a idade começava a trazer.

— Como um castor velho... ou seja, como uma pedra! — respondi com um sorriso, enchendo uma tapawer com pão e bacon para o lanche. Precisava sair rápido, mas ela, como sempre, não ficou feliz com isso.

— Vai comer só isso? — perguntou, indignada. Missy, do seu jeito, também me olhava com reprovação. Elas se preocupavam, mas eu nunca liguei muito para refeições elaboradas.

— Eu prometo que como no lanche, mas agora preciso ir! Estou absolutamente atrasado para a minha primeira aula na universidade! — falei, pegando minha mochila e dando um beijo rápido em ambas.

— Vai com Deus, meu filhote. Tome cuidado, o mundo está cheio de gente ruim! — disse mamãe, com aquela preocupação constante em sua voz. Ela estava certa, o mundo tinha suas sombras, mas eu sempre acreditei que a maioria das pessoas só precisava de alguém que se importasse para mudar.

Caminhando para o ponto de ônibus, os contrastes do bairro onde morávamos ficavam ainda mais evidentes. Nossa casa era simples, mas estava em uma área nobre. No entanto, o ponto de ônibus ficava no bairro mais próximo, onde a pobreza era gritante. Lixeiras quebradas, postes tortos e lixo acumulado eram parte do cenário. Casas precisando de cuidados e um posto de saúde distante completavam o retrato de descaso.

Ao chegar ao ponto, meus olhos fixaram-se em uma mãe negra que se despedia da filha pequena, que embarcava em um ônibus desgastado. O filho mais velho dela, um rapaz que aparentava ter minha idade, veio se sentar ao meu lado. Ele usava fones de ouvido, e a música podia ser ouvida à distância.

— Olá! — disse, tentando iniciar uma conversa. Ele levantou os olhos e murmurou um cumprimento indiferente. Mas, ao perceber o emblema da minha universidade em sua jaqueta, fiquei mais animado. Íamos para o mesmo lugar.

O ônibus chegou, lotado como eu imaginava. Todos os olhares se voltaram para mim, talvez por eu ser o único branco ali. Havia apenas um lugar vago, e sentei-me rapidamente. O rapaz que havia se sentado ao meu lado parecia mais simpático agora.

Peguei um livro da mochila e comecei a ler "Como as Democracias Morrem". A leitura me envolveu, trazendo à tona memórias dolorosas. Meu pai havia sido assassinado na mesma noite em que discursava sobre a importância de leis que facilitassem o voto para cidadãos marginalizados. A violência política de que o livro tratava era assustadoramente real para mim.

— Acho que estamos lendo o mesmo livro — disse o rapaz ao meu lado, finalmente se abrindo.

— Eu amo esse livro. Estou lendo pela quinta vez! Prazer, sou Matteo. — estendi a mão, sentindo uma conexão imediata.

— Sou Maycon. Também estou gostando dele. Então, você gosta de política? — perguntou ele, curioso.

— Claro, adoro. Mas nada fanático, se é que me entende! — respondi, rindo.

— Não sendo trampista, por mim tudo bem! — disse Maycon, fazendo o sinal da cruz de brincadeira. Riamos juntos, e a viagem pareceu passar voando enquanto conversávamos sobre política, música e a vida em geral.

Chegamos à universidade e, de repente, fui tomado por uma sensação de nervosismo. O campus era imenso, e a ideia de começar uma nova fase da vida me deixou inquieto.

— É seu primeiro dia? — perguntou Maycon, percebendo minha hesitação.

— Sim, estou um pouco nervoso, pra ser honesto — admiti.

— Eu faço Ciência Política. Você faz... — ele pegou meu papel de inscrição e arregalou os olhos — Direito? Puta merda, inteligência pura você! — brincou, me fazendo rir.

— Nem tanto, mas me esforcei bastante. Pode me ajudar a encontrar minha sala? Esse lugar é gigante! — pedi, tentando disfarçar a ansiedade.

— Claro, vamos juntos. Estamos no mesmo bloco, então podemos vir juntos de ônibus. — respondeu ele, simpático.

— Fechado, obrigado! — disse, sentindo-me aliviado por ter encontrado um novo amigo. Mas, quando nos abraçamos para nos despedir, algo duro esbarrou em mim e caí no chão.

— Usem um motel, viadinhos! — zombou um dos jogadores de futebol americano que passava por ali. O comentário me deixou congelado, uma mistura de raiva e constrangimento me dominando. Maycon me ajudou a levantar, tentando me acalmar.

— Não liga pra eles, ok? — disse ele, com um olhar de preocupação. Assenti, mas meu sangue ainda fervia. Minutos depois, outro grupo de jogadores passou, tirando sarro de um casal LGBT que estava apenas conversando. A raiva dentro de mim cresceu, mas, antes que pudesse reagir, meus olhos se cruzaram com os de alguém que conhecia bem: Matias.

O choque do reencontro foi imediato. Seus olhos, antes cheios de vida, agora pareciam frios e distantes. O sorriso sumiu de seu rosto, e ele desviou o olhar rapidamente, como se tivesse visto um fantasma.

— Que diabos foi aquilo? Quer nos matar? — perguntou Maycon, preocupado com minha reação.

— O quê? — respondi, tentando fingir que nada havia acontecido.

— Que encarada de ódio foi aquela para a estrela do futebol americano? Parecia que ia sair fogo dos seus olhos! — disse Maycon, surpreso.

— Eu? Jamais... Bem, preciso ir. Nos vemos na saída? — perguntei, tentando mudar de assunto.

— Claro, nos vemos depois. — respondeu ele, ainda com um olhar intrigado.

Segui meu caminho em busca da sala de aula, mas ao entrar, percebi que estava lotada. Sentei-me na última cadeira disponível, tentando me misturar ao ambiente. No entanto, quando olhei para o lado, quase desmaiei. Matias estava ali, junto com um de seus amigos.

Continua...

ENTRE ALFAS UM OMEGA [CONCLUÍDO]Onde histórias criam vida. Descubra agora