🍁CAPÍTULO 27🍁

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🍁Matteo

Sentado na pequena mesa de canto da lanchonete, o aroma de café fresco e frituras permeava o ar, trazendo uma sensação de conforto que quase fazia esquecer o peso que carregava nos ombros. O fim do semestre estava cada vez mais próximo, e com ele, a pressão de fechar as notas, os trabalhos acumulados e as noites mal dormidas. Meus olhos percorreram o cardápio pela terceira vez, mas minha mente estava longe, vagando entre as preocupações e a exaustão.

Maycon, sempre o primeiro a chegar, já estava lá, mergulhado no celular, provavelmente checando as redes sociais ou alguma notícia de última hora. Melissa entrou logo em seguida, trazendo consigo uma energia contagiante que contrastava com meu estado de espírito. James chegou por último, como de costume, com um sorriso largo e um comentário engraçado sobre algo que aconteceu no campus.

— Estou precisando de umas boas horas de sono — Melissa suspirou, jogando a bolsa sobre a cadeira ao lado e se acomodando de frente para mim. — Se eu tiver que escrever mais um artigo sobre jurisprudência, juro que vou surtar.

— Sei exatamente como você se sente — respondi, finalmente largando o cardápio. — Ontem eu fiquei até as três da manhã terminando aquele trabalho para o professor Brown. E ainda assim, não estou seguro sobre a nota.

— Ninguém está, Matteo — James comentou enquanto ajeitava os óculos, seu tom ligeiramente sarcástico. — Aquele cara vive para nos torturar.

Maycon levantou os olhos do celular e sorriu, meio de lado.

— Vocês estão reclamando de barriga cheia. Eu ainda nem comecei o meu.

Melissa revirou os olhos.

— Deixa eu adivinhar, você vai fazer tudo na véspera e ainda tirar uma nota melhor que a gente.

— Isso é um dom, minha querida — ele riu, colocando o celular de lado e focando na conversa.

O garçom se aproximou, pegou nossos pedidos, e logo estávamos todos de volta ao tema que dominava nossas vidas: o final do semestre.

— Parece que quanto mais a gente se aproxima do fim, mais as coisas ficam complicadas — observei, sentindo o cansaço pesar sobre mim como um cobertor molhado.

— Isso é porque estamos todos no limite — Melissa respondeu, tamborilando os dedos na mesa. — Mas vamos sobreviver. Já passamos por piores.

A conversa seguiu, entre trocas de piadas e desabafos sobre os professores e os trabalhos, até que Melissa, sempre antenada nas fofocas, lançou a bomba que mudaria o rumo da nossa noite.

— Vocês ouviram sobre a candidatura de Katerinne Lurts para representante universitária? — ela perguntou, os olhos brilhando de expectativa.

Senti meu estômago afundar ao ouvir aquele nome. Katerinne Lurts. A última pessoa no mundo que eu esperava ou queria ver em uma posição de poder. Ela era conhecida por suas opiniões conservadoras e, pior, por seu ódio declarado contra qualquer coisa ou pessoa que não se enquadrasse em sua visão limitada de mundo.

— Como assim, Katerinne Lurts? — Maycon perguntou, sua voz carregada de surpresa. — Eu pensei que ela tinha se formado no ano passado.

— Não, ela só deu um tempo — Melissa explicou, balançando a cabeça. — Mas agora está de volta e com mais ódio do que nunca. Ouvi dizer que ela quer transformar a universidade em um reduto de ideias conservadoras. Ela já está distribuindo panfletos por aí e, se isso for verdade, vamos ter que nos preparar para uma guerra.

Meu coração disparou. A ideia de Katerinne liderando qualquer coisa era aterrorizante, mas vê-la como representante universitária... Era impensável. Eu me lembro de cada palavra, de cada insulto que ela havia lançado contra mim e outros que, como eu, não se encaixavam em seu padrão ideal. Ela era o tipo de pessoa que não aceitava diferenças, e não fazia questão de esconder isso.

— Isso é um pesadelo — murmurei, sentindo o gosto amargo da realidade invadir minha boca. — Como deixaram isso acontecer?

— Ela é popular entre os conservadores do campus — James comentou, os olhos fixos em seu café. — E, infelizmente, há muitos deles. Ela pode ter apoio suficiente para conseguir o cargo.

Houve um silêncio pesado na mesa. Todos nós sabíamos o que isso significava. Se Katerinne realmente conseguisse se eleger, toda a luta por um campus mais inclusivo poderia ser destruída. E, no fundo, o medo se misturava com uma raiva crescente. Eu já havia sofrido o suficiente nas mãos dela e de pessoas como ela.

— Isso não pode acontecer — eu disse, minha voz mais firme do que eu esperava. — Não podemos deixar que ela consiga.

Maycon olhou para mim, com um brilho curioso nos olhos.

— O que você tem em mente, Matteo?

— Eu... — hesitei, mas logo as palavras saíram antes que eu pudesse pensar demais. — Talvez eu devesse me candidatar.

O silêncio que se seguiu foi ensurdecedor. Melissa foi a primeira a reagir, um sorriso lento e incrédulo se formando em seus lábios.

— Sério? Você está pensando em enfrentar a Katerinne?

— Alguém tem que fazer isso — respondi, sentindo o peso da decisão começar a cair sobre mim. — Se ninguém se opuser a ela, não quero nem imaginar o que vai acontecer com nossa universidade.

James assentiu, parecendo considerar a ideia.

— Você tem carisma, Matteo. E você conhece os problemas que a gente enfrenta melhor do que ninguém. Se alguém pode fazer isso, esse alguém é você.

Maycon apoiou o queixo na mão, pensativo.

— É uma grande responsabilidade, mas você nunca fugiu de uma luta.

Eu sorri, um sorriso que não alcançava os olhos.

— Talvez essa seja a luta mais importante de todas.

Enquanto discutíamos os detalhes, a magnitude do que eu estava propondo começou a se revelar. Enfrentar Katerinne Lurts significava mais do que apenas uma campanha eleitoral; significava confrontar todo o ódio e preconceito que ela representava. Significava estar disposto a colocar tudo em risco para proteger os valores que eu acreditava.

No entanto, também havia medo. Medo de falhar, medo de me expor novamente à crueldade que eu havia sofrido no passado. Mas acima de tudo, havia a necessidade de agir, de não ficar parado enquanto alguém como Katerinne ameaçava tudo o que havíamos conquistado.

O garçom trouxe nossos pedidos, mas a comida parecia menos importante agora. A conversa mudou de tom, focando nas estratégias, no apoio que eu poderia conseguir, e em como lidar com os desafios que certamente viriam.

— Você vai precisar de um bom discurso de campanha — Melissa disse, empolgada. — Algo que toque o coração das pessoas, que as faça perceber o que está em jogo.

— E vai precisar de um bom plano de ação — Maycon acrescentou. — Algo que mostre que você não está apenas se opondo a ela, mas também oferecendo uma alternativa melhor.

James concordou.

— E não esqueça de se preparar para os ataques pessoais. Se tem uma coisa que Katerinne sabe fazer, é jogar sujo.

Cada conselho me fazia perceber o quanto essa decisão era séria, o quanto eu precisaria me preparar. Mas ao mesmo tempo, o apoio dos meus amigos me dava forças. Eles acreditavam em mim, e isso era tudo o que eu precisava para começar.

— Eu vou fazer isso — declarei, sentindo uma determinação renovada. — Vou me candidatar, e vamos garantir que pessoas como Katerinne nunca tenham a chance de espalhar seu ódio aqui.

Melissa levantou sua xícara em um brinde.

— À vitória de Matteo!

Maycon e James seguiram o gesto, e eu também. Era um começo, e sabia que o caminho à frente seria difícil, mas estava disposto a lutar por ele. Katerinne não sabia com quem estava lidando, mas logo descobriria.

Enquanto nossos copos se chocavam, um sentimento de propósito tomou conta de mim. Pela primeira vez em muito tempo, eu sentia que estava no controle do meu destino. E não importava o que acontecesse, eu estava pronto para enfrentar o que viesse.

Continua...

ENTRE ALFAS UM OMEGA [CONCLUÍDO]Onde histórias criam vida. Descubra agora