🍁CAPÍTULO 05🍁

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🍁Matteo

A luz da manhã ainda mal tocava as janelas quando Matteo acordou, seu corpo enrijecido pelas horas mal dormidas. A noite anterior havia sido um caos de imagens perturbadoras, de sombras do passado se misturando com os fantasmas de sua adolescência. Os pesadelos voltaram com força total, lembrando-o das humilhações, das risadas cruéis, e das mãos que empurravam e agrediam. Apesar de ter deixado aquelas memórias para trás, a dor ainda estava ali, bem presente, como uma ferida que nunca cicatrizava completamente.

Sentindo-se pesado e exausto, Matteo se levantou da cama, esfregando os olhos para afastar a névoa do sono. Não adiantava mais tentar dormir; a ansiedade e o desconforto eram fortes demais. Com um suspiro, ele decidiu que o melhor a fazer era se ocupar com algo produtivo. Talvez cozinhar o ajudasse a tirar a mente dos pesadelos e da inquietação que eles causavam.

Na cozinha, Matteo começou a preparar o café da manhã, movendo-se quase automaticamente. As panelas tilintavam suavemente enquanto ele cortava frutas frescas, batia os ovos para a omelete e preparava uma jarra de suco de laranja. Havia algo tranquilizador na rotina da cozinha, no som ritmado da faca contra a tábua, no cheiro reconfortante do pão tostando. Por um momento, ele conseguiu se perder nos detalhes, deixando que a repetição das tarefas o distraísse do turbilhão em sua mente.

Foi enquanto colocava a mesa que Matteo ouviu o som característico da moto do carteiro parando em frente à sua casa. Ele levantou os olhos em direção à porta, um tanto surpreso. Era cedo para correio, e, além disso, não esperava nada. Com uma leve curiosidade, secou as mãos no avental e foi até a porta.

Ao abrir, viu um envelope branco sobre o tapete. Pegou-o e olhou atentamente para o remetente. Não havia nada específico indicando a origem, mas o endereço do destinatário estava claramente impresso: seu nome, Matteo Walz, seguido do endereço da casa onde vivia com sua mãe. Ele franziu o cenho, imaginando o que poderia ser. Rasgou o envelope com cuidado e retirou o conteúdo.

Dentro havia uma carta formal, com o logotipo do Partido Democrata no cabeçalho. Matteo leu atentamente as palavras que lhe convidavam a se inscrever como eleitor oficial do partido. Era uma posição de responsabilidade, que exigia não apenas engajamento político, mas também um comprometimento com os valores do partido. A surpresa deu lugar a uma onda de emoções enquanto as palavras ressoavam em sua mente.

Imediatamente, sua mente foi puxada de volta para seu pai. Matteo lembrou-se de como o pai sempre falava da importância da política, de como votar era não apenas um direito, mas um dever. Seu pai era um homem que acreditava profundamente na justiça, na igualdade, e na luta pelos direitos de todos, independentemente de quem fossem. Aquele convite era mais do que uma simples carta; era uma conexão com o legado de seu pai, algo que Matteo sentiu em seu coração.

- Papai, você estaria orgulhoso de mim... - murmurou, sentindo os olhos umedecerem.

Determinado, Matteo decidiu que se inscreveria no final do dia, depois das aulas na universidade. Era o que seu pai teria feito, e era o que ele faria. Colocou a carta de lado e voltou para a cozinha, tentando manter a compostura. Não queria que sua mãe percebesse a agitação interna, especialmente porque ela sempre ficava preocupada quando ele mostrava qualquer sinal de perturbação.

Pouco tempo depois, sua mãe desceu as escadas, atraída pelo cheiro de café fresco e pão torrado.

- Bom dia, filho! - ela disse, sorrindo ao ver a mesa posta com tanto capricho. - Parece que acordou cedo hoje.

- Bom dia, mãe - respondeu Matteo, tentando soar normal. - Tive dificuldade para dormir, então achei melhor fazer algo útil.

Os dois se sentaram à mesa e começaram a comer. Conversaram sobre coisas triviais, o que ajudou Matteo a se distrair. A presença calorosa de sua mãe sempre trazia um pouco de paz, mesmo nos dias mais difíceis. Ele manteve o convite em segredo, querendo pensar mais sobre ele antes de compartilhar a novidade. A conversa foi leve, focando nos planos para o fim de semana e nas pequenas tarefas do dia a dia.

ENTRE ALFAS UM OMEGA [CONCLUÍDO]Onde histórias criam vida. Descubra agora