🍁CAPÍTULO 76🍁

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🍁Matteo

O silêncio entre nós era sufocante. Eu tentava puxar conversa, falar sobre qualquer coisa que quebrasse aquele ambiente pesado, mas cada tentativa era recebida com respostas curtas e frias. Ele mantinha os olhos à frente, caminhando com uma calma assustadora, o rifle balançando levemente em seu ombro. O som de nossos passos esmagando folhas secas era o único ruído que rompia o ar denso da floresta. Meu estômago dava voltas de medo, e meus pensamentos corriam em direção a Jackson e Matias.

"Será que eles estão me procurando? Será que sentem o laço fraco que agora me prende a eles?" Eu precisava deles mais do que nunca. A distância entre nós parecia aumentar a cada passo que eu dava ao lado daquele homem. O que ele realmente queria? Estava mesmo me ajudando, ou havia algo mais sombrio em suas intenções?

Quando finalmente chegamos ao que ele chamou de "sua casa", meus pés congelaram no lugar. Em vez de uma cabana de madeira ou qualquer tipo de abrigo que eu imaginava, o que vi foi uma grande barraca, cercada por uma coleção perturbadora de animais empalhados. Havia veados, lobos, e até mesmo um urso, todos com os olhos vazios e fixos, como se estivessem me observando. A cena era macabra. A chuva havia deixado o ambiente escuro, a lama escorria pelas laterais da barraca e os corpos empalhados pareciam estar em um tipo de vigília mórbida.

— Entre, você vai se secar lá dentro — disse ele, apontando para a entrada da barraca, sua voz monótona e sem emoção.

Eu recuei instintivamente, balançando a cabeça.

— Acho que vou esperar aqui fora — respondi rapidamente, tentando manter a voz firme. O cheiro úmido da floresta misturado ao odor de animais mortos fazia meu estômago revirar. Cada fibra do meu corpo gritava para que eu ficasse o mais longe possível daquela barraca.

Ele parou e me encarou. Seus olhos, antes vazios, agora tinham algo mais. Uma intensidade que fez minha espinha gelar.

— Está com medo de mim? — perguntou, com uma calma que me fez sentir o sangue correr mais rápido pelas veias.

Eu engoli em seco, meu coração disparando.

— Não... não estou com medo. Só... estou cansado. — As palavras saíram entrecortadas, e eu sabia que ele percebia meu nervosismo. Mas era a única desculpa que eu tinha naquele momento.

Ele continuou me encarando por mais alguns segundos, como se estivesse me avaliando, então, sem mais uma palavra, entrou na barraca. Eu soltei um suspiro trêmulo, mas o alívio durou pouco. O ambiente ao redor parecia se fechar ainda mais, as árvores apertando-se como se quisessem engolir a barraca e tudo ao seu redor.

Fiquei ali, parado, sentindo o tempo arrastar-se. O que ele estava fazendo lá dentro? Será que realmente havia ligado para a polícia? Ou ele estava preparando algo?

Quando ele finalmente saiu, minha mente já havia imaginado mil cenários de terror. Ele segurava o telefone e me disse, com a mesma voz sem emoção:

— A polícia vai demorar algumas horas. As estradas estão ruins por causa da chuva. Melhor você entrar e descansar um pouco.

Ele apontou para a barraca mais uma vez, e eu soube naquele instante que não tinha outra escolha. Não podia recusar novamente sem levantar suspeitas. Minhas mãos tremiam ao lado do corpo enquanto eu dava um passo hesitante em direção à entrada.

— Tudo bem... — murmurei, tentando manter a calma.

Ao cruzar o limiar da barraca, um arrepio percorreu minha espinha. O interior era tão perturbador quanto o exterior. Animais empalhados preenchiam o espaço, alguns em posições tão naturais que pareciam prestes a se mover. As sombras jogadas pelo fraco brilho de uma lanterna pendurada criavam formas distorcidas, e o som da chuva gotejando no teto de lona era incessante. Ele apontou para um banco de madeira improvisado.

ENTRE ALFAS UM OMEGA [CONCLUÍDO]Onde histórias criam vida. Descubra agora