🍁Matias
Enquanto o caos dos últimos dias ainda pairava como uma sombra pesada, ali estava eu, parado diante dele, meu ômega, despedaçado, machucado de um jeito que eu jamais poderia ter imaginado. Tudo o que sentia era uma dor tão profunda que me arrancava o ar dos pulmões. Olhei para ele e, mesmo sem forças, ele parecia lutar para se manter ali, para continuar. Mas era impossível não notar o quanto estava quebrado, tanto por dentro quanto por fora. A culpa me corroía de uma forma avassaladora.
Jackson, sempre focado, estava fazendo telefonemas, tentando resolver o que ainda restava de burocracias para podermos levá-lo para casa. E eu? Eu estava ali, segurando sua mão frágil, quase rogando, implorando para que ele me perdoasse, mesmo que ele não soubesse o quanto me sentia culpado. Cada segundo que se passava, eu era consumido pela culpa, como se cada hematoma, cada ferida, fosse responsabilidade minha. E, no fundo, era.
Eu não consegui mais evitar. Com cuidado, puxei o cobertor que o cobria. Meu coração quase parou quando vi o estado em que ele estava. Ele vestia apenas uma fralda, como se fosse um bebê indefeso - e, naquele momento, ele era. Toda a força que eu sempre admirei nele parecia ter sido arrancada, substituída pela fragilidade, pela dor. Meu estômago embrulhou ao ver os hematomas espalhados por seu corpo, as manchas roxas que contavam a história de um sofrimento inimaginável.
Os curativos cobriam partes de sua pele, marcas deixadas por aquele monstro. A cada detalhe que eu via, uma nova onda de culpa me atingia como uma marreta. E então, o pior de tudo: o gesso no braço dele, uma lembrança constante de que ele havia saído dali quebrado, física e emocionalmente. Aquele braço fraturado era a prova final de que eu falhei.
Meu coração estava despedaçado. O que eu mais queria era protegê-lo, sempre foi assim. Mas eu havia falhado. Tudo isso era minha culpa. Eu fui quem sugeriu o maldito passeio. Eu fui quem insistiu. Se eu tivesse sido mais cauteloso, se tivesse ouvido aquela vozinha na minha cabeça dizendo para sermos mais cuidadosos, nada disso teria acontecido. Ele não estaria deitado nessa cama de hospital, lutando para se manter inteiro, enquanto eu apenas observava, impotente.
Uma lágrima escorreu pelo meu rosto, e eu não fiz nada para impedi-la. Eu não tinha forças para ser o engraçado, o otimista, o que sempre via o lado bom das coisas. Agora, eu só conseguia ver o resultado da minha irresponsabilidade.
"Me desculpa, cariño...", sussurrei, quase sem voz. Minha mão tocou o braço engessado dele com tanta delicadeza que parecia que eu poderia quebrá-lo ainda mais se fizesse qualquer movimento brusco.
Eu queria poder trocar de lugar com ele, queria carregar essa dor em seu lugar. Mas tudo o que podia fazer era estar ali, ao lado dele, sem saber como reparar o estrago que eu mesmo causei.
Sentei ao lado dele, o peso de tudo o que estava acontecendo esmagando meu peito. Apoiei minha cabeça na sua outra mão, aquela que não estava envolta em bandagens e tubos, e foi como se algo dentro de mim se rompesse. As lágrimas começaram a cair, silenciosas no início, mas logo se transformaram em um rio interminável. Acho que nunca tinha chorado assim antes. Não conseguia segurar, não queria segurar. Meu corpo inteiro tremia com a intensidade das emoções que me consumiam.
O som dos meus soluços, misturados com a falta de ar, ecoava pelo quarto. Chorei porque ele estava ali, ferido, quebrado, e porque eu nunca poderia vê-lo assim. Meu coração doía de uma maneira que eu não sabia ser possível, uma dor profunda que fazia cada respiração parecer um esforço insuportável. Ele era tão bom, tão cheio de amor, e ainda assim, o mundo havia sido cruel com ele.
Eu queria ter estado no lugar dele. Se alguém tinha que sofrer, que fosse eu. Ele não merecia isso. Ele merecia ser protegido, cuidado, amado. E eu falhei. Falhei como alfa, como companheiro, como alguém que deveria estar sempre ao lado dele.
Apoiei minha testa em sua mão e deixei o choro me dominar completamente. Cada lágrima que caía parecia carregar um pedaço do meu coração. Eu chorava não só pela dor que ele estava sentindo, mas por tudo o que ele representava para mim. Ele era a luz que iluminava a minha vida, e agora estava ali, envolto em sombras.
"Perdóname, amor... Perdóname por no haber estado ahí para protegerte...", murmurei entre os soluços, minha voz falhando a cada palavra. Eu não sabia se ele podia me ouvir, se ele estava consciente de qualquer coisa naquele momento, mas eu precisava dizer. Eu precisava que ele soubesse o quanto eu estava arrependido, o quanto o amava, e o quanto daria tudo para que ele nunca tivesse passado por isso.
Meu peito doía tanto que eu achava que não conseguiria suportar. Cada lágrima que caía parecia abrir mais uma ferida, e eu me afundava na culpa, na dor, no arrependimento. Ali, ao lado dele, me senti mais impotente do que nunca.
Eu chorei, não por mim, mas por ele. Por tudo o que ele era, por tudo o que ele havia perdido naquele momento.
Enquanto minhas lágrimas ainda caíam, senti uma mão forte tocar meu ombro. Olhei para cima e vi Jackson, tentando se manter firme, mas seus olhos contavam uma história diferente. Ele queria ser o forte, o que nos segurava, mas depois de murmurar as primeiras palavras de consolo, ele desmoronou.
Sem dizer mais nada, ele foi até a porta do quarto, a trancou com um movimento decidido, e apagou as luzes, deixando apenas o brilho fraco dos monitores iluminando o ambiente. Ali, na penumbra, o alfa que nunca deixava ninguém vê-lo chorar finalmente quebrou. Era como se uma barragem tivesse rompido dentro dele. Jackson, que sempre manteve uma fachada inabalável, se permitiu sentir o peso da dor e da culpa que carregava.
Ele caminhou até a cama, cada passo pesado com a revolta e tristeza que dominavam seu corpo. Suas mãos tremiam levemente quando ele segurou a mão do nosso pequeno ômega, levando-a aos lábios num gesto cheio de carinho, mas também de agonia.
"Perdão... meu amor... me perdoe", ele sussurrou, com a voz rouca e embargada, as palavras mal saindo de sua garganta. Era raro ver Jackson se abrir, e ali estava ele, despido de toda aquela fachada de força. Seus ombros sacudiam com os soluços, e o som do seu choro preenchia o quarto.
Eu podia sentir a dor dele, a revolta que queimava dentro de seu peito. Jackson não chorava por fraqueza; ele chorava por raiva, por não ter conseguido protegê-lo. Ele não suportava a ideia de que alguém tão cruel pudesse ter feito isso com quem ele tanto amava. Aquele choro, tão cheio de dor, era o lamento de um alfa que falhou em seu maior dever: cuidar do seu ômega.
E naquela escuridão, com a luz dos monitores piscando fracamente, Jackson estava irreconhecível. Ele, que sempre escondeu suas emoções, agora chorava abertamente, beijando a mão do nosso amado como se isso pudesse de alguma forma aliviar a dor. Seus lábios murmuravam pedidos de desculpa entre cada soluço, como se as palavras pudessem consertar o que havia sido quebrado.
A cena era devastadora. A dor de Jackson me atingia de uma maneira que eu não sabia que era possível. Era como se toda a revolta que ele guardava dentro de si estivesse se libertando naquele momento. Ele não estava apenas chorando; ele estava se despedaçando. E isso me fez sentir ainda mais o peso da nossa realidade, da fragilidade de tudo o que tínhamos passado.
Naquele momento, enquanto chorávamos juntos, senti que éramos um só em nossa dor. Três corações partidos, unidos pelo amor e pela culpa, tentando encontrar alguma forma de cura no meio daquele caos.
Continua...
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ENTRE ALFAS UM OMEGA [CONCLUÍDO]
FanfictionO que acontece quando os caminhos de dois alfas heteros se cruzam com o de um ômega que eles tanto desprezaram? Descubra em uma história onde, apesar de todas as batalhas, o amor encontra seu caminho.