🍁Matteo
Sentia meu corpo submerso em águas cristalinas, doces como o mel, enquanto o som distante dos pássaros me envolvia em uma paz quase esquecida. Era como se a natureza me acolhesse, os animais correndo pela grande floresta ao meu redor anunciavam que meus anos de sofrimento finalmente terminariam. A tão sonhada paz estava ali, ao meu alcance. Mas antes de alcançá-la por completo, eu sabia que teria de aceitar meu destino, enfrentar as dificuldades com calma e olhar sempre para o horizonte. Depois da noite mais escura e assustadora, sempre haveria o sol matinal seguinte, trazendo uma primavera de esperança.
Aos poucos, senti-me despertando desse sonho. Meus olhos pesados resistiam a abrir, mas, com algumas tentativas vencidas, consegui despertar. O lugar onde estava era sombrio, iluminado apenas por um tímido raio de luz que atravessava a fresta de uma janela. Meus sentidos voltavam devagar, e comecei a ter consciência do meu corpo, ainda aninhado em um edredom grosso e confortável, que me envolvia em uma sensação de calor e segurança. Mas então, percebi que eu não estava sozinho.
Atrás de mim, uma presença forte e musculosa me segurava com firmeza. Ao meu lado esquerdo, uma mão prendia meu pulso com força, como se quisesse me manter ali para sempre. Meu coração disparou, e flashes da noite anterior começaram a invadir minha mente. Com cuidado, soltei-me de ambos e me levantei, tentando não fazer barulho. O caos mental era avassalador enquanto eu me afastava da cama e observava os dois homens dormindo profundamente.
— Meu Deus... o que eu fiz? — sussurrei, cobrindo a boca com a mão enquanto lágrimas escorriam pelo meu rosto. Eu havia transado com eles. Jackson e Matias. Homens que, por anos, me humilharam e desprezaram. Thalys e seus insultos ecoavam na minha mente como socos no estômago. Tentei conter as lágrimas, mas elas insistiam em cair.
Nesse momento, Jackson e Matias se mexeram na cama, e eu quase caí para trás. O pânico me dominava.
— Isso não pode estar acontecendo... comigo, não! — murmurei, sentindo a umidade da lágrima alcançar meus lábios. Matias estava de bruços, completamente nu, e sua grande bunda bronzeada estava exposta. Na base de suas costas, uma marca vermelha. Uma marca idêntica à que surgiu em mim meses atrás. Eu estremeci.
Com a respiração entrecortada, virei-me para Jackson. Ele estava deitado de costas, parcialmente coberto pelo edredom. No peito dele, a mesma marca vermelha. Não podia ser coincidência. Um calafrio percorreu minha espinha, e tomei coragem para retirar lentamente o edredom que cobria sua cintura. Lá estava ela, a marca no baixo ventre. Igual à minha. Meu coração parecia parar naquele instante.
— Somos destinados... — murmurei, dando alguns passos para trás até esbarrar na porta.
Olhei para os dois, agora dormindo em silêncio. Eu queria odiá-los, queria sentir raiva... mas tudo o que sentia era carinho e desejo. Desejo de estar com eles, de sermos um só. Era um pensamento impossível de ignorar.
Peguei minhas roupas e me vesti rapidamente. Precisava sair dali. Com a cabeça rodando de tantas emoções, desci as escadas sem fazer barulho, até chegar à porta. Mas, ao tentar girar a maçaneta, ela não se mexeu. Estava trancada com uma fechadura eletrônica que pedia uma senha.
Meu coração disparou novamente, e quase morri de susto quando uma voz suave me interrompeu:
— Querido, está tentando sair? — Era Mary, a senhora que cuidava da casa de Jackson. Sua voz doce contrastava com o turbilhão de emoções dentro de mim.
— Eu... eu preciso ir — respondi, tentando controlar o tremor na minha voz. — Pode, por favor, abrir a porta?
Ela me olhou por um momento, com aquele olhar maternal que parecia entender mais do que eu estava disposto a compartilhar. Mas sem questionar, ela caminhou até a fechadura e a abriu com um simples toque.
— Não quer comer algo antes de ir? — ofereceu gentilmente.
— Não... não, obrigado. Eu preciso ir agora — falei, com um nó na garganta.
Agradeci rapidamente e saí pela porta sem olhar para trás. Corri para o ponto de encontro do Uber que havia chamado, minha mente fervilhando de confusão e arrependimento. Tudo o que conseguia pensar era na marca, no fato de que eu era destinado a dois alfas. E no quanto tudo isso mudaria minha vida para sempre.
O ar fresco da manhã me envolvia enquanto eu caminhava pela estrada asfaltada que cortava a floresta. As árvores ao redor eram altas e imponentes, seus galhos farfalhando levemente com a brisa suave. A cada passo que eu dava, o som das folhas secas estalando sob meus pés parecia um lembrete da fuga que acabara de realizar. Não era só uma fuga física, mas mental também. Minha mente estava em guerra, bombardeada por pensamentos sobre o que acabara de acontecer.
Eu olhava para o horizonte, para a estrada que se estendia à minha frente, sem fim à vista. O chão, ainda úmido do orvalho matinal, refletia a luz suave do sol nascente. Minhas roupas estavam levemente amarrotadas, e eu me sentia desconfortável, mas o desconforto físico era mínimo comparado ao tumulto dentro de mim. O silêncio da floresta ao redor contrastava violentamente com o barulho que eu sentia no peito.
— Eu precisava sair de lá — murmurei para mim mesmo, tentando organizar meus pensamentos.
A estrada parecia infinita, e o vazio daquele caminho só fazia meu coração apertar mais. Por alguns minutos, continuei a caminhar, ouvindo apenas o som dos meus próprios passos e o farfalhar das árvores. Eu sabia que não poderia andar para sempre, mas andar me dava a sensação de estar me distanciando de algo que não conseguia ainda definir.
Quando já estava quase perdendo as esperanças de encontrar algum meio de transporte, avistei um carro velho se aproximando ao longe. Levantei a mão hesitante, sinalizando para o motorista. O carro, um sedã antigo, desacelerou e parou ao meu lado. O vidro desceu lentamente, revelando um homem de meia-idade, com barba grisalha e um chapéu surrado.
— Vai para onde, garoto? — perguntou ele, sua voz rouca, mas amigável.
— Para o centro da cidade... se puder me deixar lá, eu agradeço muito — respondi, tentando manter a voz firme.
— Sobe aí, sem problema. Não é um desvio para mim — disse ele, destravando a porta do passageiro.
Agradeci silenciosamente e entrei no carro, sentindo um breve alívio por não ter que continuar caminhando. O motor roncou de novo, e o carro começou a rodar pela estrada tranquila. O homem não perguntou muito, e eu estava grato por isso. Não queria conversar. Tudo o que eu queria era chegar em casa e tentar entender o que, exatamente, eu deveria fazer com tudo que havia acontecido.
Enquanto o carro serpenteava pela estrada, as árvores lentamente começaram a dar lugar aos edifícios da cidade. A sensação de estar voltando à civilização trazia uma estranha mistura de conforto e angústia. Eu sabia que, quando chegasse em casa, teria que enfrentar meus próprios demônios — e a verdade sobre o que tinha descoberto.
O homem me deixou no centro da cidade, perto de uma praça que começava a despertar com o comércio abrindo e o som de pássaros enchendo o ar. Agradeci-lhe mais uma vez, e ele acenou, desaparecendo logo em seguida entre os outros carros.
Peguei o celular do bolso e, com mãos trêmulas, chamei um Uber. Enquanto aguardava a chegada do carro, olhei ao redor, tentando encontrar algum sentido na normalidade que me cercava. Pessoas apressadas passavam por mim, sem nem imaginar o caos que se desenrolava na minha mente.
Quando o Uber finalmente chegou, entrei sem pensar duas vezes. O motorista não disse muito, e eu agradeci por isso. Apenas me recostei no banco, observando as ruas familiares enquanto o carro deslizava pela cidade.
Cada rua que passávamos me levava um pouco mais perto da minha casa, e a cada quilômetro, sentia como se estivesse voltando a uma realidade da qual eu queria escapar. Mas, no fundo, sabia que não havia mais fuga. Havia algo inescapável sobre minha conexão com Jackson e Matias, algo que, por mais que eu quisesse, não poderia simplesmente ignorar.
Ao chegar em casa, paguei ao motorista e desci, encarando a fachada familiar. Entrei pela porta sem saber como, mas com a sensação de que algo profundo e irreversível havia mudado. Meus pés estavam finalmente de volta ao meu chão, mas meu coração ainda estava distante, perdido naquela cama, entre dois alfas.
Continua...
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ENTRE ALFAS UM OMEGA [CONCLUÍDO]
ФанфикO que acontece quando os caminhos de dois alfas heteros se cruzam com o de um ômega que eles tanto desprezaram? Descubra em uma história onde, apesar de todas as batalhas, o amor encontra seu caminho.