🍁CAPÍTULO 20🍁

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🍁Matteo

Acordei com um sobressalto, o corpo coberto de suor frio. Era madrugada, e a escuridão que envolvia o quarto parecia mais densa do que o normal. Senti uma dor lancinante irradiar pelas minhas costas, como se meu próprio corpo estivesse se rasgando por dentro. As manchas que vinham aparecendo nos últimos dias agora queimavam como brasa, cada uma delas pulsando em sincronia com meu coração acelerado.

Tentei me mover, mas a dor era insuportável. Soltei um gemido baixo, mordendo o lábio para não acordar mamãe e Missy. Não queria que elas me vissem assim, tão frágil, tão vulnerável. A sensação de queimadura nas manchas espalhadas pelo meu corpo me fez apertar os lençóis com força, buscando algum alívio que não vinha. Era como se meu corpo estivesse se rebelando contra mim, cada fibra, cada nervo, gritando em protesto.

Mas não era só a dor física que me atormentava. Conforme os minutos passavam, percebi algo ainda mais perturbador. Pensamentos, imagens, memórias que não eram minhas começaram a invadir minha mente. Era como se eu estivesse vendo flashes da vida de outras pessoas, sentindo o que elas sentiam, experimentando suas dores, seus medos.

Vi um homem idoso, sentado em uma cadeira de balanço, lamentando-se por uma perda que não conseguia nomear. Senti o desespero de uma jovem presa em um quarto escuro, suas unhas arranhando as paredes em busca de uma saída. Ouvi os sussurros de uma criança, assustada, escondida em um armário, tentando se proteger de algo que ela não conseguia entender.

Esses pensamentos me invadiam com uma força avassaladora, misturando-se com a dor física que já era insuportável. Era como se meu próprio ser estivesse se fragmentando, perdendo-se entre as vidas de estranhos, cada fragmento me puxando para um abismo desconhecido.

- Não... por favor... - Murmurei, minha voz fraca, quase inaudível.

Lágrimas escorriam pelo meu rosto, quentes e salgadas, misturando-se ao suor que encharcava minha pele. Eu não sabia o que estava acontecendo comigo, mas a sensação de desespero era avassaladora. Precisava fazer algo, qualquer coisa, para acabar com aquela agonia.

Com grande esforço, consegui rolar para o lado da cama, caindo de joelhos no chão. Cada movimento era uma tortura, mas eu não podia ficar ali, inerte. Precisava encontrar alívio, algo que me tirasse daquela dor e desses pensamentos que não eram meus.

Me arrastei até a porta, sentindo o piso frio contra a pele quente. Cada passo parecia durar uma eternidade, mas finalmente consegui alcançar o corredor. O silêncio da casa era opressor, e cada som parecia amplificado - o ranger das tábuas sob meus pés, o som irregular da minha respiração, o batimento descompassado do meu coração.

Lá estava a caixa de remédios de mamãe, guardada em um pequeno armário no corredor. Eu sabia que mamãe mantinha um estoque de supressores de cio ali, uma precaução comum em famílias como a nossa. Tremendo, consegui abrir a caixa e procurei freneticamente pelo frasco que precisava. Minhas mãos estavam trêmulas, e a visão embaçada dificultava a leitura dos rótulos. Finalmente, encontrei o que procurava - o supressor de cio.

Sem pensar duas vezes, abri o frasco e tomei uma dose, esperando que aquilo aliviasse minha dor. O efeito não foi imediato, mas logo comecei a sentir uma leve redução na intensidade da dor. Os pensamentos intrusivos começaram a se dissipar, e finalmente, meu corpo começou a relaxar.

Voltei para o quarto, cambaleando, e me joguei na cama, exausto. O remédio estava começando a fazer efeito, e a febre parecia recuar lentamente. Ainda podia sentir as manchas em meu corpo, mas a queimadura se tornara suportável.

Conforme o alívio tomava conta de mim, os pensamentos estranhos começaram a desaparecer, como um nevoeiro dissipando-se ao amanhecer. Minha mente voltou a ser apenas minha, e com isso, o cansaço se tornou insuportável. Fechei os olhos, sentindo as lágrimas secarem em meu rosto.

Naquela noite, algo havia mudado em mim. Eu não sabia o que, mas a sensação de que não estava sozinho, de que algo mais estava presente dentro de mim, persistia. Uma parte de mim queria respostas, mas outra estava aterrorizada com o que poderia descobrir. Tudo o que eu sabia era que, por enquanto, o supressor de cio me trouxe um alívio temporário. Mas, no fundo, eu temia que aquilo fosse apenas o começo de algo muito maior, algo que eu ainda não estava preparado para enfrentar.

Continua...

ENTRE ALFAS UM OMEGA [CONCLUÍDO]Onde histórias criam vida. Descubra agora