🍁CAPÍTULO 40🍁

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🍁Jackson

O ano estava acabando, e com ele vinha a necessidade de fazer escolhas para o futuro, mas também de colher os frutos amargos das escolhas que fiz no passado. Ao refletir sobre minha vida, percebo que escolhi muitas coisas erradas, fiz escolhas que machucaram, feriram, e agi de modo deliberado, violento. Matei sonhos, destruí mentes e corpos. Agora, era o meu tempo de colher tudo de ruim que plantei.

Tudo começou quando eu era apenas uma criança. Aos cinco anos, me afeiçoei por um igual a mim. Mantive tudo em segredo, com medo dos meus pais, mas nada adiantou. Aquela certeza de ser diferente dos outros estava dentro de mim, era o meu algoz. Os anos se passaram e minha família se mudou para a Pensilvânia. Lá, meu pai reencontrou um amigo íntimo dos tempos de serviço militar, Joe Walz.

Joe e meu pai se tornaram inseparáveis. Joe era um empresário riquíssimo do ramo imobiliário, mas, com o tempo, se afeiçoou à política. Lembro-me de ouvir, em algumas ocasiões, meu pai aconselhando Joe a sair da política, dizendo que era perigoso, muito perigoso. Mas Joe não deu ouvidos a nada nem a ninguém. Foi nessa época que meu pai me levou para conhecer o filho de seu melhor amigo e mais rico cliente. Meu pai tinha uma banca advocatícia e, naquele dia, fomos à casa de Joe.

A casa era imponente, e logo ao entrar, fui envolvido pelo cheiro doce e inebriante que emanava do ambiente. Logo descobri que aquele aroma vinha de um pequeno bebê, cujo nome era o mais lindo que eu já tinha ouvido: Matteo. Nesse dia, também conheci Matias Gastón, um mexicano engraçado que me fazia sorrir sempre. Nós três nos tornamos amigos profundos, unidos pela afeição ao pequeno Matteo.

Os anos se passaram, e o menino cresceu. Quando Matteo completou seis anos, a vida dele mudou drasticamente com a morte de seu amado pai, Joe Walz. Matias e eu estivemos ao lado de Matteo durante toda a turbulência, mas a amizade que deveria durar anos se desfez quando ele, repentinamente, partiu. Um dia estava conosco, e no outro, ele se foi. Deixou Matias e eu sem mais nem menos, e a dor da distância quase me matou. Noites e mais noites chorei de saudades de quem um dia amei tanto; Matteo foi a minha primeira paixão.

Mas o pior ainda estava por vir. Foi nessa época que os conflitos entre meus pais se intensificaram. Eles brigavam constantemente, e as agressões eventualmente chegaram até mim, especialmente quando minha mãe descobriu minhas afeições por Matias. Meu pai nunca me bateu; ele me defendia como podia. Mas, quando ele não estava por perto, eu me tornava alvo de todo tipo de violência pela pessoa que mais deveria me amar: minha mãe.

Mesmo com tudo isso, eu ainda amava meus pais e queria vê-los juntos. Então, uma bomba explodiu em nossa família: a viúva de Joe Walz acusou meu pai de roubar a herança do falecido. Eu não me lembro bem dos detalhes, mas em raras ocasiões, quando ouvia conversas por trás das portas, escutava algo sobre um seguro de vida. Após essa acusação, minha mãe passou a me agredir diariamente, dizendo que eu precisava "virar homem", que eu era um fraco que merecia morrer por ser "um viado".

Meu sofrimento aumentou ainda mais quando meu pai faleceu repentinamente, vítima de um infarto. Ele era saudável, e sua morte inesperada fez meu mundo desmoronar como um castelo de cartas. Minha mãe não me permitiu chorar sua morte, insistindo que chorar era coisa de fracos, e que homem nenhum deveria chorar. Meses depois, ela se casou novamente, desta vez com Phillip Lurts, sócio da banca de advogados do meu pai. De repente, Phillip reergueu todo o império advocatício que meu pai havia construído, de forma misteriosa e rápida.

Quando completei treze anos, fui enviado para uma clínica de "cura gay", administrada por ex-militares e ex-combatentes de guerra. Entrei lá como um garoto bom, apesar de todas as dores que já havia passado, mas saí um monstro irreconhecível. A rotina era um ciclo interminável de torturas: choques, espancamentos, fome, sede, treinamentos até a exaustão, além da lavagem cerebral constante. Naquele lugar, passei pelo inferno. Tentei me suicidar três vezes, mas não consegui. Quando finalmente saí de lá, minha mente estava escravizada pelos ritos preconceituosos que me foram impostos.

ENTRE ALFAS UM OMEGA [CONCLUÍDO]Onde histórias criam vida. Descubra agora