🍁Matteo
O alarme do meu celular vibrou ao lado da cama, mas eu já estava acordado há algum tempo. O pesadelo da noite anterior ainda estava fresco na minha mente, e eu estava suado e tremendo. Não apenas o pesadelo em si, mas o sentimento persistente de que algo estava muito errado, tornava difícil encontrar qualquer tipo de paz. Levantei-me lentamente, tentando me recompor. Olhei para o espelho e me deparei com as manchas vermelhas que ainda estavam lá, queimando sob minha pele como se fossem brasas. O frio na espinha e o desconforto familiar estavam cada vez mais intensos.
Lembrei-me do telefonema que ouvi Thalys receber no cinema. As palavras ecoavam na minha mente, misturadas com as memórias e os sentimentos de outras pessoas que comecei a sentir. Era como se a linha entre minhas emoções e as de outras pessoas estivesse borrada, e isso estava me enlouquecendo. As sensações de raiva, medo e desejo de outras pessoas se misturavam com meus próprios pensamentos, criando um caos mental que eu não conseguia controlar. Tudo aquilo me fazia focar em duas pessoas que sempre estiveram no radar da minha vida, com os mesmos sentimentos descritos nas memórias de amor e ódio, Matias e Jackson. Poir isso eu desci por uma vez por todas investigar isso.
Apesar de tudo, levantei-me rapidamente, ainda com a mente cheia de incertezas. Decidi que precisava conversar com minha mãe. Ela sempre soube mais do que dizia, e eu estava determinado a descobrir a verdade. Depois de me arrumar, segui para a cozinha, onde ela estava preparando o café da manhã.
- Bom dia, mãe - disse, tentando esconder a ansiedade na voz.
- Bom dia, Matteo. Dormiu bem? - ela perguntou, sem olhar para mim, focada em mexer os ovos na frigideira.
- Mais ou menos. Queria conversar com você sobre os Jackson- lancei, observando sua reação.
Ela parou por um instante, e eu percebi que minha pergunta a pegou de surpresa.
- Os Jackson? O que você quer saber sobre eles? - ela respondeu, voltando a mexer os ovos, mas sua voz tinha um tom nervoso.
- Eu sinto que há algo que você não me contou. A rixa entre nossas famílias... eu preciso entender - insisti, tentando manter a calma.
Ela suspirou, finalmente se virando para me encarar. Havia uma tristeza em seus olhos que eu nunca tinha visto antes.
- Matteo, algumas coisas são melhor deixadas no passado. Não quero que você se envolva em algo que não entende - disse ela, sua voz tremendo levemente.
- Mas eu quero entender! - exigi, a frustração transparecendo. - Não posso ignorar isso.
Ela olhou para mim, e por um momento, parecia que estava prestes a revelar algo. Mas então, ela desviou o olhar, como se estivesse lutando contra suas próprias lembranças.
- A vida é complicada, filho. Às vezes, é mais fácil manter certas verdades ocultas - ela respondeu, e eu soube que não conseguiria obter mais informações dela naquele momento.
- Tudo bem, mãe. Mas eu não vou desistir - declarei, sentindo uma determinação crescer dentro de mim.
Depois do café, saí de casa, decidido a investigar por conta própria. O dia estava claro, mas minha mente estava envolta em nuvens escuras. Mesmo assim, fui às aulas na universidade. Glória a Deus que eu não encontrei nenhum dos embustes de Katarinne, Matias, Jackson e Alex. Isso me deu uma paz tão grande que me devolveu um tanto de alegria por aquele dia.
Após as aulas, dirigi-me para o meu trabalho na livraria. O cheiro dos livros novos era reconfortante, mas a tarefa de desempacotar caixas e colocar os livros de volta na prateleira parecia interminável. Enquanto trabalhava, não conseguia parar de pensar na rixa entre minha família e os Jackson. Algo me dizia que minha mãe escondia mais do que estava disposta a revelar. A curiosidade me consumia, e eu decidi que ela seria meu ponto de partida.
Depois de horas trabalhando, finalmente terminei de organizar os livros. O cansaço me atingiu, e eu decidi que precisava de um café para recuperar as energias. Enquanto caminhava até a pequena cafeteria da loja, meu coração ainda estava pesado com os pensamentos duvidosos na mente. Eu queria desvendar o mistério que cercava minha família.
De volta ao meu posto de trabalho, atendi alguns clientes, dentre eles uma senhorinha que precisava escolher livros para seus netos. Depois de atender aquele doce de gente ouço alguém entrar na loja, sua expressão confusa enquanto olhava para as prateleiras, era Matias Gastón, o meu pesadelo de todos os dias.
- Matteo, este rapaz precisa de um livro bem antigo de direito para o seu trabalho de conclusão de curso. O oriente, por favor - disse a atendente, olhando para mim com um brilho de cumplicidade.
Assenti imediatamente. Teria o desprazer de atender aquele alfa, mas trabalho é trabalho. Fui cordial, sempre me referindo a ele como "senhor", para deixar as coisas bem diferenciadas. Enquanto procurava pelo bendito livro, sentia que ele me observava a todo instante. Evitei fazer contato visual para que ele não fugisse do assunto foco que era o livro. Mas foi então que ele começou a falar.
- Desculpe pelo que fiz no vestiário. Aquilo era inaceitável - disse ele, sua voz carregada de um tom que eu não conseguia identificar.
Eu apenas o ouvi atentamente, procurando o livro e simplesmente o ignorando. A verdade é que ele e Jackson eram páginas viradas em minha vida, e o que ainda nos ligava era minha curiosidade em saber o que aconteceu no passado entre nossas famílias. Fora isso, mais nada.
Em silêncio, permaneci olhando as prateleiras, enquanto ele continuava a falar.
- Você é um jogador excepcional. Nunca vi um ataque como o seu, e sua determinação contagiava a equipe - ele disse, e eu podia sentir a intensidade de suas palavras. Pediu perdão pela quarta vez, parecia desesperado por atenção.
- Bem, infelizmente, senhor, não temos o livro que o senhor deseja. Se quiser, podemos fazer um pedido. Em sete dias pode ser que chegue - respondi, enquanto ele me olhava fixamente.
Ele respirava profundamente, como se quisesse manter no corpo o cheiro do ar. Aquilo era estranho, ele era estranho.
- Foda-se o livro, eu vim aqui por você! - ele disse, passando as mãos pelos meus braços. Seus olhos vermelhos como sangue me deram medo.
Eu queria me afastar, mas naquele momento, minha patroa chegou e perguntou se estava tudo bem. Ele fez cara de bom moço, me soltou e disse que eu era o melhor atendente da loja, ainda sugerindo que deveríamos contratar mais gente como eu. Ele saiu, pegou dois livros, pagou e foi embora sem mais nem menos.
Fiquei pálido, sei lá por quê. A intensidade daquilo tudo me deixou sem apetite, e a ideia de jantar parecia distante. O que havia acontecido entre nós dois? E por que o peso daquela conversa ainda pairava no ar?
Naquela noite, deitado na cama, as sombras dançavam nas paredes, e eu não conseguia afastar os pensamentos sobre Matias. A rixa entre nossas famílias, o que ele havia dito, o olhar dele... tudo se misturava em um turbilhão de emoções. O que ele queria realmente? O que havia por trás daquela fachada de arrogância? A noite se arrastou, e eu finalmente adormeci, mas não sem antes me perguntar se o dia seguinte traria mais respostas ou apenas mais perguntas.
Continua...
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ENTRE ALFAS UM OMEGA [CONCLUÍDO]
FanfictionO que acontece quando os caminhos de dois alfas heteros se cruzam com o de um ômega que eles tanto desprezaram? Descubra em uma história onde, apesar de todas as batalhas, o amor encontra seu caminho.