𝑆𝑜𝑢𝑙𝑠 🖤🥀

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Theodore, mais reservado, organizava os pertences com uma delicadeza quase ritualística, enquanto Klaus, sempre o mais impulsivo, já preparava a fogueira do lado de fora,a sorte dos dois era que havia uma casa isolada das demais, perto da floresta, seu entusiasmo preenchendo o ar com um sentimento palpável de aventura.

"Teddy, você não pode levar isso a sério o tempo todo!", Klaus exclamou, rindo enquanto segurava uma caixa de bijuterias que Theodore insistia em organizar com perfeição. "Às vezes, é preciso apenas deixar fluir."

"Fluir é uma coisa, Klaus. Mas precisamos ser metódicos. Temos um trabalho a fazer, e não podemos nos distrair com frivolidades", respondeu Theodore, um sorrisinho querendo escapar de seus lábios.

Klaus apenas revirou os olhos, mas, de certa forma, admirava a determinação do amigo. Ambos haviam sido escolhidos para ceifar almas, uma responsabilidade que trazia um misto de temor e respeito. O ritual, que aconteceria ao cair da noite, era parte da essência de suas existências. Agora, naquele novo lar, estavam prontos para dar continuidade ao legado.

Ao anoitecer, a floresta ganhou vida própria. Os sons dos animais noturnos ressoavam em harmonia, e o cheiro do pinho misturado ao ar fresco da noite despertava os sentidos. Os dois se reuniram ao redor da fogueira, suas sombras projetadas dançando nas paredes da casa.

"Amanhã, precisamos começar cedo", disse klaus, olhando para a luz crepitante das chamas. "São cerca de mil almas que aguardam nosso chamado. Não podemos falhar."

Theodore assentiu, embora visse o desafio como uma oportunidade para se conectar com algo maior. "E se ao invés de ver isso apenas como um trabalho, refletirmos sobre o que podemos aprender com essas almas? Sobre suas vidas, suas histórias..."

"Você sempre quer humanizar tudo", klaus respondeu, mas seu tom era mais brincalhão do que crítico. "No fundo, você sabe que não podemos nos envolver emocionalmente. Cessar uma vida é um ato sério."

"Ninguém pede para nos envolvermos emocionalmente, mas isso não significa que devemos agir como máquinas", Theodore insistiu. "Cada alma tem um peso, uma história que precisa ser respeitada."

O debate continuou até que a escuridão e o cansaço os fizeram silenciar, cada um perdido em seus próprios pensamentos. A noite seguia silenciosa, como se a floresta estivesse atenta ao que estava por vir.

Quando a primeira luz da manhã rompeu a escuridão, Klaus e Theodore vestiram suas capas e partiram para a primeira tarefa do dia, instrumentos de seu ofício em mãos. A trilha que tomaram conhecia cada passo, cada curva, e logo se depararam com uma clareira onde as primeiras almas começavam a se manifestar.

Naquele lugar sagrado, onde a energia pulsava como um coração, as almas apareciam. Algumas se mostravam inquietas, outras resignadas, cada uma aguardando a hora de sua passagem. Uma brisa suave soprava, trazendo ecos de suspiros abafados e lágrimas não vertidas.

Klaus respirou fundo, sentindo a carga que acompanhava aquelas presenças. "Aqui estamos", disse ele em um murmúrio, olhando profundamente nos olhos vazios de um jovem que se aproximou.

"Oi", sussurrou a alma, como se ainda se lembrasse da vida que deixara para trás. "O que vai acontecer comigo?"

O semblante firme de Theodore vacilou por um momento. "Vai para um lugar melhor. Sua jornada não termina aqui", ele afirmou, tentando transmitir calma.

Klaus, com uma expressão mais suave, se aproximou. "Você merece ser lembrado. O que você gostaria que dissessem sobre você?" A pergunta interrompeu o ciclo de tristeza que pairava sobre o lugar.

A alma hesitou, mas aos poucos começou a compartilhar suas memórias, e logo outras almas se juntaram, revelando suas historias, seus medos e esperanças. Klaus e Theodore perceberam que, mesmo em suas breves interações, o ato de ceifar ia além da mera transição; era um reconhecimento das vidas passadas.

À medida que o sol se movia pelo céu, as almas iam sendo guiadas, cada uma levando consigo o peso e a liberdade de uma nova jornada. Com cada passagem, Klaus e Theodore sentiam que o peso de sua responsabilidade se tornava mais leve, não por menos importância, mas pela conexão estabelecida.

Ao final do dia, cercados pela penumbra, os dois amigos voltaram para a casa, exaustos, mas cheios de uma satisfação diferente. Haviam aprendido que até mesmo no ato de ceifar, havia espaço para empatia e amor.

"Foi mais profundo do que eu imaginava", Klaus comentou, jogando-se em uma cadeira ao lado da fogueira. "Talvez o que fazemos seja mais do que um trabalho. É um legado."

"Sim", Theodore respondeu, seu olhar perdido nas chamas. "E talvez tenhamos encontrado um novo significado para o que significa ser ceifador."

As estrelas começaram a brilhar no céu, e a floresta, testemunha silenciosa de suas jornadas, mantinha os segredos de mil almas, agora livres para seguir em frente.

𝑴𝒆𝒖𝒔 𝒄𝒆𝒊𝒇𝒂𝒅𝒐𝒓𝒆𝒔🗝Onde histórias criam vida. Descubra agora