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Lamine

Começo a correr no estacionamento do camp nou deixando minha mãe e keyne para trás.

-você come merda à colherada só pode- marina reclama quando eu esbarro nela tentando diminuir- olha aqui seu babaca, tá achando que pode me botar um chifre e ainda vir aqui querendo falar comigo, tinha que ser jogador não sei o que eu tinha na cabeça de confiar nessa laia- eu solto uma leve risada que logo disfarço quando ela fecha a cara.

- vamo começar que eu não te trai, tá achando que depois de tudo o que fiz para você eu ia te trair? Eu te dediquei uma eurocopa, fiz uma tatuagem para você depois de ter jurado que nunca faria uma tatuagem, te dediquei mil gols fiz mil e uma homenagens acha mesmo que iria trocar uma vida com você e trair a sua confiança por causa de uma piranha qualquer? Endoidou garota eu te amo você vai passar a vida comigo- solto tudo de repente e ela me olha debochada.

- aham. Você traiu minha confiança e quer que eu fale com você como se nada tivesse acontecido?

- me poupe garota, tá achando que eu ia te trair, te agradeço muito pelo tempo que passamos juntos eu te amo para caralho mas até me provarem que você realmente não me traiu eu quero que você tome bem no meio do seu cu.

Continuo andando pelo estacionamento com um nó no estômago. Marina me encara com aquela expressão dura, mas cheia de mágoa. Ela cruza os braços e bufa, como se estivesse prestes a explodir, mas ao mesmo tempo segurando uma tempestade por dentro.

- Eu não preciso de você me falando essas coisas, Lamine. Se você acha que pode simplesmente aparecer e me tratar assim, você não me conhece nem um pouco.

Sinto o sangue ferver e paro de andar, virando para ela, respirando fundo. Eu a amo, mas esse joguinho de desconfiança está me destruindo por dentro.

- Você sabe o que me dói, Marina? Que a gente chegou nesse ponto. Eu confiei em você, apostei tudo em nós dois. Eu queria que desse certo... mas se você acha que eu vou ficar aqui levando a culpa de uma coisa que eu não fiz, tá enganada.

Ela balança a cabeça, os olhos faiscando de raiva.

- Você sempre faz isso. Sempre joga as coisas de volta pra mim, como se você fosse o único que sofre aqui. Mas eu não sou burra, Lamine. Você acha que pode dizer que me ama e tudo se resolve? Palavras vazias não mudam nada.

Me aproximo, encaro Marina, sentindo o peso daquelas palavras. Palavras vazias? Será que tudo o que fiz foi tão insignificante assim?

- Se fosse tão vazio assim, Marina, você já teria ido embora. Mas sabe o que é? Você também sabe que a gente construiu algo. Pode até me odiar agora, mas lá no fundo, você sabe.

Ela aperta os lábios, desviando o olhar por um instante, como se não quisesse admitir. O silêncio entre nós parece um abismo, e eu sinto que, de algum jeito, estou caindo.

- Eu não vou implorar, Marina. Se você acha que não vale mais a pena... que seja. Mas eu sei o que sinto, e se você não consegue enxergar isso, talvez nunca tenha conseguido.

Dou um passo para trás, deixando as palavras no ar. Ela me olha, mas não diz nada. O eco da nossa discussão parece tomar conta do espaço, enquanto o Camp Nou se ergue ao fundo, um gigante silencioso.

Tudo que resta agora é o silêncio, e a decisão dela.

Marina

Eu assisto ele se afastar, o peso das palavras dele ainda ecoando na minha cabeça. Meu peito está apertado, mas a raiva ainda domina. Ele sempre faz isso, sempre consegue jogar tudo de volta para cima de mim, como se eu fosse a culpada, como se eu não tivesse o direito de duvidar, de questionar.

O pior de tudo é que ele está certo em uma coisa: se fosse tão vazio, eu já teria ido embora. Só que não é simples assim. Toda vez que penso em colocar um ponto final, lembro de tudo o que vivemos, de cada sacrifício, de cada momento em que ele parecia ser o único que me entendia de verdade.

Só que agora... agora parece que tem uma parede entre nós. Cada vez que olho para ele, vejo as dúvidas, as mentiras que acho que ele contou. E isso me consome por dentro.

Eu o vejo se afastando, mas não consigo me mover. É como se eu estivesse congelada, presa nesse limbo entre querer correr atrás e querer deixá-lo ir de vez. Ele sempre teve esse jeito impulsivo, dizendo as coisas na hora, sem pensar. E eu? Eu sou o oposto. Preciso processar tudo, entender os detalhes. Talvez seja por isso que a gente sempre acaba batendo de frente.

Mas a verdade é que, por mais que eu queira odiá-lo, não consigo. Porque eu sei que ele me ama. Só que amor não é suficiente quando a confiança está destruída.

Solto um suspiro pesado, tentando me recompor. Ele acha que eu deveria simplesmente acreditar nele, ignorar tudo o que sinto, todas as suspeitas que me atormentam. Ele não entende como é estar no meu lugar, com essa voz na minha cabeça me dizendo que ele pode ter me traído, que eu posso ser mais uma das que foram enganadas.

Mas aí eu me pergunto: será que estou me sabotando? Será que estou destruindo algo bom só por medo?

Minha cabeça está uma bagunça, e eu não sei o que fazer. Vejo Lamine já longe, quase sumindo de vista. O coração bate mais forte, uma parte de mim querendo correr atrás dele, gritar que ainda o amo, que ainda quero tentar. Mas outra parte... uma parte maior... me diz para ficar parada, para me proteger, para não deixar o orgulho ser pisoteado de novo.

O que eu faço agora?

Fico ali parada, no meio do estacionamento, com o Camp Nou ao fundo, como uma cena de um filme. Mas a verdade é que eu não sei como esse filme vai acabar.

Leal-Lamine YamalOnde histórias criam vida. Descubra agora